Governo afasta diretor de presídio para pôr fim à onda de violência em Santa Catarina
O governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, anunciou nesta quarta-feira (14) às 19h30 pela televisão que "Carlos pediu um tempo", assim aceitando o afastamento do cargo do diretor da penitenciária de segurança máxima de São Pedro de Alcântara, Carlos Alves.
A medida é vista pela cúpula das secretarias de Segurança e de Justiça como capaz de acabar com a onda de violência, depois que a polícia identificou que a maioria dos 22 ataques (número revisto pelas autoridades) em seis cidades desde segunda-feira (12) são represálias de bandidos à administração de Alves na cadeia, localizada na Grande Florianópolis.
Vinte e sete pessoas suspeitas foram presas e estão sendo investigadas.
LEIA MAIS
- Polícia diz que atentados em SC são comandados dos presídios; governador determina reforço no policiamento
- Grande Florianópolis registra onda de atentados à polícia durante a madrugada
- Santa Catarina anuncia força-tarefa para impedir chegada de onda de violência ao Estado
- Bandidos combinam ataques por mensagens
- Violência em Santa Catarina pode estar ligada à migração de criminosos, diz especialista
- PM de Santa Catarina reforça segurança após ataques de criminosos
O governador não quis que o afastamento fosse encarado como uma concessão à bandidagem. Ele disse que o diretor afastado estava "fragilizado" e não deu importância à saída dele: "Foi uma decisão pessoal que temos que respeitar".
A força-tarefa policial criada na segunda para combater a onda de violência vai monitorar a noite de hoje para conferir se adiantou a medida de afastamento de Alves.
A polícia demorou para apurar que as ordens dos atentados vinham de dentro da penitenciária de São Pedro - como os ataques dobraram de oito para 16 em dois dias, ficou evidente que eram atos coordenados.
As más condições carcerárias, denúncias de torturas e maus-tratos estão no centro da revolta de líderes do tráfico, assaltantes de banco e sequestradores integrantes da facção Primeiro Grupo Catarinense (PGC), presos em São Pedro.
Quem são eles e como dão as ordens às ruas ainda está sendo investigado pela polícia.
Morte da mulher
As atentados começaram em 26 de outubro, com o assassinato da mulher de Alves, Deise. Ela foi morta quando chegava em casa com um tiro pelas costas. Na ocasião, a versão oficial foi de incidente isolado.
Por alguns dias, Alves ficou afastado, mas reassumiu o cargo no início do mês.
Desde então, já enfrentou duas acusações de torturas e maus-tratos, que supostamente seriam excessos cometidos na investigação da morte de sua mulher.
A primeira denúncia foi investigada pela Corregedoria do Tribunal de Justiça, no dia 8, sem conclusão.
A segunda foi ontem (13). Desta vez, o denunciante foi o preso Rodrigo de Oliveira, 32, condenado por tráfico. Um exame médico realizado ontem comprovou que ele tem lesões compatíveis com chutes e coronhadas.
O diretor do Departamento de Administração Prisional (Deap), Leandro Lima, defendeu o subordinado Alves e negou que aconteçam torturas na cadeia.
Foi entre as acusações que os principais ataques aconteceram - disparos contra delegacias e postos policiais e incêndio de ônibus, na segunda (12). Por enquanto, não houve feridos.
Na terça (13), o governo do Estado e a cúpula da segurança pública ainda mantinham a versão de que eram ataques isolados. A força dos 16 ataques derrubou a tese, com a admissão que eram crimes coordenados.
Faltava saber por quem e de onde. A demissão de Alves indica aquilo que já se sabia nos bastidores das investigações: as ordens vinham de dentro do presídio de São Pedro, em represália pela atuação dele na instituição.
A cadeia tem 1.200 presos. O sistema prisional catarinense tem 17 mil condenados, mas capacidade para apenas 11 mil.
Para piorar, existem 10 mil mandatos de prisão em aberto - muitos deles de criminosos que estão nas ruas e agem comandados por chefes presos.
A existência de uma facção criminosa comandando a violência também era negada pelo governo. Agora, é reconhecida. A polícia passa a investigar o Primeiro Grupo Catarinense. Os nomes mais investigados como responsáveis pelas ordens dos ataques são os presos conhecidos como Cartucho e Derú.
No ano passado, o Deap já tinha pedido, sem sucesso, a transferência de 40 dos mais perigosos chefes para cadeias federais, percebendo o crescimento do PGC. Na versão oficial, era mantida a inexistência dela.
Segundo policiais falando na condição de anonimato, entre os motivos para o governo negar a existência das facções nas cadeias do Estado estaria a imagem do turismo de Santa Catarina, cujo verão atrai gente de todo Brasil com ênfase na segurança de suas cidades de praia.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.