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Oscar Niemeyer "mudou a arquitetura do mundo", diz Ferreira Gullar

Débora Melo

Do UOL, em São Paulo

05/12/2012 22h55

O poeta e crítico de arte Ferreira Gullar, amigo do arquiteto Oscar Niemeyer, morto na noite desta quarta-feira (5), disse, em entrevista ao UOL, que "a arquitetura moderna é uma coisa antes e depois de Niemeyer."

"O Oscar mudou a arquitetura do mundo. Antes a arquitetura era caracterizada pelas linhas retas, e ele introduziu as curvas, introduziu as formas curvas na arquitetura moderna. Isso era considerado um pecado mortal, mas o Oscar descobriu que a beleza também é função", disse.

Ferreira Gullar conheceu Niemeyer em 1955, quando trabalhava como redator da revista "Manchete" e entrevistou o arquiteto.

"Eu já tinha interesse pela obra do Oscar, por artes plásticas, tanto que depois me tornei crítico. Sempre tive muita admiração por ele", disse.

"Esse desfecho, de toda forma, não foi uma surpresa, mas não deixa de ser muito doloroso. A perda de um amigo como Oscar é algo muito doloroso", continuou Gullar, que também esteve com Niemeyer na militância do PCB (Partido Comunista Brasileiro).

"Estou muito triste com essa notícia. O Brasil perdeu uma de suas figuras mais significativas."

O poeta conta que era muito próximo de Niemeyer. "Nós sempre mantivemos contato, mesmo quando parti para o exílio. Sempre frequentei o escritório dele, eu e todos os amigos. Ele sempre teve muitos amigos. Foi de fato um ser humano extraordinário", disse.

As curvas de Niemeyer, citadas por Gullar, estão em uma das frases mais célebres do arquiteto:

"Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein."

O cartunista Ziraldo, que também foi entrevistado pelo UOL, disse que foi "um privilégio" ter estado ao lado de Niemeyer em sua trajetória.

Juventude e começo da carreira

Niemeyer nasce em 15 de dezembro de 1907 no Rio, filho de Oscar Niemeyer Soares e Delfina Ribeiro da Almeida. Sua família tinha ascendência portuguesa, árabe e alemã.

Cresceu no bairro de Laranjeiras, onde se casou com Annita Baldo em 1928.

Em 1929, iniciou os estudos na Escola Nacional de Belas Artes, dirigida pelo também arquiteto Lucio Costa, com quem Niemeyer começou a trabalhar em 1932.

"Gostava de desenhar, e o desenho levou-me à arquitetura. Lembro-me que ficava com o dedo no ar desenhando. Minha mãe perguntava: 'o que está fazendo menino?' 'Desenhando', respondia com a maior naturalidade. Realmente, fazia formas no espaço, formas que guardava de memória, corrigia e ampliava, como se as tivesse mesmo a desenhar", afirmou o arquiteto, em declaração publicada na página do Instituto Oscar Niemeyer.

Em 1934, obteve diploma de engenheiro e arquiteto. Dois anos depois, conheceu o arquiteto modernista Le Corbusier. A obra do francês o influenciou de forma decisiva.

Viajou aos Estados Unidos em 1938 e elaborou o projeto do Pavilhão do Brasil na Feira Mundial de Nova York.

Em 1945, ingressou no PCB e iniciou sua amizade com Prestes, a quem na velhice ajudaria a sustentar. "Fui sempre um revoltado. Da família católica eu esquecera os velhos preconceitos, e o mundo parecia-me injusto, inaceitável. A miséria a se multiplicar como se fosse coisa natural e aceitável. Entrei para o Partido Comunista abraçado pelo pensamento de Marx."

Regressou a Nova York em 1947, onde participou, ao lado de arquitetos do mundo todo, do projeto da sede da ONU (Organização das Nações Unidas).

Em 1950, foi publicada a obra "The Work of Oscar Niemeyer" ("O Trabalho de Oscar Niemeyer"), do arquiteto e historiador grego Stamo Papadaki, que ajudou a divulgar o arquitetura de Niemeyer no exterior.

Em 1954, fez sua primeira viagem à Europa, onde conheceu França, Itália, Alemanha, República Tcheca e a União Soviética.

No ano seguinte, fundou a revista "Módulo", que circulou, em edições mensais, até 1965, quando sua publicação foi interrompida pelo governo militar -a revista foi retomada em 1975 e editada até 1987.