É falso que Moderna tenha fabricado vacinas contra covid em 2019
A Moderna não fabricou 100 mil doses de vacina contra covid-19 em 2019, como afirma falsamente uma publicação que circula nas redes sociais. A mentira se baseia em uma fala do CEO da companhia, Stéphane Bancel, durante o Fórum de Davos 2023, em que ele se refere, na verdade, ao total de vacinas produzidas naquele ano.
A vacina da Moderna só começou a ser produzida após a China apresentar o sequenciamento genético do novo coronavírus, em janeiro de 2020.
O pedido de checagem foi enviado por leitores do UOL Confere pelo WhatsApp (11) 97684-6049.
O que diz a publicação. Um tuíte de 6 de março afirma: "O CEO da Moderna, Stéphane Bancel, se apresentou e confessou que sua empresa fabricou 100.000 doses da vacina COVID-19 em 2019, antes mesmo do início da pandemia! É um escândalo de proporções épicas". A publicação tem 5.082 curtidas, 2.438 retuítes e 124 comentários.
O que diz Bancel. "Isso é totalmente incorreto", afirmou o executivo em resposta a um email da AFP em 9 de fevereiro deste ano (veja a checagem aqui, em inglês). "Eu disse que, em termos de volume, produzimos no total, em todos os nossos produtos em 2019, cerca de 100.000 doses... e que tivemos que escalar nossa fabricação para um bilhão de doses com a covid. Esse foi um grande desafio."
No relatório anual de 2022, Bancel afirma que as 100 mil doses de 2019 se referem a todas as vacinas da empresa (veja aqui).
O que mostra o vídeo. A postagem é acompanhada de um trecho de 58 segundos da transmissão da mesa "State of the Pandemic" [ou "Situação da Pandemia", em tradução livre], mediada pela repórter da Euronews Sasha Vakulina, em Davos.
A pergunta. A repórter aponta como foi "extraordinário" o processo de desenvolvimento de vacinas contra a covid-19 "em termos de rapidez" e questiona Bancel: "Como é o desenvolvimento, adoção e escalonamento da vacina, se tratando de diferentes variantes e subvariantes?".
A resposta. "A ótima notícia, comparando 2020 com onde estamos hoje, é a nossa capacidade de produção. Quando aconteceu a pandemia, a Moderna havia fabricado 100.000 doses em 2019, para o ano todo. Eu me lembro de entrar no escritório de produção e dizer 'Que tal fazermos 1 bilhão de doses ano que vem?'. Então eles me olharam e disseram 'O quê?'. E eu disse, 'Sim, nós precisamos fazer um bilhão de doses ano que vem, vai acontecer uma pandemia'. Temos sedes na Suíça e nos EUA e mostramos que conseguimos nos adaptar às variantes rapidamente" [em tradução livre do inglês].
O vídeo original da mesa na íntegra foi publicado pelo canal do Fórum de Davos 2023 no YouTube. A pergunta da repórter ao CEO da Moderna começa aos 9 minutos e 59 segundos do vídeo. Assista abaixo:
Cronologia da vacina da Moderna:
31 de dezembro de 2019. OMS é alertada sobre casos de pneumonia desconhecida em Wuhan (veja aqui).
11 de janeiro de 2020. Autoridades chinesas compartilham a sequência genética do novo coronavírus (veja aqui, em inglês). No mesmo dia, foi confirmada a primeira morte pelo vírus (veja aqui).
13 de janeiro de 2020. NIH (Instituto Nacional de Saúde dos EUA) e equipe de pesquisa de doenças infecciosas da Moderna concluem a sequência do mRNA-1273, vacina da empresa contra o novo coronavírus. O sequenciamento levou dois dias para ficar pronto; a Moderna pesquisa o uso de mRNA para fabricar imunizantes desde 2011 (veja aqui, em inglês).
7 de fevereiro de 2020. Primeiro lote de vacinas destinado para a primeira fase de testes fica pronto, 25 dias depois do sequenciamento (veja aqui, em inglês).
Não havia, portanto, vacinas contra covid produzidas pela empresa em 2019.
16 de março de 2020. Primeira dose da primeira fase de testes é aplicada (veja aqui, em inglês).
18 de dezembro. Uso emergencial da vacina é aprovado pela FDA (Food and Drug Administration), agência reguladora americana (veja aqui, em inglês).
O UOL Confere tentou contato com a Moderna, mas não teve resposta.
O mesmo conteúdo já foi desmentido pela AP News (veja aqui, em inglês), Reuters (veja aqui, em inglês), Health Feedback (veja aqui, em inglês), AFP (veja aqui, em inglês) e Boatos.org (aqui).
Pedidos de checagem também são recebidos pelo email uolconfere@uol.com.br.
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