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Defesa Civil afirma que não trabalha mais com possibilidade de achar sobreviventes

Fabíola Ortiz

Do UOL, no Rio

27/01/2012 16h53Atualizada em 27/01/2012 17h36

A Defesa Civil afirma que não trabalha mais com a possibilidade de encontrar sobreviventes no desabamento de três prédios no centro do Rio de Janeiro, ocorrido na noite de quarta-feira (25).

Em entrevista coletiva no final da tarde desta sexta-feira (27), o secretário estadual de Defesa Civil, coronel Sérgio Simões, foi questionado sobre a possibilidade de ainda encontrar alguém com vida. "Somos sempre movidos [por essa esperança de encontrar alguém com vida], mas em razão do cenário e pelo tempo que passou, a gente não trabalha mais com a possibilidade de sobreviventes."

 

Nesta tarde, as equipes de resgate chegaram ao que acreditam ser o local onde estaria a maioria dos desaparecidos. “Conseguimos finalmente chegar na parte onde achávamos que teria o maior número de corpos. A nossa expectativa é que haja um número maior de corpos nesse espaço”, disse Simões, se referindo à sala onde funcionários de uma empresa estariam passando por um treinamento em informática no horário do acidente.

Segundo Simões, os corpos estão sendo encontrados perto de uma escada. “Todos os corpos estão próximos da escada. Isso nos faz pensar que as pessoas tentaram sair e que o prédio deu sinais de desabamento.”

Os trabalhos devem continuar até a manhã de domingo, segundo cálculos da Defesa Civil.

As equipes de socorro, comandadas pelo Grupamento de Busca e Salvamento (GBS) do Corpo de Bombeiros com o apoio da Defesa Civil e da Polícia Militar, intensificaram hoje o trabalho de busca por mais vítimas, já que ainda há cerca de 15 desaparecidos. Cães farejadores ajudam nos resgates. As dificuldades, segundo os bombeiros, são geradas principalmente pela nuvem de poeira que ainda é intensa no local.

Até o momento, foram identificados seis corpos no Instituto Médico Legal --três homens e três mulheres: Celso Renato Braga Cabral, 44, Cornélio Ribeiro Lopes, 73, o porteiro de um dos edifícios, sua mulher, Margarida Vieira de Carvalho, 65, Nilson de Assunção Ferreira, 50, Alessandra Alves Lima, 29, e Elenice Consani Quedas, 64.


Familiares não perdem a esperança

No começo da tarde de hoje, parentes e amigos de pessoas desaparecidas diziam ainda manter as esperanças de encontrá-las com vida.

As famílias acompanham de perto as operações de socorro. A maioria está abrigada na Câmara de Vereadores, cujo prédio é próximo ao local onde ocorreu o acidente.

“Está todo mundo preocupado e nervoso. Mas esperanças a gente sempre tem. A gente teve informações de que acharam mais bolsões [áreas sob os escombros nas quais pode haver sobreviventes]. É bem provável que as pessoas estejam por lá”, disse César Vasconcelos, de 41 anos.

Ele é irmão de Luiz Vasconcelos, de 40 anos, um dos desaparecidos. César trabalha no centro de informática, no 4º andar do prédio de 20 andares que desabou.

Segundo ele, a expectativa de encontrar o irmão com vida é porque um desses “bolsões” fica perto da escada de incêndio. “Se houve algum sinal ou estrondo, pode ser que tenha dado tempo de o pessoal correr para a escada de incêndio e que ainda esteja por lá esperando”, acrescentou César.

Para preservar os parentes e amigos das vítimas, a prefeitura está mantendo todos em uma área reservada na Câmara de Vereadores. Quando há informações sobre a localização de uma vítima, eles são chamados.

No caso de um corpo localizado, as pessoas são levadas, no carro da Secretaria Municipal de Assistência Social, a um local específico do Instituto Médico-Legal (IML) para identificá-lo. Para dar suporte psicológico aos parentes e amigos das vítimas, um profissional é colocado à disposição das famílias.

Reforma é vista como possível causa

Questionado sobre as possíveis causas do desabamento em série, Paes afirmou ontem que ainda não é possível dar "respostas definitivas", porém descartou totalmente a hipótese de explosão por vazamento de gás. "A possibilidade de explosão é quase igual a zero, sendo o zero por minha conta", disse.

"Estamos compilando as informações fornecidas pelos profissionais que estiveram no local, e tudo será checado antes de que tenhamos uma resposta definitiva. Ninguém sabe responder ainda se foi por dano estrutural ou algo do tipo. São várias hipóteses que serão estudadas e analisadas", afirmou.

  • Imagem de 18.jan.2011 (esquerda) mostra local dos prédios (em vermelho) que desabaram no centro do Rio de Janeiro no dia 26.jan.2012 (direita)

"Não é normal que três prédios desmoronem no centro do Rio de Janeiro. Não podemos achar que isso é normal. Vamos avaliar a situação geral dos prédios do centro assim que isso tudo passar", completou o prefeito.

De acordo com Paes, a Polícia Civil já está investigando as circunstâncias do desastre. As diligências serão conduzidas pela 5ª Delegacia de Polícia (Mem de Sá), e os mesmos investigadores que trabalharam no caso da explosão do restaurante Filé Carioca, em outubro do ano passado, vão tentar identificar as causas da tragédia de ontem.

"Trinta minutos depois do acidente, a Polícia Civil já estava lá colhendo depoimentos e investigando. Tudo será checado através do trabalho de perícia", explicou.

A suspeita mais provável, segundo os investigadores, é que houve colapso na estrutura do prédio mais alto, devido a falhas em uma reforma feita em um dos andares, onde funcionava uma empresa de informática. A desconfiança é que a reforma, que ocorria há dois meses, levou à retirada de vigas de sustentação, ameaçando a estrutura do prédio. Os dois edifícios que estavam ao lado acabaram sendo atingidos pela força da primeira queda, segundo investigações preliminares.  

Crea diz que obras eram irregulares

O presidente da Comissão de Análise e Prevenção de Acidentes do Conselho Regional de Engenharia (Crea), Luiz Antonio Cosenza, confirmou que estavam sendo realizadas obras no terceiro e no nono andar do edifício Liberdade. Já o engenheiro civil Antônio Eulálio Pedrosa Araújo, consultor do Crea, afirmou ainda que as obras eram ilegais, pois não tinham autorização do conselho.

“Quando o elevador abria no terceiro andar, era possível ver as colunas do prédio sendo marteladas. Eles estavam quebrando tudo”, relembra Teresa Andrade, sócia da empresa BV Cred, correspondente do banco Votorantim, que ficava no 16º andar do prédio. Ela trabalhava no local há três anos e diz que a reforma no terceiro andar acontecia havia seis meses.

(Com Agência Brasil)

Veja o local onde desabaram os prédios no centro do Rio