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Colocar fatia de limão no refrigerante não causa câncer

11.fev.2023 - É falso que acrescentar limão ao refrigerante no momento do consumo provoque reação que causa câncer, como diz nutricionista em publicação no Instagram - Arte/UOL Confere sobre Reprodução/instagram
11.fev.2023 - É falso que acrescentar limão ao refrigerante no momento do consumo provoque reação que causa câncer, como diz nutricionista em publicação no Instagram Imagem: Arte/UOL Confere sobre Reprodução/instagram

Do UOL, em São Paulo

11/02/2023 04h00

Vídeos e publicações nas redes sociais desinformam ao alardear riscos de consumidores acrescentarem fatias ou gotas de limão ou laranja a refrigerantes. O boato foi desmentido pelo Conselho Federal de Química.

Posts no Instagram, no Facebook e no TikTok afirmam falsamente que, quando o consumidor faz a combinação, provoca uma reação que gera uma substância chamada benzeno, que causa câncer.

O UOL Confere recebeu o pedido de checagem pelo WhatsApp (11) 97684-6049.

As condições em que a bebida é consumida (gelada e em curto intervalo de tempo) inviabilizam essa reação química, informa o conselho. As mensagens afirmam que a mistura do benzoato de cálcio, conservante presente nos refrigerantes, com o ácido ascórbico (a vitamina C do limão) causa uma reação que gera benzeno. O conselho nega que haja risco.

Para que o benzeno fosse gerado seriam necessárias condições muito específicas, que incluem pelo menos 12 horas de armazenamento em temperaturas superiores a 40°C ou com incidência intensa de luz solar/ultravioleta e presença de íons metálicos, como cobre e ferro, condição inexistente quando se pensa em beber um refrigerante."
Conselho Federal de Química

Um dos posts virais é da nutricionista Lidiane Reggiori, com registro no Conselho Federal de Nutrição. "Um simples ato de adicionar fatias de limão ao seu refrigerante pode desencadear mutações celulares seríssimas", diz o texto do post desinformativo. No vídeo da publicação, a nutricionista faz a afirmação falsa de que a reação que gera benzeno acontece "quando você coloca um limãozinho dentro da Coca Cola".

Procurada, Reggiori afirmou, após a publicação da matéria, que ainda que a reação que forma benzeno a partir do contato com a vitamina C dependa de fatores como tempo e calor, sabe-se que a substância está presente nos refrigerantes. "Então independente de adicionar o limão ou não a substância está lá!", disse em resposta enviada pelo perfil do Instagram, contradizendo o próprio post. O limite máximo permitido pela Anvisa e por outras agências de saúde, como a FDA, dos EUA, é de 5 mcg/l.

A nutricionista cita no vídeo o benzoato de cálcio. Mas o que está presente na composição da Coca-Cola é o benzoato de sódio, como informa o texto da mesma publicação. A empresa publicou uma nota em sua página oficial negando o boato (veja aqui). Também descartou qualquer risco à saúde, porque a reação que forma o benzeno "depende de condições muito específicas, além de um longo período". A empresa afirma ainda que busca minimizar a formação de benzeno no processo de produção e garantir que a quantidade esteja sempre abaixo do limite previsto pela Anvisa.

A publicação cita um texto acadêmico como forma de dar credibilidade à afirmação falsa. Mas o "Estudo da formação de benzeno em bebidas contendo o conservante benzoato de sódio", publicado pela revista Oswaldo Cruz, não faz qualquer menção ao acréscimo de frutas cítricas aos refrigerantes no momento do consumo (leia aqui). O que o texto aborda é a formação de benzeno na formulação, no processo de produção e nas condições de armazenamento das bebidas, além dos níveis de benzeno considerados aceitáveis pelas agências sanitárias. O UOL Confere procurou as pesquisadoras responsáveis pelo artigo, que não retornaram até a publicação da matéria.

O post falso também cita a Resolução Anvisa nº 65, de 29 de novembro de 2011, mas o texto aborda o uso de aditivos para fabricação de cervejas e não menciona nem benzoato de cálcio, nem ácido ascórbico (leia aqui). A postagem cita ainda um link para uma enciclopédia de substâncias química e outros dois links que não estão no ar.

A informação também foi checada pela Reuters Fact-Check.

Sugestões também podem ser enviadas para o email uolconfere@uol.com.br.

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