Wálter Maierovitch

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Opinião

O impacto e as consequências da morte do chefe do Hamas por Israel

Ontem, depois dos últimos exames realizados nas arcadas dentárias, confirmou-se a morte de Yahya Sinwar, ocorrida na quarta feira (16). Sinwar era líder máximo da hierarquia do Hamas.

Tão logo tomou conhecimento da morte, o presidente norte-americano, Joe Biden, saiu a falar do fim da guerra.

Lógico, Biden tem interesse na vitória eleitoral dos democratas, e conseguir a paz seria um trunfo na campanha de Kamala Harris. E Biden fecharia com chave de ouro o seu mandato.

Biden precipitou-se. Ele e seus assessores sabem das projetadas sete frentes de guerra abertas por Israel.

Elas não estão apenas na faixa geográfica de Gaza, mas espalhadas no Líbano, Iêmen e Irã.

Na verdade, Biden jogou pressão para cima do premiê israelense Benjamin Netanyahu, aproveitando-se do grande impacto decorrente da morte de Sinwar.

Reféns

Os norte-americanos enxergam a morte de Sinwar como a abertura de uma janela de oportunidade. Trabalham até com a revolta de muitos palestinos que o responsabilizam pela destruição de Gaza.

Atenção: por anos, e sem impedimento do governo Netanyahu, entravam no caixa do Hamas US$ 10 milhões mensais, doados pelo Qatar. Tratava-se de ajuda com finalidade humanitária, e não para a guerra.

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Na sua totalidade, o dinheiro não foi revertido em benfeitorias aos palestinos. A prioridade do Hamas sunita era armar-se para a guerra contra Israel, e o Irã, xiita, soube bem insuflar o ódio.

O irmão de Sinwar, que é construtor, encarregou-se da compra do material necessário e dirigiu a complexa obra resultante em redes de túneis, que a inteligência israelense não percebeu. Para isso, grande parte foi das doações do Qatar.

Para a oposição política, Netanyahu foi enganado ao acreditar que, com muito dinheiro, o Hamas não atacaria e continuaria a anuir com palestinos de Gaza atravessando diariamente a fronteira para trabalhar em Israel.

Com a morte de Sinwar, que detinha a ideia fixa de conquistar Israel para o território voltar à Palestina, sob governo do Hamas, o alívio veio junto com o receio da execução física dos 97 reféns, ainda vivos, pelos cálculos do governo Netanyahu.

Janela de oportunidade

Os norte-americanos querem a imediata costura de um acordo de cessar-fogo, com a pronta liberação dos 97 reféns.

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Para o governo Biden, a costura tem de ser rápida, antes que o Hamas, influenciado pelo Irã, elimine os reféns e os exiba como vingança. Não se afasta de cogitação o emprego do método terrorista e impactante do Estado Islâmico, ou seja, o filmado corte de cabeças.

Sem sucesso, os norte-americanos tentaram, com Netanyahu, a paralisação dos bombardeamentos, a partir desta sexta feira (18). O premiê israelense fez o contrário, e Gaza está sendo pesadamente bombardeada, com a população civil em risco.

Outra tentativa desejada por Biden, o cessar dos bombardeios em Beirute e no sul do Líbano, não recebeu aceitação.

Para rematar, Netanyahu avisou que a guerra "ainda não acabou".

Pura sorte

Sinwar esteve preso em Israel durante anos e, pelo acordo de troca de prisioneiros de 2011, foi posto em liberdade. Ingressou no Hamas em 2017 e, posteriormente, passou a comandar a força bélica do grupo.

A força militar do Hamas, composta por cerca de 40 mil homens espalhados por cinco brigadas, 24 batalhões e 120 companhias, está praticamente liquidada. Para os 007 do serviço secreto interno de Israel, o Shin Bet, há apenas um batalhão operante.

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Sinwar percebeu que a guerra estava perdida e começou a mudar de esconderijos. Espalhou, para despistar, o boato de que estava escondido nos túneis com muitos dos reféns israelenses.

Blefava. Por acaso, três cadetes em treinamento saíram em patrulha e passaram defronte ao prédio onde ele estava escondido.

O corpo de guarda de Sinwar viu a oportunidade de matá-los. Iniciaram disparos e acabaram mortos, incluindo Sinwar, que portava um fuzil.

Os cadetes tiveram apoio de um tanque blindado. O prédio foi destruído e o corpo de Sinwar, sem vida, permaneceu entre restos da construção.

Segundo informações dos 007 da inteligência ocidental, drones foram usados para detectar minas explosivas e, só depois, o corpo de Sinwar foi removido.

Amanhã incerto

Pela postura e pelas palavras de Netanyahu, a guerra só terminará com a liquidação do Hamas e do Hezbollah e o isolamento do Irã, que será atacado.

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Na história recente de Israel, o falecido Ariel Sharon, um militar paraquedista, comandou e combateu com violências e desumanidades. Na última etapa da sua vida, cedeu e percebeu a importância da paz. Teve um derrame cerebral e passou meses numa cama, vegetando.

Netanyahu, que não é militar e vive longe das atrocidades das guerras, não sabe a importância de se construir a paz. Ele só quer manter-se no poder, ainda que de braços dados com a ultradireita israelense e com estúpidos messiânicos.

Não conseguirá acabar com o Hamas. No momento, dois membros da cúpula estão ativos e protegidos, na Turquia e no Qatar.

Ainda que controle a faixa geográfica de Gaza, Netanyahu terá sempre, caso prorrogue os seus 13 anos de poder, que conviver com o que restar de duas organizações desejosas de apagar Israel do mapa.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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