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Wálter Maierovitch

REPORTAGEM

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Quem é o 'chefe dos chefes' de máfia italiana, preso após 30 anos de fuga

Matteo Messina Denaro - Divulgação/Policia Di Stato
Matteo Messina Denaro Imagem: Divulgação/Policia Di Stato

Colunista do UOL

16/01/2023 13h14

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Matteo Messina Denaro, capo dei capi (chefe dos chefes) da potente e transnacional Cosa Nostra Siciliana, foi preso hoje em uma clínica médica em Palermo. Denaro estava foragido desde 1993 —ou seja, há 30 anos.

Durante o período de fuga nunca tirou os pés da Sicília. Isso porque a Máfia controla territórios e mantém pressão social irresistível. Por medo, as pessoas silenciam. É a famosa "omertà", a "lei mafiosa do silêncio".

Sobre a "omertà", o jornalista e escritor Leonardo Sciascia a definiu como " solidariedade pelo medo".

O capo-máfia, nascido no ano de 1962, integrava a Cosa Nostra terrorista ("stragista"). Aquela que declarou guerra ao Estado italiano e saiu a explodir bombas por Roma, Florença e Milão e a matar. A Cosa Nostra terrorista era comandada pelo sanguinário Salvatore Totò Riina, outro que ficou foragido mais de 18 anos, também sem sair da Sicília.

Denaro era o braço direito de Riina e controlava a máfia da província de Trapani. Sua célula ("famiglia", no jargão mafioso) ficava na cidade de Castelveltrano.

Don Ciccio era o pai de Denaro. O velho Ciccio foi, em vida e durante anos, o capo condutor da antiga Máfia de Castelveltrano.

Na clínica Maddalena, onde foi preso ao sair, Denaro realizava tratamento terapêutico na seção de oncologia. Estava registrado com o nome falso de Bonafede.

Para especialistas no estudo do fenômeno mafioso siciliano, Denaro, com a prisão de Totò Riina em 15 de janeiro de 1993, assumiu o governo da Cosa Nostra.

Na hierarquia, o sucessor natural de Riina seria Bernardo Provenzano, mas este, também foragido há mais de 20 anos, era o teórico e não operacional da temporada da Máfia terrorista. Por isso, Denaro é apontado como sucessor de Riina.

Riina morreu em silêncio, como convinha a um grande chefe mafioso. Jamais confessou ou quis se beneficiar do direito premial. Denaro deve ter a mesma postura, pois filho de chefão que levava o título de "don" e discípulo de Riina.

Denaro esteve envolvido em atos terroristas em Roma e Florença, na guerra contra o estado nacional declarada por Riina. Teve responsabilidade nas mortes dos magistrados Giovanni Falcone e Paolo Borsellino, heróis da luta antimáfia e ambos dinamitados pela Cosa Nostra.

A prisão foi realizada por um grupo especial dos carabineiros (R.O.S). Os palermitanos saíram às ruas para comemorar o arresto do big boss.

Na Sicília ninguém esquece da morte do pequeno Giuseppe di Matteo, sequestrado pela Máfia em 23 de novembro de 1993. O menino era filho do mafioso Mario Santo Di Matteo.

O pai, Santo di Matteo, havia sido preso e se tornado colaborador da Justiça. O sequestro do pequeno Giuseppe tinha por objetivo forçar o pai a se retratar no Tribunal de Palermo e em audiência pública das delações conduzidas pelo Ministério Público.

Como o pai manteve a delação perante o Tribunal de Palermo, o menino foi estrangulado e o corpo dissolvido em ácido sulfúrico. Do sequestro (janeiro 1993) e do posterior assassinato (1996) de Giuseppe Di Mateo participou Denaro.

O menino Di Matteo foi sequestrado quando tinha 12 anos. Havia nascido em Palermo no dia 19 de janeiro de 1981. Permaneceu em cárcere privado três anos (janeiro de 1996).

O executor material do sequestro e do estrangulamento, com o corpo dissolvido em ácido, foi Giovanni Brusca, que se tornou colaborador de Justiça. Do sequestro participou Gaspare Spatuzza, o maior matador da história da Cosa Nostra siciliana.

No Brasil, sobre Matteo Messina Denaro e Gaspare Spatuzza temos duas obras traduzidas, ambas da professora Alessandra Dino e publicadas pela editora Unesp.