Seca ultrapassa limites da zona rural e afeta cidades do Nordeste; moradores convivem com racionamento
A seca que assola o sertão nordestino não afeta apenas as zonas rurais, mas também compromete o abastecimento das cidades, que passaram a sofrer com o racionamento de água. Em alguns municípios, o fornecimento está suspenso há mais de 200 dias e ocorre por meio de carros-pipa.
Em Pariconha (AL), os moradores reclamam da pouca frequência que a água chega às torneiras. “Antigamente chegava água na segunda e na terça, mas agora só chega uma vez por semana, e olhe lá”, disse o mototaxista Mazinho dos Santos, 33.
Já outro morador, que não quis se identificar, revelou que tem que ir buscar água na casa da vizinha para garantir atividades rotineiras. “Eu não tenho caixa d’água, então, não tenho como armazenar muita água. Para tomar banho, tive que ir pegar, com balde, na casa da vizinha ontem.”
Na cidade de Olho D’Água do Casado, a situação de abastecimento também é crítica. “O abastecimento está devagar demais. A água está chegando a cada 12, 15 dias. Antes chegava de sete em sete ou oito em oito. Chegava toda semana, mas, com a seca, o que era ruim piorou, pois eles estão levando água para fazendas, e o abastecimento ficou complicado”, conta o frentista Fernando dos Santos.
Em nota, o superintendente de Negócios do Interior da Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal), Antônio Fernando, informou que a seca agravou o problema de desabastecimento das cidades nordestinas e que, de fato, há racionamentos. “As adutoras e subadutoras da Casal percorrem áreas rurais, onde pessoas utilizam açudes e barragens para uso humano, animal e em irrigação. Com a estiagem prolongada, esses açudes e barragens secam e as pessoas passam a depredar as adutoras, prejudicando o abastecimento das áreas urbanas”, diz.
Segundo Fernando, em Pariconha, o rodízio de abastecimento, que antes durava dois dias, agora chega a até seis. Já Olho D’Água do Casado recebia água diariamente, mas agora passa até nove dias sem abastecimento. “A Casal não tem conhecimento de que exista alguma área que deixe de receber água por um período de 15 dias ou mais. No entanto, pode haver locais em ponta de rede ou em área topograficamente elevada que tenham mais dificuldade para serem abastecidos.”
Mapa mostra as cidades visitadas pelo UOL em quatro Estados
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Em Luís Gomes (RN), os moradores estão sem abastecimento de água há mais de 200 dias e já realizaram uma série de protestos. Atualmente, os cerca de 9.000 moradores estão sendo abastecidos por caminhões-pipa. A população é obrigada a carregar a água em baldes, já que o líquido não chega às torneiras.
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Segundo informou a Caern (Companhia de Águas e Esgotos do RN) em março, o problema foi causado pela estiagem, que secou o açude Lulu Pinto. A companhia destacou que instalou 18 reservatórios para amenizar o problema e disponibiliza 11 caminhões-pipa por dia.
Na Bahia, o Ministério Público chegou a entrar com uma ação civil pública contra a Embasa (Empresa Baiana de Águas e Saneamento) por conta do rodízio no abastecimento para os moradores de Caetité (a 757 km de Salvador). No início de março, a empresa anunciou, por meio de panfletos, que o fornecimento seria dividido: quatro dias para metade da cidade, e quatro para os demais.
Segundo o MP, a Embasa é acusada de promover um “colapso no sistema de abastecimento de água em Caetité". O caos teria ocorrido por conta do aumento populacional na cidade nos últimos anos, causado por empreendimentos que se instalaram na cidade, mas que não foram correspondidos com investimentos da empresa pública.
Em nota encaminhada à época, a Embasa culpou a estiagem. “O período chuvoso da região de Caetité compreende os meses de novembro a abril. Porém, desde dezembro de 2011 não chove o suficiente para encher os mananciais que atendem à cidade”, informou.
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