Vídeo distorce fala de Dráuzio Varella sobre drogas e covid-19
Uma publicação no Facebook engana ao sugerir que o médico Drauzio Varella estimula o consumo de drogas por crianças e adolescentes e ao resgatar sem contexto um vídeo de janeiro de 2020 em que ele minimiza o poder de contaminação da covid-19. O médico, na verdade, sugere uma abordagem para que crianças e adolescentes não usem drogas. O vídeo sobre a covid-19 foi publicado quando a pandemia ainda não havia sido declarada, o que aconteceu em março de 2020 —o médico então admitiu o equívoco e seu discurso sobre a doença mudou.
O que diz a publicação? O vídeo que distorce as falas do médico é anunciado com a legenda "ESSE TERIA QUE SER PRESO". As imagens mostram Drauzio contando como acha que as crianças deveriam ser orientadas sobre drogas: "Tem que ensinar a criança, diga assim: 'droga é bom'". A fala é cortada e o apresentador do vídeo aparece em um estúdio dizendo em seguida: "Esse ordinário tinha que ser preso".
"Drauzio Varella, médico comentarista da Rede Globo. Esse foi o primeiro médico que disse em 2020 que a covid era uma gripezinha, que não dava nada,"
Após um novo corte, o vídeo mostra uma fala de Drauzio:
"De cada 100 pessoas que pegam o vírus, 80?"
O vídeo termina com o corte da fala.
Drauzio falou aquilo? Sim. As duas falas são verdadeiras, mas estão fora de contexto e foram editadas de forma distorcida.
O que o médico disse sobre drogas? Drauzio Varella falou sobre o uso da maconha durante entrevista ao podcast "Podpah", no dia 13 de julho. O médico disse que discorda da maneira como o assunto é abordado com crianças:
"Vejo as pessoas falando para crianças: 'Droga mata, você vai morrer'. Isso é mentira. Já viram alguém fumar um baseado e cair morto? Não existe isso? Aliás, se por fumar um baseado você pudesse morrer, acho que aqui não tinha ninguém vivo. Não estaria aqui, também, eu"
Drauzio sugeriu outra forma de ensinar crianças sobre o uso de entorpecentes:
"Você mente para a criança quando está falando isso. As drogas matam. Que drogas? As drogas são completamente diferentes umas das outras. Maconha não mata. Tem que ensinar a criança dizendo assim: 'Droga é bom'. Se não desse prazer, ninguém usava. Para que você jogaria fumaça no pulmão ou cheiraria pó se não tivesse prazer?"
Ele ainda afirma que o consumo na infância e adolescência compromete o desenvolvimento.
"Uma coisa é você ter 32 anos e fumar maconha. Outra coisa é um menino de 12, porque isso vai interferir na formação do sistema nervoso central. Isso pode ser um problema que ele pode carregar para o resto da vida. Então não podemos ser permissivos desse jeito"
Sobre a pandemia. O médico realmente gravou um vídeo em que minimiza o potencial da covid-19, publicado no site dele em 30 de janeiro, antes da OMS (Organização Mundial de Saúde) declarar que o mundo enfrentava uma pandemia e antes do primeiro caso da doença ser registrado no Brasil. Em março de 2020, a posição do médico mudou: o vídeo foi tirado do ar e novos materiais foram publicados no site, adaptados à nova realidade, reforçando a necessidade de cuidados contra o vírus e criticando quem minimizava seu poder de contaminação.
O primeiro vídeo. Na gravação de janeiro, o médico diz que vai continuar andando nas ruas apesar da propagação da covid-19.
"Claro, claro que vou. Não acho que se justifique qualquer mudança nos hábitos. (...) De cada 100 pessoas que pegam o vírus, 80, 90 pessoas têm um resfriadinho de nada".
As imagens viralizaram em março, após o presidente Jair Bolsonaro receber críticas por classificar a covid-19 como uma "gripezinha". A AFP Checamos verificou a informação na época. Naquele mês, o próprio site de Drauzio Varella publicou uma nota afirmando que a situação havia "mudado drasticamente" e que "orientações antigas" não valiam mais. O vídeo de janeiro foi retirado do ar.
"No início deste ano, a pandemia não havia chegado ao Brasil, portanto produzimos conteúdo para acalmar a população que, à época, não tinha motivos para alterar o ritmo de vida diário (o vídeo antigo que circula data de 30/01, quando a Itália tinha somente dois casos confirmados)."
Arrependimento. Em um vídeo gravado para seu site em 23 de março de 2020, o médico afirmou que naquele momento era irresponsável minimizar o poder do vírus. O médico ainda afirmou em uma live, em maio, que sentia remorso da declaração dada em janeiro.
Repercussão. A postagem, de 2 agosto, teve mais de 3,6 mil reações e 955 comentários até a manhã desta terça-feira (23).
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