Para atacar vacina, vídeo manipula fala de presidente da Anvisa
É falso que o diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres, tenha dito que considera a vacinação contra a covid-19 um "risco sanitário grave", como tenta fazer crer um vídeo que muda o significado de uma entrevista dada por ele. As declarações de Barra Torres se referiam a uma medida provisória.
O vídeo manipula um trecho de uma entrevista dada por Barra Torres em 10 de fevereiro de 2021 à CNN Brasil. O conteúdo falso já havia circulado no começo do ano passado e voltou a aparecer em dezembro, mês em que a Anvisa autorizou a vacinação infantil contra a covid — tema que tem sido alvo de desinformação, como já mostrou o UOL Confere.
"Presidente da Anvisa admite que a população corre risco grave ao tomar a vacina. Ele declara que foi tirado pelo STF, o direito da Anvisa de analisar todos os dados necessários para a liberação da vacina. Isso quer dizer que ninguém sabe o que está tomando", dizem as publicações compartilhadas no Facebook, Twitter e Gettr.
Veja abaixo o que disse Barra Torres de verdade e entenda como a entrevista foi manipulada.
O que disse Barra Torres
No vídeo com a íntegra da entrevista, fica claro que o presidente da Anvisa não se referia à segurança das vacinas contra o novo coronavírus quando falou do "risco sanitário grave". Barra Torres falava de uma medida provisória que sujeitava a agência a conceder autorização a qualquer vacina aprovada por outros países em até cinco dias após a submissão do pedido.
Na versão não editada, Barra Torres responde a uma pergunta feita por Basilia Rodrigues, analista de política da CNN Brasil, que não apareceu nos trechos compartilhados nas redes sociais. A pergunta menciona claramente que o assunto da conversa era a medida provisória.
"Por que o senhor tem essa avaliação, de que a medida provisória tira então essa competência de análise da Anvisa? Você explicou isso para o presidente [Jair Bolsonaro]?", pergunta a jornalista.
"Sim, isso foi explicado ao senhor presidente e assessores, porque é o que está escrito. Está escrito no artigo 5º, logo na primeira sentença, lá diz: A Anvisa concederá autorização, então não há margem a mais nada. A Anvisa seria reduzida a uma atividade cartorial, uma atividade de conferência de documentos, um checklist, sem nenhuma análise de mérito", respondeu o presidente da agência.
Mais adiante na entrevista, a âncora Luciana Barreto faz uma pergunta a Barra Torres também deixando claro que o tema da conversa é a medida provisória.
"O risco desse artigo 5º [da medida provisória], que o senhor falou agora, da retirada de autonomia da Anvisa… Na prática, para a população, a gente corre algum risco?", perguntou a jornalista.
"Corre risco sanitário grave. Simples assim. Porque o fato de [o imunizante] estar aprovado ou registrado em outro país não necessariamente autoriza o uso no Brasil sem riscos. E é fácil de entender. Nós temos uma série de verificações que têm que ser feitas", responde o presidente da Anvisa, que em seguida detalha procedimentos feitos pela agência na avaliação de vacinas.
No dia 1º de março de 2021, Bolsonaro vetou o trecho da medida provisória que dava prazo de cinco dias para a Anvisa aprovar o uso emergencial de vacinas contra a covid-19.
Como a entrevista foi manipulada
O vídeo manipulado retira todas as referências que permitiriam ao espectador entender qual era de fato o tema da conversa — uma medida provisória sobre vacinas.
A versão editada omite a pergunta de Basilia Rodrigues, começando direto na resposta de Barra Torres, impedindo que o espectador entenda que o assunto é a medida provisória. Também fica de fora a parte da pergunta de Luciana Barreto que deixa claro o tema da entrevista.
Além disso, o vídeo manipulado é encerrado antes da mudança da legenda que aparece na parte de baixo da tela, de "Anvisa é contra 'conceder' autorização para vacina" para uma declaração de Barra Torres sobre a medida provisória ("Nosso desejo é que Bolsonaro vete a MP das vacinas").
O conteúdo falso também foi checado pelo AFP Checamos. A CNN Brasil já havia divulgado um desmentido sobre o vídeo em fevereiro do ano passado.
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