Manutenção diária do Hopi Hari não seguia manual de instrução dos brinquedos, diz promotora
A checagem e manutenção dos brinquedos do Hopi Hari, feita todos os dias entre as 5h e as 10h, antes do parque abrir para o público, era “falha” e não seguia determinações do manual de instrução de cada atração, de acordo com a promotora Ana Beatriz Sampaio Silva Vieira, do Ministério Público de Vinhedo (SP), onde fica o parque. O Hopi Hari, que está fechado desde o dia 2 devido ao acidente com a adolescente Gabriela Nichimura, 14, que morreu ao cair do brinquedo La Tour Eiffel em 24 de fevereiro, será reaberto no próximo domingo (25).
“O check-list diário de manutenção, um documento elaborado pelo parque que o profissional de manutenção tem em mãos todos os dias, não contempla todas as exigências que deveria contemplar, tal como manda o manual do fabricante. Por exemplo, consta do check-list verificar o torque do parafuso, mas não consta qual é o torque desejado, ou seja, qual é o torque que o parafuso deve atingir para que o brinquedo seja considerado seguro”, disse a promotora em entrevista coletiva nesta sexta-feira (23). Segundo ela, isso acontecia na maioria dos brinquedos. Procurado, o parque informou que não vai comentar as declarações da promotora.
O MP e o Hopi Hari assinaram ontem (22) um segundo TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) para que, após 20 dias de vistorias a portas fechadas, o parque pudesse ser reaberto. Nesse novo TAC, o MP dá um prazo de 120 dias para que o Hopi Hari inclua nos documentos de check-list todos os parâmetros de aferição estabelecidos nos manuais de instrução de cada brinquedo, entre outras exigências.
De acordo com a promotora, no período em que o parque ficou fechado foram vistoriados 14 brinquedos, além do La Tour Eiffel. Ela diz que o Hopi Hari tem um total de 31 brinquedos (entre 50 atrações), mas que 12 estão fechados (para conclusão de projeto, reforma, etc) e que outros cinco “que não oferecem risco” foram vistoriados por uma empresa alemã de consultoria contratada pelo parque. A promotora garantiu que o local está apto para receber os visitantes com segurança neste fim de semana.
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O parque será reaberto no domingo, mas dois brinquedos estarão interditados para melhorias e adequações, além do La Tour Eiffel: o West River Hotel e o Simulakron. Segundo a promotora, o Simulakron, uma espécie de cinema no escuro com cadeiras que chacoalham, precisará de um sistema de monitoramento de vídeo por meio de câmera infravermelha, já que o usuário tem autonomia para se soltar do cinto. De qualquer forma, o parque tem 30 dias para questionar o fabricante do Simulakron sobre a possibilidade de instalação de dispositivo que não permita o início ou a continuação da operação caso o cinto de segurança não esteja ativado.
Já o West River Hotel, uma espécie de trem-fantasma, deverá se adequar a normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). “As rotas de fuga não estão devidamente sinalizadas. Há, por exemplo, portas obstruídas e sinalização incompleta”, disse a promotora. “Em uma eventual parada dos trens ou pane no sistema, o usuário poderia se ver obrigado a andar sobre trilhos energizados”, completou.
Embora tenha detectado que as montanhas-russas Montezum e Vurang funcionam mesmo que alguma trava de segurança esteja aberta, o MP entendeu que esses dois brinquedos não precisam ser interditados, mas determinou que a checagem da trava seja feita duas vezes pelos operadores. “Também determinamos que essa informação seja passada ao visitante”, disse a promotora. O MP exigiu ainda que o Hopi Hari consulte os fabricantes das montanhas-russas sobre a possibilidade de instalar um dispositivo que impeça o início da operação caso as travas não estejam corretamente posicionadas, mas, segundo a promotora, não há lei que obrigue o parque a instalar dispositivo do tipo. “Infelizmente estamos diante de um vácuo legislativo”, afirmou.
Reforma no La Tour Eiffel
No primeiro TAC assinado com o Hopi Hari, o MP determinou a reforma ou a retirada da estrutura de metal do brinquedo La Tour Eiffel, que imita a torre de Paris. De acordo com a promotora Ana Beatriz, a cadeira em que estava Gabriela não era usada justamente porque, segundo o parque, ficava muito próxima à estrutura de metal, e uma pessoa mais alta poderia, eventualmente, bater a ponta dos pés contra a estrutura. “A estrutura invadiu a chamada ‘área de segurança’ do brinquedo justamente no ponto daquela cadeira.”
Com isso, o brinquedo La Tour Eiffel continua interditado por tempo indeterminado. Além da reforma na estrutura, o MP determinou que a torre permaneça fechada até que tenha um sistema de segurança que não permita que as cadeiras subam sem que exista o correto travamento dos coletes.
Parque fica no interior de SP
Entenda o caso
A adolescente Gabriela Nichimura, 14, morreu ao cair do brinquedo La Tour Eiffel, conhecido como elevador. Ela usou uma cadeira que estava desativada há dez anos, mas sem sinalização. A garota foi levada para o hospital Paulo Sacramento, em Jundiaí (SP), mas não resistiu e morreu por traumatismo craniano seguido de parada cardíaca.
Depois do acidente, a polícia ouviu funcionários, visitantes e familiares da garota. Após a mãe da adolescente mostrar fotos tiradas minutos antes do acidente, verificou-se que a primeira inspeção havia sido feita no assento errado. A perícia na cadeira efetivamente usada por Gabriela constatou que a trava abria quando o brinquedo era colocado em atividade.
O parque fica no km 72,5 da rodovia dos Bandeirantes, no município de Vinhedo (SP). O brinquedo onde ocorreu o acidente tem 69,5 metros de altura, o equivalente a um prédio de 23 andares. Na atração, os participantes caem em queda livre, podendo atingir 94 km/h, segundo informações do site do Hopi Hari.
Na nota, a assessoria do parque afirmou que avaliações preliminares apontam que sucessivas falhas humanas podem ter sido a causa da tragédia. O parque disse ainda que "cumprirá com suas responsabilidades perante a família, a Justiça e as autoridades técnicas".
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