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Uma iniciativa do UOL para checagem e esclarecimento de fatos


Marido de Marina não extraiu madeira ilegalmente em 2003 como sugere meme

Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Do UOL, em São Paulo

28/08/2018 15h39

É enganoso o meme, distribuído pelas redes sociais, que sugere que o marido de Marina Silva, candidata à presidência da República pela Rede, estaria envolvido em um caso de desmatamento e que não teria sido punido por sua ligação com a candidata, ministra do Meio Ambiente na época dos fatos. Há uma comparação desse caso com o de um homem punido por raspar a casca de uma árvore.

Este boato já circulou durante a campanha presidencial de 2014. A montagem compartilhada destaca a imagem de um homem idoso e de uma árvore raspada com a frase: "Crime ambiental, foi preso porque raspou a casca de uma árvore para fazer remédio para a esposa doente". Logo abaixo, está destacada a imagem de Marina e de seu marido Fábio Vaz de Lima e, ao lado deles, uma imagem aérea de uma madeireira. Acima das fotos, a frase: "Cortou 6 mil árvores ilegalmente da floresta, ficou solto porque é marido da ministra do Meio Ambiente" (sic).

A prisão de um homem por raspar árvore realmente ocorreu (leia mais abaixo), mas as informações sobre o marido de Marina Silva são falsas. O caso remonta a uma discussão que ocorreu em maio de 2011, em sessão do Senado que discutia o Código Florestal. Durante um debate, o então deputado pelo PCdoB Aldo Rebelo se irritou com uma provocação feita por Marina no Twitter, que criticava a apresentação de um texto com “novas pegadinhas, minutos antes da votação”. Rebelo foi à tribuna e rebateu a ex-ministra, lançando a acusação de que seu marido havia fraudado “contrabando de madeira”.

No dia seguinte, Marina convocou uma entrevista coletiva e afirmou que as acusações eram “levianas e infundadas”. O deputado também se manifestou, dizendo ter feito as declarações de cabeça quente e afirmando que ligaria para se desculpar.

Rebelo fez referência a uma investigação do TCU (Tribunal de Contas da União) de 2004. O órgão investigou a doação de quase seis mil toras de madeira clandestina apreendidas na Amazônia para a ONG Fase (Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional), por um convênio via Ibama. Em 2003, a Fase recebeu 5.731 toras de mogno.

A investigação se deu por divergências entre o valor real da madeira e o valor atribuído. O caso ocorreu durante a gestão de Marina Silva como ministra do Meio Ambiente - ela ocupou o cargo entre 2003 e 2008, durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, e enquanto ainda era filiada ao PT.

A ligação de Fábio Vaz de Lima com o caso é porque ele foi um dos fundadores do GTA (Grupo de Trabalho Amazônico), ao qual a ONG Fase era ligada. Em nota oficial de 2011, Marina explicou que o marido havia trabalhado no GTA de 1996 a 1999, quando deixou o grupo para trabalhar no governo do Acre, durante a gestão de Jorge Viana (PT).

Ainda em 2011, Marina pediu ao MPF (Ministério Público Federal) para investigar as acusações contra seu marido. A investigação não encontrou elementos sobre a denúncia e arquivou o processo. O então procurador-geral da República, Roberto Monteiro Gurgel Santos, assina a conclusão do procedimento administrativo, divulgada em 23 de julho de 2013.

“Quanto às acusações feitas contra Vaz de Lima, não há um único elemento que confira foros de verossimilhança aos fatos noticiados pela imprensa. Como disse a representante, à data em que assumiu o Ministério do Meio Ambiente o seu marido já não mantinha vínculos com as entidades que integram o Grupo de Trabalho Amazônico - GTA, não havendo a indicação de um fato concreto que o vincule à FASE na época em que foi feita a doação do mogno”, diz a decisão.

O site “Boatos.org” publicou um desmentido sobre outra versão deste boato em 2014. A própria candidata também publicou sua versão sobre o fato.

Em 2018, o boato voltou a circular por WhatsApp.

O material enganoso foi verificado agora pelo “Jornal do Commercio” e pela “Gazeta do Povo”, além de outro integrantes do projeto Comprova: “Folha de S.Paulo”, “revista piauí”, “SBT”, UOL, “Nexo” e "Poder360".

E o lavrador preso por raspar uma árvore?

Parte do meme conta uma história verdadeira: um homem realmente foi preso por raspar a casca de uma árvore para fazer um remédio para a esposa. No entanto, o projeto Comprova não encontrou registros que comprovem a autenticidade das imagens usadas na montagem.

O lavrador Josias Francisco dos Anjos, 55, foi preso por raspar uma árvore em 2000. Ele usaria a raspa para fazer chá para sua mulher, que sofria da doença de Chagas. O fato ocorreu em 19 de junho de 2000, e o lavrador foi preso em flagrante enquanto retirava lascas de almesca, em área de preservação ambiental em Planaltina (a 44 km de Brasília).

A prisão não durou uma semana pois o juiz da Vara Criminal de Planaltina (DF) Ademar Silva de Vasconcelos concedeu liberdade provisória ao lavrador, que saiu da prisão em 23 de junho daquele ano.

O Comprova é um projeto integrado por 40 veículos de imprensa brasileiros que descobre, investiga e explica informações suspeitas sobre políticas públicas, eleições presidenciais e a pandemia de covid-19 compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens. Envie sua sugestão de verificação pelo WhatsApp no número 11 97045 4984.