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Júri seria diferente se vítima fosse "branquinha e de classe média", diz promotor do caso Juan

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Nova Iguaçu (RJ)

12/09/2013 19h25

O promotor do Ministério Público Sérgio Ricardo Fonseca, responsável pela acusação no julgamento dos quatro policiais militares acusados de assassinar o estudante Juan Moraes, 11, afirmou nesta quinta-feira (12) que a repercussão do caso seria outra se a vítima fosse "branquinha" e de "classe média".

Os réus são os policiais militares Edilberto Barros do Nascimento, Isaías Souza do Carmo, Ubirani Soares e Rubens da Silva. O crime ocorreu em junho de 2011 durante uma operação da Polícia Militar na favela do Danon, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

"Se fosse em Copacabana, se tivessem quatro pessoas andando pela avenida Atlântica e alguém tivesse sido assassinado, até a Al-Jazeera estaria aqui. Se fosse branquinho ou de classe média, se fosse filho do promotor ou filho de não-sei-de-quem, seria outra situação", disse.

Fonseca afirmou ainda estar preocupado com "questões sociológicas" que possam eventualmente ser assimiladas pelo corpo de jurados. Segundo ele, o fato de que Juan era um jovem negro morador de uma comunidade não o tornaria "bandido".

"Ah, se mora na favela e é pobre, é bandido e tem que morrer? Tenho muita preocupação com esse pensamento porque temos uma explicação a dar. Só porque uma pessoa é pobre e mora na favela, não quer dizer que ela seja um bandido ou traficante. (...) Havia uma criança ali na cena do crime e criança não tem nada a ver com o tráfico", argumentou.

Último dia

Nesta quinta-feira, o julgamento sobre a morte do menino Juan Moraes, 11, e de Igor de Sousa, 17, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, na noite de 20 de junho de 2011, entra em seu último dia. A previsão é que a decisão saia na madrugada desta sexta-feira (13).

Além das mortes, ficaram feridos e sobreviveram Wesley Felipe Moraes da Silva, irmão de Juan, e Wanderson dos Santos de Assis. Quatro policiais militares respondem pelo crime de duplo homicídio qualificado e duas tentativas. Isaías Souza do Carmo e Edilberto Barros do Nascimento, atiraram contra os jovens, e Ubirani Soares e Rubens Silva, participaram do crime ao transportarem os policiais e o corpo de Igor, de acordo com a denúncia.

Ao todo, 13 testemunhas foram ouvidas de segunda (9) até quarta-feira (11), entre os sobreviventes, a mãe de Juan, Rosineia Maria Moraes, moradores da comunidade do Danon, onde aconteceu o crime, peritos, dois delegados e um comandante da PM. Em todos os dias de júri, o plenário da 4ª Vara Criminal de Nova Iguaçu estava lotado de colegas dos acusados e interessados no julgamento.

Nesta quinta, o promotor Sérgio Ricardo Fonseca, defendeu a tese de assassinato, de que os PMs atiraram sem que houvesse confronto. Já os advogados de defesa dos policiais argumentam que os policiais se defenderam do ataque e que os jovens podem ter sido baleados por traficantes da comunidade, que supostamente atacaram os policiais.