Jato supostamente avaliado em US$ 50 milhões não é de Lulinha

É falsa a alegação, presente em uma montagem que voltou a circular no Facebook e no Whatsapp, de que um dos filhos de Lula, Fábio Luis Lula da Silva, o Lulinha, é dono de um avião avaliado em US$ 50 milhões. A aeronave em questão, modelo G-1159A Gulfstream III de prefixo N933PA, é usada em especulações ligadas a Lula e seu filho pelo menos desde 2013. Porém, não há nenhum registro de que esse jato tenha pertencido a qualquer membro da família – ela sempre foi propriedade de empresas com sede nos Estados Unidos.

A investigação feita pelo projeto Comprova teve como base o registro do prefixo do avião (código alfanumérico que identifica a nacionalidade de uma aeronave) nos bancos de dados de órgãos oficiais de aeronáutica e sites de registro de aviões e voos. De acordo com o registro da aeronave no site Flight Ware, o prefixo N933PA expirou e o número foi cancelado em 30 de junho de 2014. Na época, o jato pertencia ao Wells Fargo Bank Northwest Trustee, um administrador fiduciário. Nesse tipo de contrato, a empresa proprietária administra o título e o registro, mas não tem papel na operação ou no monitoramento da aeronave, a menos que seja instruída a fazer isso.

Antes disso, como registra o site PlaneLogger, a aeronave fabricada em 1983 pertenceu às seguintes empresas: Jet Aviation, Gulfstream Aerospace Corporation, Flo-Sun Aircraft, NSHE Peru e Executive Aircraft (2003 a 2010). Atualmente, a aeronave tem o prefixo N888SM e pertence à empresa TVPX Ars Inc Trustee, outro administrador fiduciário. O último voo da aeronave registrado foi entre Miami e West Palm Beach, nos Estados Undos, em outubro de 2014.

O valor de US$ 50 milhões que Lulinha (ou Lula, dependendo da versão) teria pagado pela aeronave está bem acima do que esse modelo valia em 2013 ou atualmente. O modelo G-1159A Gulfstream III, quando foi lançado originalmente, em 1980, custava US$ 37 milhões a unidade. No site Controller, dois G-1159A Gulfstream III estão à venda (com preço exposto), custando US$ 1,2 milhão e US$ 1,5 milhão. A página do fabricante conta com alguns modelos usados para vender, mas nenhum deles é o G-1159A Gulfstream III.

Em 2016, a Polícia Federal realizou uma perícia do patrimônio de Lulinha, à qual o projeto Comprova teve acesso. A conclusão da perícia é de que a evolução patrimonial foi compatível com as sobras financeiras e que não havia irregularidades nas movimentações.

A defesa de Lulinha informou que não deseja comentar o caso.

O material falso foi checado por veículos integrantes do projeto Comprova: “Jornal do Commercio”, “O Estado de S.Paulo”, “Rádio BandNews FM”, além do UOL e do jornal "O Povo".