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PMs acusados de matar menino Juan dizem que agiram de acordo com o dever

O menino Juan, morto em operação da PM em favela na Baixada Fluminense - Divulgação
O menino Juan, morto em operação da PM em favela na Baixada Fluminense Imagem: Divulgação

Carolina Farias

Do UOL, no Rio

11/09/2013 21h56

Os últimos a falar no terceiro dia de julgamento sobre a morte do menino Juan Moraes, 11, e de Igor de Sousa, 17, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, foram os policiais militares acusados do crime: Isaías Souza do Carmo, Edilberto Barros do Nascimento, que atiraram, e Ubirani Soares e Rubens Silva, que ficaram no carro e recolheram o corpo de Igor.

Todos alegaram inocência e disseram que agiram de acordo com o dever. A dupla que atirou afirma que revidava um suposto ataque de traficantes que saíram do beco onde os jovens foram baleados. "De imediato, atiraram contra mim, vi que um deles tinha uma pistola prateada. Fiz 11 disparos", disse Carmo.

Nascimento confirmou a versão de que, assim que o grupo saiu do beco, passou a atirar após a identificação deles como policiais. "Eu me joguei pro lado e atirei. Dei uns 20 tiros", afirmou.

Os PMs disseram que foram para a comunidade atender a chamadas de moradores que delatavam a presença de traficantes armados no local.

Eles afirmaram que acharam somente Igor, ainda com vida, e que não viram Juan nem a poça de sangue que ficou no lugar onde o corpo do menino caiu.

Os demais PMs afirmaram que foram chamados após o tiroteio para resgatarem os colegas. Eles recolheram o corpo de Igor do local e deixaram outro carro de polícia, que deu apoio, socorrer o jovem.

Nesta quinta-feira (12), o julgamento entra em seu quarto e último dia. Após debates entre promotoria e defesa, os jurados dão o veredicto. A previsão é que a decisão saia na madrugada de sexta-feira.

Resumo do dia

Neste terceiro dia de julgamento, o perito Miguel Arcanjo prestou depoimento durante duas  horas. O agente teve de repetir seu depoimento, dado na ultima terça-feira (10), porque, por uma falha técnica, o áudio de sua fala não foi gravado.

Arcanjo relatou como foram feitas as perícias do local do crime e o laudo da reprodução simulada. O perito disse não poder descartar que houve troca de tiros, já que encontraram projéteis de fuzis que não pertenciam ao batalhão dos PMs acusados.

"Não sei se os estojos encontrados foram disparados naquele dia, mas não identifiquei que veio de nenhum fuzil apresentado", disse.

Ele também explicou que, da posição em que os policiais estavam, seria quase impossível eles não verem outras pessoas atirando e também de não verem alguém retirar o corpo de Juan.

O primeiro a prestar depoimento nesta quarta foi o comandante do 20º batalhão da PM do município, coronel Sérgio Luiz Mendes Afonso. Ele disse que o serviço reservado da corporação apurou, junto a moradores da comunidade do Danon, que o corpo do menino continuava na favela após sua morte, pois tinha sido recolhido por traficantes.

Na investigação, o serviço também relatou, segundo o comandante, que o pai do garoto era viciado e que tinha dívidas com traficantes, que possivelmente esconderam o corpo do menino.

Antes de ouvir o comandante, a defesa colocou áudios de gravações do 190 naquela noite, onde denunciantes chamaram a PM por causa de um grupo de supostos traficantes armados que chegavam à comunidade naquela noite.

Julgamento

Os policiais militares Isaías Souza do Carmo, Edilberto Barros do Nascimento, Ubirani Soares e Rubens da Silva são acusados das mortes dos adolescentes.

Os PMs também são acusados de tentativas de homicídio contra Wesley Felipe Moraes da Silva, irmão de Juan, e Wanderson dos Santos de Assis e ocultação de cadáver, pois o corpo de Juan foi encontrado somente dez dias após os crimes, que ocorreram na noite de 20 de junho de 2011 na comunidade do Danon, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

As vítimas foram mortas em uma suposta ação do 20º Batalhão da Polícia Militar na favela. Sete jurados vão avaliar as teses da acusação e defesa para decidir sobre o futuro dos acusados.