Hezbollah prepara vingança com novo chefe e homem das sombras
Ensina a sabedoria popular que a vingança é um prato para se comer frio. Ou melhor, não no calor dos acontecimentos, dos conflitos e guerras. Não dá para esperar esfriar no Oriente Médio e entre as organizações terroristas mantidas pelo Irã em Gaza, Líbano, Iraque e Síria.
O Hezbollah, a milícia xiita que perdeu na sexta-feira (27) seu líder máximo, Hassan Nasrallah, sabe que precisa vingar-se rapidamente, segundo análise de informes colhidos pelos 007 da inteligência Ocidental e de Israel.
Entretanto, a infantaria da IDF (Forças de Defesa de Israel) já cruzou a linha azul de fronteira, no sul do Líbano —linha traçada em 2000 pelas ONU para marcar e pacificar a separação entre territórios nacionais.
Os capacetes azuis da ONU —soldados da força especial de paz, a Unifil (United Nations Force in Lebenon)— estão, no momento, num bunker de proteção, pois correm risco e a missão é de pacificação, e não de participação na guerra.
O ministro da defesa de Israel, Yoav Galland, já falou com a tropa, tão logo o Parlamento israelense deu autorização para uma operação militar "mirada" e "limitada" (com objetivo certo e determinado), e não uma ocupação permanente da fronteira sul do Líbano.
Procura-se assim, à luz do direito internacional, garantir-se com a tese da legítima defesa, para descaracterizar uma dolosa violação da soberania do Líbano. Embora sempre desmoralizado, o direito internacional, chamado direito das gentes, é usado quando interessa e para aparências.
O ataque de Israel
No ataque ao quartel-general do Hezbollah, na capital do Líbano, Beirute, Israel utilizou dois caças de modelo F-15. Numa diferença de 5 segundos, duas bombas penetrantes atingiram o QG.
Nasrallah presidia, no segundo subsolo, uma reunião com cerca de 20 chefes militares, e 15 deles faziam parte do vértice do governo. Todos morreram. Nasrallah, cujo corpo foi retirado inteiro dos destroços, teve como causa da morte a falta de oxigenação corporal: morreu sufocado, no meio do destruído edifício onde funcionava o QG do Hezbollah.
Para os especialistas em geoestratégia militar, o Hezbollah, por ordem de Nasrallah, passou a bombardear diariamente o norte de Israel, na região da Galileia, no dia seguinte ao ataque do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023.
Só que Nasrallah, autor de promessa pública de ataques diários com mísseis e morteiros ao norte de Israel que violou resolução da ONU e colocou em risco a força de paz (Unifil), errou em não prever penetrações de inteligência, pelo Mossad, o chamado serviço secreto externo do Estado da Estrela de David.
Com efeito, informações preciosas foram adquiridas pelo Mossad de modo a levar à descoberta do QG, das reuniões agendadas e dos deslocamentos.
Um experiente ex-comandante de um serviço de inteligência estrangeiro falou com este colunista na noite de domingo (29). Ressaltou que a morte em Teerã do "ministro de relações exteriores do Hamas", Ismail Haniyeh, era uma evidência de como o Mossad estava atuando com eficiência em campo.
Isso ficou mais acentuado em Beirute e a implicar em comprometimento de setores administrativos do Hezbollah, quando dos episódios dos pagers e walkie-talkies.
Parêntese. Informações em Beirute são dadas ou vendidas quando se notam fraquezas do Hezbollah. No domingo, agências internacionais de notícias falaram em contentamento, pelos sunitas, com a eliminação do líder Nasrallah, que estava há 32 anos no comando das milícias xiitas do Hezbollah. Fechado parêntese.
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Quero receberEm outras palavras, o experiente oficial de inteligência, que os europeus apelidam de 007, quis dizer ter o Hezbollah falhado em não prever retaliação aos bombardeios no norte de Israel, que provocaram êxodo estimado entre 40 mil e 80 mil israelenses. Aliás, que causaram pressões no premiê israelense Benjamin Netanyahu.
Novo líder e resposta urgente
Volto aos especialistas. Os espertos em geoestratégia e geopolítica e os operadores do direito internacional entendem, diante de um Hezbollah destroçado e humilhado, já haver sido costurado um plano de retaliações.
A propósito, até o sucessor de Nasrallah foi, dada a urgência, escolhido pelo Conselho da Shura, o órgão central de decisões do Hezbollah, também conhecido por Conselho da Jihad.
O escolhido foi Hashem Safieddini, de 59 anos. Ele é primo de Nasrallah. Não estava, por evidente, presente quando do ataque ao QG. Sempre teve papel político importante. É expoente religioso, como o primo Nasrallah, e viveu anos entre Teerã e Damasco.
O filho de Safieddini é casado com Zeinab Soleimani, filha do famoso general iraniano da força Quds Qassem Soleimani, morto pelos norte-americanos em janeiro de 2020.
Safieddini integra a lista de terroristas procurados pelos EUA.
Os supracitados especialistas concluem que há uma única saída no momento, dada a situação de precariedade e confusão. Essa saída seria por meio das chamadas operações clandestinas, nas sombras.
Para isso, o Hezbollah conta com Talal Hamiyah.
Talal Hamiyah, o homem das sombras
Talal comanda a Unidade 910, de operações clandestinas do Hezbollah. A CIA, a agência de inteligência dos Estados Unidos, chama a Unidade 910 de Black Unit.
Para se ter ideia da importância de Talal Hamiyah, que vive escondido e pouco é visto à luz do dia, os governos dos EUA e de Israel oferecem o prêmio de US$ 7 milhões pela sua cabeça.
Trata-se de um terrorista de US$ 7 milhões, ou seja, daqueles da lista dos mais perigosos do mundo.
Talal já passou pelo Brasil algumas vezes, mais especificamente por Foz do Iguaçu e a Tríplice Fronteira, onde infiltrou-se na comunidade libanesa.
O referido Talal esteve por aqui quando preparou os ataques terroristas à embaixada de Israel (1992) em Buenos Aires, resultando em 29 mortos. Teria usado nas rotas de ingresso e fuga o território brasileiro. E isso está em registros do Mossad e de um estranho informe da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), que até fala, sem prova, em antiga presença de Bin Laden na Tríplice Fronteira, isso ao tempo que lá mandava o libanês Fuad Jamil Georges, apelidado o Rei da Fronteira. Fuad era o homem que começou a cuidar da fronteira a mando da ditadura militar, em 1964.
Em 1994, Talal voltou a comandar em Buenos Aires um segundo ataque terrorista, desta vez à organização de benemerência judaica de razão social Amia. Foram mortas 85 pessoas.
Talal nasceu no vale libanês do Beqaa, hoje lugar de grande plantio de maconha, exportada pelo Oriente.
Para a CIA, ele esteve no comando do tentado e frustrado ataque terrorista ao aeroporto de Nova York. Obteve sucesso na explosão de ônibus com turistas judeus em visita à Bulgária em 2012.
As operações clandestinas são definidas, pelos serviços de inteligência, como amplas, desde sabotagem até a explosão de homens-bomba.
Elas contam sempre com a participação de voluntários que vivem nas chamadas "células dormentes", ou melhor, os voluntários da jihad, disponíveis quando acionados. A maior parte do tempo estão integrados e trabalham nas cidades onde vivem.
Talal é homem de destaque no Hezbollah e está sempre a trocar informações com o Irã, do qual recebe suporte financeiro e logístico.
Pano rápido
Num pano rápido, explosões poderão ocorrer em qualquer parte do mundo, dada a necessidade de o Hezbollah mostrar força e, também e por meio de ações espetaculares, poder criar material para realizar propaganda de terror e guerra.
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