Wálter Maierovitch

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Opinião

Clima no Nobel da Paz era de bomba atômica, com nomes explosivos

O clima era de explosão de bomba atômica até no anúncio do Nobel da Paz deste ano.

É que, na lista dos concorrentes, estavam indicações incômodas, tóxicas para as imagens de Israel, China e Rússia.

Dentre os 286 concorrentes, ganhou o prêmio a organização pacifista Nihon Hidankyo, que luta pela abolição de armas nucleares, com inegável merecimento.

Na lista dos concorrentes, tivemos nomes exemplares e explosivos. Vamos a eles.

Nomes exemplares

Na bolsa especulativa sobre quem iria vencer o Nobel da Paz, ocupava o primeiro posto uma mulher de nome difícil de pronunciar, Suiatlama Tsiknoskaya.

Essa líder oposicionista na Bielorrússia vive no exílio e incomoda o ditador Aleksandr Lukashenko, no poder desde 1994.

Lukashenko é um fantoche nas mãos do presidente russo Vladimir Putin e, dentre inúmeros sabujismos, abrigou, em território da Bielorrússia, os mercenários da Wagner, usados na invasão da Ucrânia.

Ainda na bolsa de apostas, em segundo lugar e em disputa acirrada, estava a ativista chinesa Ilham Tohti, defensora dos direitos humanos do povo uigure, de aproximadamente 8,7 milhões de pessoas.

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Tohti luta pela independência desse povo e está condenada pela justiça da China à pena de prisão perpétua. Está em prisão faz dez anos.

Nomes explosivos

Com duas guerras em curso, uma de natureza defensiva causadora de mortes de civis inocentes e consumadora de crimes de guerra e contra a humanidade (Israel x Hamas), e outra de natureza expansionista e imperialista (Rússia X Ucrânia), surgiram nomes perturbadores a Israel e Rússia na lista de concorrentes ao Nobel da Paz:

1. Volodimir Zelensky

O presidente da Ucrânia representaria, caso tivesse sido escolhido, mais um registro negativo para a imagem Putin, com currículo de autocrata invasor e violador da soberania da Ucrânia.

Zelensky, com o Nobel nas mãos, passaria para a história dos heróis mundiais da resistência ao imperialismo. Aquele que representa a luta do Davi contra Golias, embora conte a Ucrânia com os apoios dos EUA, União Europeia e Otan.

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2. António Guterres

O secretário-geral das Nações Unidas foi recentemente considerado pelo estado de Israel "persona non grata".

Guterres, com posição firme em defesa dos palestinos civis mortos em decorrência dos bombardeios, pisou feio na bola com relação a Israel, devido à seguinte declaração reveladora de ter lado:

"É importante reconhecer também que os ataques do Hamas (referência ao terrorismo do 7 de outubro de 2023) não aconteceram do nada".

Com isso, justificou o terror e o legitimou.

3. UNRWA

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A UNRWA é uma agência de proteção a refugiados palestinos, criada em 1949 pela ONU, em face da criação do estado de Israel.

Trata-se de agência vital para a assistência humanitária e dedicada ao povo palestino.

Nasceu depois dos massacres da "nakba", decorrente da expulsão de palestinos na implantação do estado israelense.

A "nakba" provocou fuga dos palestinos para a Jordânia, Líbano, Síria, faixa geográfica de Gaza e Cisjordânia.

É certo que cerca de dez funcionários da UNRWA — uma agência de 13 mil colaboradores — colaboraram, ativa e comprovadamente, com o Hamas e a Jihad palestina. Gravíssima conduta criminosa. Os implicados foram partícipes no terrorismo do 7 de outubro de 2024.

Israel continua a sustentar, e exibe documentos, que o número de envolvidos da UNRWA é bem maior.

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A atuação, frise-se, envolveu funcionários isoladamente que se aproveitaram da omissão fiscalizatória. Eles macularam o nome da agência, mas não tornaram a UNRWA cúmplice, apoiadora, envolvida como parte.

A UNRWA, em Gaza, promove ensino em 183 escolas (Israel fala em doutrinação extremista pró-Hamas), mantém 22 estruturas médico-sanitárias a atender 3,4 milhões de palestinos por ano e 7 centros de assistência às mulheres palestinas, além de postos de arregimentação para trabalho.

Da exitosa experiência da UNRWA nasceu, ainda no âmbito de ONU, a agência geral para refugiados, com a sigla UNHCR, fundada em 1950.

Em razão do reprovável envolvimento de funcionários da UNRWA, o nome desta agência virou tóxico para figurar em lista do Nobel. Representava, segundo críticos, uma ofensa a Israel, com premiação por trágica omissão.

4. Corte de Justiça Internacional

Outro nome tóxico para Israel foi o da Corte Internacional de Justiça, conhecida por Tribunal de Haia.

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A Corte recebeu a acusação do governo da África do Sul contra Israel; por apropriação de terras palestinas e crime de genocídio.

O pedido está sendo processado e a Corte advertiu Israel para evitar o prosseguimento de bombardeamentos em Gaza, a não criar situação a poder caracterizar genocídio.

Pano rápido

A lista tóxica foi desprezada e o Nobel da Paz premiou a organização japonesa contra armas nucleares.

Veio em bom momento, ou seja, quando Israel cogita o bombardeamento de alguns sítios nucleares, em represália ao Irã — que despejou 200 mísseis sobre Israel.

A propósito, Israel não tem capacidade, sem auxílio dos EUA, para uma destruição total dos sítios nucleares iranianos.

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Enfim, assim caminha a humanidade e o Nobel da Paz representa um momento para reflexões e uma chamada motivadora para ações pacificadoras.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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