Grupo organiza "beijaço LGBT" durante primeiro discurso do papa na Jornada
No dia em que chegar ao Rio de Janeiro para dar início à Jornada Mundial da Juventude --a segunda-feira (22)--, o papa Francisco terá uma cerimônia oficial de boas-vindas no Palácio Guanabara, sede do governo estadual. Mas também terá de enfrentar um protesto contra a homofobia.
No compromisso oficial, o papa terá um encontro com a presidente Dilma Rousseff, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, o prefeito da capital fluminense, Eduardo Paes, o arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani João Tempesta e o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal Raymundo Damasceno Assis, entre outros convidados, e fará seu primeiro discurso no Brasil.
Do lado de fora do Palácio, um grupo está programando um "beijaço LGBT" durante as primeiras palavras de saudação do papa para os peregrinos da Jornada. Segundo a organização da manifestação, o protesto será realizado em função do crescimento da homofobia e do fundamentalismo religioso no Brasil.
"O protesto foi pensado a partir do ano passado, quando o antigo papa Bento 16 fez o discurso de final de ano e disse que a família homoafetiva é uma ameaça ao mundo, que somos o mal do mundo", explica um dos líderes da organização do Beijaço, que prefere não se identificar por medo de "ataques de fundamentalistas religiosos".
"Desde o início, o Beijaço foi pensado para a semana da JMJ. (...) Em termos estratégicos é imprescindível demarcarmos a legitimidade das nossas sexualidades nesse momento", afirma outra líder do movimento. "A própria reação dos religiosos na página do evento [no Facebook] demonstra como o imaginário e o conservadorismo católico e cristão se traduzem em atitudes e discursos violentos e intolerantes contra as sexualidades não-normativas".
A concentração do ato será feita no Largo do Machado, zona sul da cidade, às 14h, a menos de 1,5 km da sede do governo. De lá, os manifestantes seguirão em direção ao Palácio Guanabara, onde pretendem chegar às 17h. Até a quarta-feira (17), cerca de 1.500 pessoas haviam confirmado presença pelo Facebook.
"O beijo - expressão de amor ou prazer - será a nossa forma de protestar dessa vez. Chega desse falacioso discurso moral e do atropelo de nossos direitos fundamentais! Vocês vão ter que nos engolir! Toda forma de amor vale a pena!", diz a organização do protesto.
O grupo afirma que não pretende se reunir com o papa e sim "dar visibilidade à opressão que a população LGBT sofre nas ruas, alertando para o perigo de discursos religiosos fundamentalistas".
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"Não há nenhum interesse de reunião com o papa, não temos o que reivindicar à Igreja. Não queremos e não precisamos que nenhuma religião legitime nossas sexualidades, queremos apenas que elas sejam respeitadas. (...) As pessoas em geral não conectam as declarações religiosas com a morte das Travestis e Transexuais, com as agressões físicas à lésbicas e homossexuais. Como se as violências físicas não encontrasse nos discursos religiosos que atacam as nossas sexualidades o respaldo moralista", explica.
Os organizadores do "beijaço LGBT" afirmam ainda que o medo de uma maior repressão policial por conta da JMJ é o mesmo de repressões homofóbicas sofridas todos os dias.
"O cotidiano do LGBT é repleto de incertezas e inseguranças. Porque além da violência sofrida por qualquer cidadão, assalto e etc, temos um tipo de violência específica que ataca diretamente a nós, que é pelo fato de não nos enquadrarmos nos perfis hetenormativos que esperam da gente", explica um dos líderes.
Jornada Mundial da Juventude tem 300 mil inscritos
De acordo com a organização, cerca de 300 mil se inscreveram para a Jornada Mundial da Juventude, que acontece entre os dias 23 e 28 de julho. O maior número de peregrinos é do Brasil, seguido da Argentina, Estados Unidos, França, Venezuela, Itália, Chile, Equador, Paraguai e Peru.
Todos pagaram por pacotes que se dividem em três grupos: semana completa, fim de semana ou vigília - este último é o evento que ocorrerá no Campus Fidei, em Pedra de Guaratiba, na zona oeste, com missa celebrada pelo novo papa.
O pacote mais caro para a semana toda custa R$ 608 e inclui alojamento, alimentação, transporte, seguro e kit peregrino (mochila, camiseta, boné, garrafa, guia do peregrino, livro litúrgico). O mais barato para todos os dias sai por R$ 288 - somente com seguro, transporte e o kit, comum em todos os pacotes.
A organização diz que os valores são variados por causa dos trabalhos de logística, orientação e informatização, pois a hospedagem é gratuita. Os jovens peregrinos vão ser hospedados em casas de voluntários, escolas e paróquias. Para o transporte, os participantes vão receber um Bilhete Único, com o qual poderão andar de ônibus e metrô.
Para entreter os participantes, a organização do evento vai realizar o Festival da Juventude entre os dias 22 e 26 de julho. Do grafite à arte sacra, além de shows de música, cinema, dança e exposições, além de atos religiosos e culturais que acontecerão em vários espaços espalhados pelo Rio e também por Niterói.
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