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Posts distorcem estudo sobre imunidade natural ao omitir defesa de vacinas

25.jan.2022 - Post distorce estudo sobre imunidade natural ao omitir defesa de vacinas - Arte/UOL sobre Reprodução/Facebook Carla Zambelli
25.jan.2022 - Post distorce estudo sobre imunidade natural ao omitir defesa de vacinas Imagem: Arte/UOL sobre Reprodução/Facebook Carla Zambelli

Letícia Mutchnik

Do UOL, em São Paulo

25/01/2022 15h04

Posts publicados no Facebook, Twitter e Instagram na última semana distorcem o conteúdo de um estudo do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças), órgão de saúde pública dos EUA, sobre a imunidade natural decorrente do contágio da covid-19.

Apesar de o artigo indicar que a proteção gerada pela doença foi superior, especificamente durante a onda da variante delta nos EUA, à das vacinas, o estudo reforça a importância da vacinação ao apontar que a proteção mais alta foi detectada entre aqueles que se vacinaram e tinham pegado covid.

A proteção vacinal diminuiu o risco da doença de quatro a seis vezes; a imunidade natural, em 15 a 30 vezes; e a dupla proteção (imunidade natural e vacina), em 20 a 32 vezes, informação que foi ignorada pelos autores dos posts.

As publicações também não dizem que a mesma pesquisa do CDC defende que a vacinação ainda é a forma mais segura de imunização contra o coronavírus.

O CDC também indica, em comunicado, a leitura de um outro estudo segundo o qual "com o aumento do tempo desde a infecção anterior, a vacinação oferece maior proteção contra a covid-19 em comparação com a infecção anterior sozinha, enfatizando a importância de estar em dia com a vacinação".

Outros pontos divulgados pelo CDC foram ignorados nos posts que destacaram a imunidade natural. São eles:

  • A análise foi feita entre maio e novembro de 2021, antes da detecção da variante ômicron, e as descobertas não se aplicam à atual onda de covid;

  • O estudo foi concluído antes da aplicação em massa de doses de reforço e, portanto, não reflete os benefícios da medida;

  • A pesquisa não incluiu "informações sobre a gravidade da infecção inicial e não reflete o risco de morbidade e mortalidade por infecção por covid-19".

Para o estudo do CDC foram compilados dados de infecção, hospitalização, testagem e imunização contra a variante delta nos estados norte-americanos de Nova Iorque e Califórnia, que representam quase 20% da população do país.

"Mais estudos são necessários para estabelecer a duração da proteção a partir de infecções anteriores por tipo de variante, gravidade e sintomatologia, inclusive para a variante ômicron", diz o artigo.

Vacina reduziu mortes

Também não existem pesquisas conclusivas sobre o tamanho da proteção oferecida contra a ômicron pelas vacinas disponíveis. No geral, os primeiros estudos indicam que os imunizantes fornecem algum grau de proteção contra a variante, mas reforços podem ser necessários (veja aqui o que já se sabe sobre a ômicron).

As vacinas não impedem que uma pessoa pegue covid, mas diminuem o risco de mortes e casos graves da doença. No caso do Brasil, o impacto da vacinação na queda de óbitos foi nítido.

No começo de dezembro, quando autoridades confirmaram os primeiros casos da ômicron por aqui, o Brasil tinha 63% da população totalmente vacinada e encerrado novembro com média móvel de mortes diárias inferior a 300, de acordo com dados estaduais reunidos pelo consórcio de veículos de imprensa do qual o UOL faz parte.

Quando o Brasil atingiu o pico de óbitos pela covid, no começo de abril do ano passado, com média de 3 mil mortes diárias, nem 5% da população tinha concluído o ciclo vacinal.

Bolsonaro e o discurso antivacina

O estudo foi compartilhado de forma distorcida por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) para defender posicionamentos anteriores do político a favor da contaminação pela covid como uma forma de imunização superior às vacinas. Um dos posts neste sentido foi feito pela deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) e teve mais de 4,6 mil compartilhamentos no Facebook.

Em outubro de 2021, por exemplo, o presidente vinha repetindo que não precisaria se vacinar contra a covid porque teve a doença e, por isso, teria mais anticorpos do que quem se vacinou.

No entanto, uma nota técnica publicada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em março desmentia a tese, alertando que ainda não havia "embasamento científico que correlacione a presença de anticorpos contra o SARS-Cov-2 [vírus da covid] com a proteção à reinfecção".

Como o próprio estudo do CDC sobre imunidade natural alerta, a vacinação ainda é a forma mais segura de se proteger contra a covid, pois o contágio pode ser fatal.

No mundo, mais de 5,5 milhões de pessoas morreram de covid, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). Só no Brasil, foram 623 mil vítimas, de acordo com o levantamento feito pelo consórcio de veículos de imprensa do qual o UOL faz parte.

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