Bope localiza acampamentos do tráfico em favela onde jovens foram assassinados, no Rio
Policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) localizaram nesta terça-feira (11) quatro acampamentos que eram utilizados por traficantes de drogas da favela da Chatuba, em Mesquita, na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro, onde 12 pessoas foram assassinadas nos últimos três dias --incluindo um grupo de seis jovens.
Com o apoio de fuzileiros navais, a Polícia Militar realizou uma operação na região, iniciada durante a madrugada, e que culminou com a instalação de uma companhia destacada que será responsável por patrulhar a comunidade 24h por dia. Não houve confronto com os traficantes da Chatuba, que teriam fugido ao observar a movimentação dos agentes. Dez pessoas foram presas e dois menores, apreendidos.
Segundo informações da PM, a maioria dos detidos portava drogas. Entre os presos estão Ricardo Sales da Silva, 25, e Mônica da Silva Francisco, 20, que estavam com 433 papelotes de cocaína e 41 pedras de crack. Um homem identificado apenas como Beto Gorducho também foi preso com 50 gramas de cocaína e R$ 15 mil em espécie.
As forças de segurança continuam realizando incursões pela Chatuba a fim de localizar um homem desaparecido --identificado como José Aldeci da Silva Júnior--, que foi visto pela última vez na comunidade. A Polícia Civil trabalha com a hipótese de que Júnior também foi morto. Em um local indicado pelo pai da suposta vítima, os agentes encontraram cápsulas de fuzil, restos de comida e garrafas.
Na mesma região, os traficantes da Chatuba teriam assassinado um cadete da Polícia Militar e um pastor nas duas últimas semanas, de acordo com a PM. O homem desaparecido é apontado como possível testemunha da morte do religioso.
Cerca de 112 policiais serão responsáveis por garantir a ordem na favela da Chatuba, segundo o relações-públicas da PM, coronel Frederico Caldas. O monitoramento será feito 24 horas por dia. De acordo com a Secretaria Estadual de Segurança Pública (Seseg), a "medida extraordinária" foi tomada pelo secretário José Mariano Beltrame em caráter de "urgência", e não há um prazo determinado para permanência da PM.
Em nota, o órgão afirma ter "retomado o território" e considera que a favela não está mais sob domínio de traficantes de drogas. A ação contou com mais de 200 policiais.
Jovens assassinados
Os seis jovens mortos por traficantes tinham idades entre 16 e 19 anos. Os corpos foram localizados em um beco no bairro Jacutinga, às margens da rodovia Presidente Dutra, em Mesquita.
Moradores de Nilópolis, também na Baixada Fluminense, os jovens tinham saído de casa no sábado passado rumo a uma cachoeira, e desapareceram. Na segunda-feira (10), os corpos foram encontrados enrolados em lençóis, baleados e com sinais de tortura.
Segundo o delegado Julio da Silva Filho, da 53ª DP (Mesquita), os crimes foram cometidos por integrantes da quadrilha comandada por Remilton Moura da Silva Júnior, o Juninho Cagão. A investigação aponta que o assassinato ocorreu apenas pelo fato dos jovens terem passado no bairro em que os traficantes rivais à quadrilha que atua na Chatuba exerce domínio.
Segundo familiares, eles não tinham envolvimento com o tráfico de drogas.
O local onde os seis jovens foram mortos é próximo ao que Jorge Augusto de Souza Alves Júnior, 34, cadete da PM, foi encontrado morto, também no sábado (8). O corpo do cadete estava no porta-malas de seu próprio veículo, um Fox, e apresentava sinais de tortura e marcas de tiros. Alves tinha saído de um baile e levado uma moça para casa, na favela da Chatuba.
A polícia trabalha com a hipótese de que ele possa ter sido identificado como policial, uma vez que a farda estava no carro, e por isso ter sido assassinado. O Disque-Denúncia do Rio informou que já recebeu 118 denúncias sobre os assassinatos. Todas as informações estão sendo encaminhadas à Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense.
Quem tiver mais informações sobre os responsáveis pelas mortes, ligue para o Disque-Denúncia (21 2253-1177), o anonimato é garantido.
O pastor evangélico Alexandro Lima, 37, também foi morto na manhã do sábado (8). Segundo a polícia, ele teria sido atacado enquanto fazia uma caminhada e a suspeita é de que ele poderia ter testemunhado as agressões e a morte do cadete.
Estudantes prejudicados
Cerca de 5.000 estudantes de colégios estaduais em Nilópolis e em Mesquita ficaram sem aula na manhã desta terça-feira (11) em função da ocupação policial na favela da Chatuba.
Além das seis unidades estaduais (quatro em Nilópolis e duas em Mesquita), pelo menos cinco colégios da rede municipal situados na região da comunidade também não funcionam. Outras duas escolas estaduais já informaram aos estudantes que não abrirão as portas no período vespertino. (Com agência Efe e AE)
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