Wálter Maierovitch

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Opinião

Justificativa de Netanyahu desmorona com ataques que matam civis inocentes

Os maus comportamentos não são recompensados com presentes. Essa regra, como acabou de acontecer, não vale para as guerras.

O governo de Israel acabou de receber de presente dos EUA um novo sistema antimísseis. Isso após as forças israelenses de terra terem, por três vezes, atacado postos da Unifil (Força Interina das Nações Unidas no Líbano), missão de paz da ONU. O último ataque ocorreu ontem (13) —não foi registrada nenhuma morte, mas, conforme noticiado, 15 capacetes azuis da ONU ficaram feridos.

Por mandato do Conselho de Segurança da ONU, a Unifil restou operacional no sul do Líbano em 1978. Sua tarefa, até o momento, consiste em contribuir para a estabilidade regional. A deliberação do Conselho de Segurança decorreu da então Guerra Civil Libanesa.

As Forças Armadas de Israel (IDF), para realizar ultrapassagem da linha azul pacificadora, traçada pelas Nações Unidas e contando do rio Litani, bombardearam, na semana passada, o quartel-general e bases da Unifil.

O presente de Biden

Como mencionei em colunas anteriores, o sistema antimíssil apelidado de "Domo de Ferro" foi violado em 32 pontos no ataque iraniano contra Israel por 200 mísseis. Um dos mísseis desgovernados atingiu a base militar israelense no deserto de Nevatim.

A "chuva de mísseis" consistiu em tática usada para confundir os radares e acabou demonstrando que o "Domo de Ferro" não é suficientemente hermético.

Não adianta a propaganda de guerra israelense ressaltar o fracasso dos iranianos com base no resultado de uma só morte e nos mísseis abatidos. Militarmente, o sistema mostrou-se vulnerável. Num futuro ataque iraniano, com aumento na concentração de mísseis, seria enorme o risco para a população israelense.

A vulnerabilidade desse sistema levou à sua troca rápida. Até porque Netanyahu prometeu promover represália, e o Irã, partir para a tréplica.

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O sistema presenteado pelos EUA é de última geração, e uma equipe técnica americana chegará a Israel para ministrar os treinamentos operacionais.

Razão do ataque à Unifil

Nesta segunda-feira (14), os ministros de relações exteriores dos Estados membros da União Europeia (UE) se reunirão em Luxemburgo para analisar as razões dos ataques ocorridos no QG da Unifil. E até para tentar assustar Netanyahu com proposta de suspensão de vendas de armas para Israel.

No encontro de Luxemburgo, ecoará a manifestação de indignação de Romano Prodi, respeitado político europeu da velha guarda.

Para Prodi, que já foi primeiro-ministro da Itália e tem folha de bons serviços prestados à ONU e à UE, Netanyahu, no ataque à Unifil, "passou do limite e, com isso, agrediu todo o mundo" .

O posicionamento das tropas da Unifil, em especial em Naqoura, onde está o seu QG, passou a representar impedimento ao avanço das tropas israelenses.

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Mais ainda, e segundo especialistas em geoestratégia militar, Israel pretendeu realizar operação denominada "alicate" para, com o fechamento das duas garras laterais do instrumento, obrigar as forças do Hezbollah a recuar. O recuo deixaria livre a zona usada pelo Hezbollah nos disparos de bombas e mísseis contra a Galileia, no norte de Israel.

Segundo Netanyahu, os capacetes azuis da Unifil estão sendo usados pelo Hezbollah como escudo. Pelo que se pode concluir, Netanyahu não pretende mudar essa rota de avanço simultâneo, pelas duas hastes do "alicate" espremedor.

Direito internacional

A chamada guerra de defesa não legitima o vale-tudo. No direito internacional, tudo tem um limite, em especial nas ações de legítima defesa. O excesso na legítima defesa a descaracteriza.

Mais ainda, as tropas de Israel não podem atacar as tropas da Unifil. Não há justificativa. A atuação de Israel representa puro ataque.

Atacar tropas de paz da ONU, segundo o direito internacional, tipifica crimes de guerra e contra a humanidade.

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Netanyahu quer, como se diz no popular, "tirar a Unifil da frente", em desrespeito ao direito internacional. Em outras palavras, não quer desviar, até para não mudar a estratégia preparada com antecipação.

Com efeito, na sexta-feira (11), a torre de observação do QG da Unifil foi derrubada, ferindo dois capacetes azuis indonésios. No domingo (13), dois tanques derrubaram os portões da base, e 15 capacetes azuis ficaram feridos.

O presidente Biden, em entrevista, disse ter pedido que Israel cesse os ataques à Unifil, por serem inadmissíveis.

A premiê italiana, Giorgia Meloni, foi a única a reprovar Netanyahu, em telefonema. E ela prometeu representar ao Conselho da Europa, com cúpula marcada para quinta (17) e sexta (18) sobre as agressões à Unifil.

Origem do conflito

Logo após o ataque terrorista do Hamas contra Israel, em 7 de outubro de 2023, com 1.200 judeus mortos e 240 israelenses levados como reféns, o Hezbollah, após entrevista do seu então líder, Hassan Nasrallah, avisou ao mundo que, em apoio ao Hamas, bombardeios diários ocorreriam no norte de Israel. Eles começaram em 18 de outubro, um dia após o terror do Hamas.

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Nasrallah cumpriu o prometido, o que levou cerca de 60 mil israelenses a deixar suas casas, em fuga para escapar das bombas disparadas pelo Hezbollah.

A legítima reação de Israel neste mês consistiu numa invasão territorial do sul do Líbano, dada como limitada e temporária.

Conforme anunciado, a meta de Israel seria o recuo do Hezbollah, de modo a impedir os disparos contra a região norte de Israel. Com isso, os 60 mil israelenses desalojados poderiam voltar para casa.

Atenção: além da ação no sul do Líbano, Israel promove ataques em Beirute, na região onde foi destruído o QG do Hezbollah, cuja cúpula de governo foi toda eliminada, incluindo o líder máximo Nasrallah e seu sobrinho e sucessor, dias depois.

Nos últimos pronunciamentos, Netanyahu aponta, com acerto, que a meta do Hamas e do Hezbollah é a eliminação dos judeus de Israel e do seu Estado nacional. E que o Irã financia, prepara e incentiva, dados os seus interesses imperialistas e religiosos no Oriente Médio, o terrorismo do Hamas e do Hezbollah.

A justificativa de Netanyahu, que invoca a guerra de defesa com base no artigo 51 da Carta Constitucional das Nações Unidas, desmoronou em face dos ataques geradores de mortes de civis inocentes, quer palestinos, quer libaneses. E não há justificativa legítima para atacar a forças de paz da Unifil.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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