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Falta de ar, xingamentos e Pix: mentiras de Bolsonaro em entrevista ao JN

22.ago.2022 - Bolsonaro em entrevista ao Jornal Nacional - Arte/UOL Confere sobre Reprodução/Rede Globo
22.ago.2022 - Bolsonaro em entrevista ao Jornal Nacional Imagem: Arte/UOL Confere sobre Reprodução/Rede Globo

Do UOL, em São Paulo

22/08/2022 23h28

O presidente Jair Bolsonaro (PL) mentiu em entrevista ao Jornal Nacional ao negar que houvesse xingado ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), ao falar sobre denúncia de fraude no sistema eleitoral, pandemia de covid-19 e criação do Pix.

A entrevista começou com o apresentador William Bonner mencionando o xingamento a ministros, negado na sequência pelo presidente apesar de registros públicos.

[Bonner]: Nós vamos começar a entrevista com um assunto que tem mobilizado os brasileiros. O senhor tem xingado ministros do Supremo Tribunal Federal, tem feito ataques, sem prova nenhuma, ao sistema eleitoral brasileiro, o senhor chegou inclusive a ameaçar não ter eleição no Brasil, como se coubesse ao senhor decidir uma coisa dessas. Candidato, com franqueza: o que é que o senhor pretende, ou o que é que o senhor pretendeu com isso?

[Bolsonaro]: Primeiro, você não está falando a verdade quando fala xingar ministros. Não existe. Isso não existe, é um fake news da sua parte.

Assista à fala do presidente no programa:

Bolsonaro, no entanto, xingou ministros publicamente em, pelo menos, duas ocasiões.

Primeiro alvo: Moraes. No dia 7 de setembro de 2021, em ato na Avenida Paulista, em São Paulo, Jair Bolsonaro chamou o ministro do STF —atual presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) —Alexandre de Moraes de "canalha".

"Sai, Alexandre de Moraes! Deixa de ser canalha! Deixa de oprimir o povo brasileiro!"

Assista:

Um mês depois: Barroso. No mês seguinte, em outubro, Bolsonaro também chamou o ministro do STF Luís Roberto Barroso —à época presidente do TSE— de "filho da p...".

"Aquele filho da p... ainda faz isso. Aquele filho da p... do Barroso", disse em agenda em Joinville (SC).

Bonner insistiu. Diante da negativa do presidente, Bonner insistiu na questão e Bolsonaro admitiu o xingamento a Moraes.

[Bonner]: Em nome da verdade, candidato: o senhor xingou um ministro do Supremo de canalha. O senhor fez isso com microfone...

[Jair Bolsonaro]: Sim.

Falta de ar

O presidente voltou a mentir ao negar que tivesse imitado alguém com falta de ar durante a pandemia ao ser questionado pela apresentadora Renata Vasconcellos. Ele ainda sugeriu que as imagens fossem exibidas.

[Vasconcellos]: Agora, candidato, sobre o seu comportamento com as frases que eu mencionei, imitando pacientes com falta de ar, muitos viram isso como sinal de falta de compaixão, falta...

[Jair Bolsonaro]: Eu queria que você botasse no ar essa... Eu imitando falta de ar. Realmente...

Bolsonaro imitou uma pessoa com asfixia publicamente ao menos duas vezes.

Em março de 2021, durante sua live semanal, o presidente fez o gesto para criticar seu ex-ministro da saúde Henrique Mandetta.

"Você segue a receita do ministro Mandetta, você vai para casa, quando tiver (gesto) com falta de ar, você vai para o hospital".

Assista:

Ele repetiu o gesto durante live em maio de 2021, ao voltar a criticar o ex-ministro:

"O Mandetta é aquele cara que condena a cloroquina e fala o quê pra você? Fica em casa. Quando você estiver sentindo falta de ar (imita), você vai para o hospital"

Nas duas ocasiões, Bolsonaro criticava Mandetta pela postura contra medicamentos sem eficácia contra a covid-19 (o chamado "tratamento precoce"), enquanto Bolsonaro os defendia.

Colapso em Manaus

"Em menos de 48 horas estavam chegando já cilindros lá em Manaus. Lá foi uma coisa atípica, anormal, que aconteceu de uma hora para outra. Menos de 48 horas, cilindros começaram a chegar em Manaus de alguns pontos do Brasil. Fizemos a nossa parte em Manaus"

Assista ao trecho:

Documento enviado pelo próprio Ministério da Saúde à CPI da Covid, do Senado Federal, indica que o governo federal soube do aumento da demanda por respiradores quase um mês antes da crise. Segundo o documento, a partir de 18 de dezembro de 2020, o estado do Amazonas solicitou 140 respiradores para aquele mês. No dia 2 de janeiro de 2021, o estado pediu mais 78 respiradores— totalizando uma demanda de 218 em apenas 16 dias.

Suposta fraude nas urnas eletrônicas

"Em 2018 houve uma denúncia de fraude e a senhora Rosa Weber determinou que fosse aberto o inquérito pela Polícia Federal para apurar fraude, que obviamente se houve fraude eu ganhei".
Jair Bolsonaro

O inquérito da Polícia Federal mencionado por Bolsonaro não apura fraude nas eleições de 2018, mas um ataque hacker ao sistema interno do TSE, sem relação com o resultado do pleito.

A investigação começou a partir de informações veiculadas pelo site Tecmundo, que recebeu conteúdo de um hacker anônimo que disse ter acessado o sistema do tribunal. Esse material foi então encaminhado ao TSE, que abriu uma sindicância para apurar a invasão e acionou a Polícia Federal, de acordo com o conteúdo do inquérito divulgado pelo próprio Bolsonaro nas redes sociais. O presidente é investigado pelo vazamento do inquérito.

Pix e bancos

Fizemos o Pix, tirando dinheiro dos banqueiros
Jair Bolsonaro

Bolsonaro não é o criador do Pix. Matéria do UOL revela que o Banco Central iniciou o processo de criação da plataforma de transferência instantânea em 2018, durante o governo Michel Temer. O presidente do BC na época era o economista Ilan Goldfajn. Em maio de 2018, cinco meses antes de Bolsonaro ser eleito, o BC criou um Grupo de Trabalho denominado "Pagamentos Instantâneos" para produzir as especificações do sistema que viria a ser o Pix.

Setor bancário é a favor do Pix. Em resposta ao UOL, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) afirmou que o Pix tem apoio e entusiasmo de todo o setor bancário. "Os números do Pix revelam o grande engajamento dos bancos: 21,5 bilhões de transações com R$11 trilhões de volume financeiro movimentado até julho de 2022 por mais de 131 milhões de pessoas físicas e jurídicas que já utilizaram o Pix por meio de 478 milhões de chaves cadastradas", justifica a instituição.

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