Anvisa não reconheceu que vacinas contra covid são risco a crianças
É falso que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) tenha reconhecido que as vacinas contra a covid-19 são um risco para as crianças. Postagens que circulam nas redes sociais editam, tiram de contexto e invertem a ordem de falas da diretora do órgão Meiruze Sousa Freitas, feitas em 2021.
A Anvisa observou, em nota ao UOL Confere, que a diretora fez recomendações ao Ministério da Saúde quanto à aplicação do imunizante para crianças. Porém, não tinham que ser seguidas de forma obrigatória. Parte dessas recomendações não são mais consideradas válidas. Além disso, a Agência observou que reações adversas graves à vacina são consideradas baixas.
O que diz o post
Vídeos compartilhados no Instagram mostram uma fala de Meiruze. Nela, a diretora da Anvisa diz o seguinte: "Que as crianças sejam acolhidas e permaneçam no local em que a vacinação ocorrer por pelo menos 20 minutos após a aplicação, vacinação, facilitando que sejam observadas durante esse breve período. Que os pais ou responsáveis sejam orientados a procurar um médico se a criança apresentar dores repentinas no peito, faltar de ar ou palpitações após a aplicação da vacina. Que os centros, os postos de saúde e os hospitais infantis estejam atentos e treinados para atender e captar eventuais reações adversas em crianças de 5 a 11 anos, após tomar a vacina. Esse é o alerta que a Anvisa traz nesse momento. Lembro, por fim, que não sabemos ainda quanto tempo dura a proteção de vacina contra a covid-19, que a sala em que se dará a aplicação de vacinas contra a covid-19 em crianças de 5 a 11 anos seja exclusiva para a aplicação dessa vacina, não sendo aproveitada para a aplicação de outras vacinas, ainda que pediátricas. Que a vacina covid-19 não seja aplicada concomitante com outras vacinas do calendário infantil, por precaução, sendo recomendado intervalo de 15 dias. Que seja evitado a vacinação de crianças de 5 a 11 anos em postos de vacinação modalidade...".
Sobreposta à imagem, é colocada uma série de pequenos textos: "Tem riscos, ligue o som", "Anvisa reconhece que vacinas são um risco para crianças", "ATENÇÃO PAIS AOS EVENTOS ADVERSOS DA 'VACINA' COVID INFANTIL, PFIZER INFANTIL Riscos de miocardite e pericardite" e "Isso não faz sentido, vacinas para correr para o hospital, vcs estão loucos governo de imposições abusivas. SOS SOS".
Por que é falso
Vídeo é de 16 de dezembro de 2021. Na época, a Anvisa anunciou a aprovação da vacina Comirnaty, da Pfizer, para ser aplicada em crianças de 5 a 11 anos no Brasil.
Postagens editam e tiram de contexto as falas de Meiruze Sousa Freitas (veja aqui ou abaixo a partir de 46 minutos). O vídeo usado na publicação desinformativa é formado por sete trechos da fala da diretora da Anvisa e as frases ditas entre eles foram suprimidas. Nelas, há recomendações para os profissionais da saúde transmitirem para os pais e responsáveis, como mostrar o frasco do imunizante e seringa e detalhar possíveis sintomas que possam surgir após a aplicação. Além disso, Meiruze orienta que o Ministério da Saúde siga com os estudos de efetividade das vacinas para a faixa de 5 a 11 anos, além de considerar outros imunizantes no mercado.
Ordem das frases foi alterada. Dois trechos foram colocados no final da montagem, mas, na verdade, foram ditos antes. Além disso, uma parte entre elas foi removida. Veja abaixo (em destaque o trecho suprimido) ou no vídeo (entre 57min51seg e 58min43seg):
(...) que a sala em que se dará a aplicação de vacinas contra a covid-19 em crianças de 5 a 11 anos seja exclusiva para a aplicação dessa vacina, não sendo aproveitada para a aplicação de outras vacinas, ainda que pediátricas. Não havendo a disponibilidade na infraestrutura para essa separação que sejam adotadas todas as medidas para evitar o erro de vacinação. Que a vacina covid-19 não seja aplicada concomitante com outras vacinas do calendário infantil, por precaução, sendo recomendado intervalo de 15 dias. Que seja evitado a vacinação de crianças de 5 a 11 anos em postos de vacinação modalidade drive-thru. (...) Meiruze Sousa Freitas, diretora da Anvisa, em declaração em dezembro de 2021
Início da fala da diretora também foi cortado. No trecho, de cerca de 10 minutos, Meiruze explica que a grande maioria dos eventos adversos após vacinação ocorreram por erros de aplicação do produto, como uso de doses para outras faixas etárias ou preparação fora das recomendações. Por conta disso, ela orientou que a imunização de crianças e adolescentes de 5 a 11 anos só deveria ocorrer após o "treinamento completo das equipes de saúde". Ainda na fala inicial, a diretora da Anvisa observou que outros países, como os Estados Unidos, aprovaram o uso da vacina para essa faixa etária.
Diretora da Anvisa fez na época recomendações ao Ministério da Saúde, mas que não precisavam ser seguidas de forma obrigatória, observa a Anvisa em nota ao UOL Confere. A agência observou que as orientações foram embasadas em conhecimentos que se tinham no momento e "apenas tiveram os objetivos de auxiliar os gestores de saúde e de evitar erros na aplicação de uma vacina nova", reforçou a Anvisa.
As recomendações foram emitidas pela Anvisa, guiada pelo princípio da precaução em dezembro de 2021, especialmente, porque naquele ano tivemos no Brasil, casos de erro de aplicação envolvendo crianças, como a troca na hora da aplicação de vacina da gripe, por uma vacina contra a covid-19 que ainda não estava aprovada para uso infantil. Anvisa, em nota
Parte das recomendações ditas por Meiruze não está mais válida, como é o caso de aplicar outras vacinas junto com a da covid-19 infantil. Conforme a Anvisa, as bulas dos imunizantes pediátricos contra o coronavírus aprovados pela Agência não restringe a aplicação em conjunto com outras vacinas pediátricas.
Vacinas contra a covid-19 não representam riscos para a saúde das crianças, salienta a Anvisa. Em nota ao UOL Confere, a Agência ressaltou que "estabelece normativas técnicas para a aplicação de qualquer vacina a ser aplicada na população brasileira, não somente a vacina contra a covid-19". A Anvisa observou ainda que a imunização de crianças e adolescentes é recomendada pela SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) e pela Academia Americana de Pediatria (veja aqui - em inglês).
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Quero receberReações adversas graves - como miocardite e pericardite - devido à aplicação da vacina são baixas, segundo a Pizer e Anvisa (aqui). A farmacêutica observou que menos de 0,01% dos pacientes tiveram complicações por uso da Cominarty (aqui). Já a Anvisa salientou que "a recomendação é pela continuidade da vacinação, uma vez que, até o momento, os benefícios dessas vacinas superam os riscos" de eventuais efeitos adversos graves. A agência observou ainda que os efeitos adversos "são leves, temporários e semelhantes aos experimentados após outras vacinas de rotina".
Aprovação de imunizante da Pfizer passou por critérios rigorosos de testagens (aqui), como é feito com outras vacinas para garantir a eficácia e segurança no tratamento de doenças.
Vacinação contra a covid reduziu a mortalidade infantil, observa a Anvisa. Além disso, a aplicação do imunizante em crianças e adolescentes teve eficácia de quase 90% segundo a Fiocruz em nota de 22 de janeiro de 2024 (aqui).
Viralização. As postagens continham, nesta quinta-feira (25), 64 mil visualizações, 3,8 mil curtidas, 562 comentários e sete mil compartilhamentos no Instagram.
Este conteúdo também foi checado pelo Estadão Verifica (aqui).
Sugestões de checagens podem ser enviadas para o WhatsApp (11) 97684-6049 ou para o email uolconfere@uol.com.br.
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