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Wálter Maierovitch

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Da Terceira Via ao Voto Útil. A importância da democracia

 Genial/Quaest, votos válidos: Lula 49% X Bolsonaro 38%  -  O Antagonista
Genial/Quaest, votos válidos: Lula 49% X Bolsonaro 38% Imagem: O Antagonista

Colunista do UOL

02/10/2022 04h00Atualizada em 04/10/2022 18h49

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Não tenho esfera de cristal, mas olhos de ver.

Nos bancos acadêmicos apreendi que na democracia, — como ensinava o constitucionalista italiano Giovanni Sartori —, o poder é do povo e ele comanda pelos seus representantes eleitos.

Os professores mostravam aos acadêmicos de Direito a fundamental frase de Abraham Lincoln: - a Democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo.

Nos regimes democráticos, a denominada "Terceira Via" é o caminho para, pela união de forças, se escapar à polarização política. Só que no Brasil, para esta eleição de 2022, a "Terceira Via" não passou de uma ideia.

Não temos, na verdade "Terceira Via", mas várias candidaturas apresentadas como alternativas à polarização, de diversos espectros ideológicos.

A chamada "Terceira Via" brasileira resumiu-se a uma idea impossível de ser viabilizada pela falta de convergência de forças. No caso, união a juntar a direita democrática, o centro direito e o centro esquerda.

À época da cogitação da tal "Terceira Via", a direita democrática, decepcionada com o presidente Jair Bolsonaro, não contava com quadros. E o oportunista Michel Temer desprezado.

A propósito, Temer faz tempo, queimou o filme quando presidente, embora finja não perceber. A conversa gravada com Joesley Batista seria um prato cheio numa campanha eleitoral. Sem esquecer do seu braço direito, Rodrigo Rocha Loures, com 500 mil reais, num troller percebido como tendo as digitais de corrupção de Temer.

O cogitado Luiz Felipe d´Ávila não contava com musculatura política a liderar uma Terceira Via. Era desconhecido dos eleitores. Aliás, como a "Terceira Via" naufragou, D´Ávila foi lançado candidato à presidência pelo partido Novo.

Por seu lado, o centro direita buscou lideranças, mas não encontrou ninguém.

A rejeição ao ex-governador tucano João Dória, de centro direita, o afastava da disputa, Sozinho, seu nome, entre os tucanos, mais dividia do que somava.

O partido de sigla MDB (Movimento Democrático Brasiiero) ficou descaracterizado. A sigla nada possui do seu glorioso e democrático passado de oposição à ditadura militar. Não tem mais líderes como antigamente. Atualmente, só tem caciques. Alguns deles a exalar odor de corrupção. A sigla interessa-se em obter benesses do poder. Boquinhas, como se diz no pooplar.. Seus membros de relevo portam apetite pantagruélico, como, numa imagem, estivessem acometidos pelo vermeTaenia solium, a popular solitária.

No centro esquerda, representada pela parte dos sociais democratas restantes no PSDB ( Partido da Social Democracia Brasileira), nome de peso inexistia para a Terceira Via. De se notar: para candidato o governo de São Paulo escolheu-se a um cristão novo, Rodrigo Garcia, transferido do direitista partido que tem como único dono o ex-prefeito Gilberto Kassab.

Enfim, a Terceira Via não vigou. Perdeu-se, pela falta de quadros à altura e foi para o espaço a meta original:, união de forças. Isso tudo como alternativa aos nomes de Bolsonaro e Lula. Virou um cada por si, como se nota das candidaturas de Simone Tebet, Felipe d´Ávila e Soraya Thronicke, esta uma aventureira em busca de protagonismo político nacional.

Ciro Gomes, de currículo impecáavel, inteligência e cultura invejáveis, com competência e experiência provadas, nunca foi cogitado como candidato da Terceira Via, pois considerado de esquerda.

A ausência de uma real Terceira Via serviu para aumentar a polarização entre Lula e Bolsonaro nesta corrida eleitoral de 2022. Na disputa, inverteram-se as posições de 2018, segundo mostram as pesquisas. Daí se falar ter Lula, diante da corrupção sentida, eleito Bolsonaro. Agora, pelo que fez e pelos indicativos fortes de corrupção do presidente e dos seus filhos políticos, Bolsonaro deverá perder.

Ambos, Lula e Bolsonaro, gozam de gigantescas rejeições.

Lula, sem programa de governo mostra continuar a manter crença democrática. Bolsonaro, como revelou no exercício do mandato, é um golpista, despreparado e insano. Seu plano golpista apoia-se nos discursos de urnas fraudáveis e suspeição (falta de isenção) do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O golpismo de Bolsonaro gerou, nos democratas, a necessidade de apoiar Lula.

Comparados, Lula é a única certeza da manutenção do Estado de Direito, do regime democrático e da vida republicana.

Até togas lúcidas, de passado imaculado, — como por exemplo os ministros Celso de Mello e Joaquim Barbosa, ambos ferrenhos guardiões da Constituição quando no Supremo Tribunal Federal —, sentiram a obrigação de declarar os seus votos em Lula. Outros ministros aposentados e respeitáveis, como Ayres Brito e Carlos Veloso, não esconderam as suas preocupações sobre a reeleição de Bolsonaro.

Com declaração de voto em favor de Bolsonaro, manifestou-se publicamente o ministro aposentado Marco Aurélio de Mello. Falou nas condenações criminais de Lula. Esqueceu, no entanto, a jurisprudência do Supremo que diz não gerar os casos de nulidades absolutas (os processos de Lula foram anulados) nenhum efeito. Ou seja, as condenações criminais, juridicamente nulas, são inexistentes, sem aptidão a gerar efeitos.

O mencionado voto útil, para muitos estudiosos, não se coaduna com o ideal de democracia. De tal sorte, os que assim pensam manterão os votos contra Bolsonaro e Lula, num primeiro turno. No segundo, votarão em Lula.

A grande vítima do difundido voto útil será o candidato Ciro Gomes, um democrata de esquerda, de longa vida política e incorruptível.

Num pano rápido, valerá a pena, hoje, dia das eleições, lembrar o iluminista francês Jean Jacques Rousseau. Para Rousseau, "o povo só é livre uma vez, quando se dirige a votar para a escolha dos seus representantes". É bom não esquecer disso e escolher bem os governantes, os representantes. Sem descuidar de votar em candidatos que respeitem a democracia.