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PM afasta 15 policiais denunciados pelo MP nesta 3ª pelo caso Amarildo

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

22/10/2013 19h31

Os 15 policiais militares denunciados pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) na manhã desta terça-feira (22) por participação na morte do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, 43, foram afastados do serviço na UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha, na zona sul do Rio, por determinação do corregedor da Polícia Militar, Cezar Tanner, informou, no início da noite, a Coordenadoria de Polícia Pacificadora. Ao todo, 25 PMs foram denunciados pelo sumiço do morador da comunidade.

O Ministério Público solicitou à Justiça a prisão preventiva de três dos 15 PMs, que assim como os dez acusados inicialmente foram denunciados também por formação de quadrilha armada: o sargento Reinaldo Gonçalves, o sargento Lourival Moreira e o soldado Vagner Soares do Nascimento. De acordo com a assessoria de imprensa da Coordenadoria de Polícia Pacificadora, a Corregedoria da PM não havia recebido nenhuma notificação judicial sobre a prisão dos três policiais até as 18h35.

CÂMERAS NÃO FUNCIONARAM

  • Alessandro Buzas/Futura Press

    A ONG Rio de Paz colocou manequins na praia de Copacabana, na zona sul, em protesto contra o desaparecimento de Amarildo

  • As câmeras da UPP da Rocinha pararam de funcionar no mesmo dia em que Amarildo foi levado para lá por policiais "para averiguação". O relatório da empresa Emive mostra que, das 80 câmeras instaladas na favela, apenas as 2 da sede da UPP apresentaram problemas. MAIS

Todos os 25 policiais foram denunciados por tortura seguida de morte, 17 por ocultação de cadáver, 13 por formação de quadrilha e quatro por fraude processual. A suspensão das atividades dos PMs foi solicitada pelos promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público, que ficou responsável pela nova denúncia.

Os dez PMs denunciados após o encerramento do inquérito da Divisão de Homicídios da Polícia Civil, no início do mês, já estão presos. Entre eles estão o ex-comandante da UPP da Rocinha, major Edson Santos, e o ex-subcomandante, tenente Luiz Felipe de Medeiros.

Ainda de acordo com o MP, nessa segunda parte da investigação foi possível identificar quatro dos policiais que participaram diretamente da tortura de Amarildo. São eles o sargento Reinaldo Gonçalves, o soldado Anderson Maia, tenente Luiz Medeiros e o soldado Douglas Vital, conhecido como "Cara de Macaco", um dos oito PMs que abordaram Amarildo na favela, no dia 14 de julho.

Durante a entrevista coletiva que apresentou a nova denúncia, o corregedor da Polícia Militar, Cezar Tanner, afirmou que a corporação "não vai titubear em tomar a atitude que tem que tomar". "Não compactuamos com desvios de conduta e, nesse caso, infelizmente, houve", declarou.

BLOG DO MÁRIO MAGALHÃES

"A coragem que tempera o inquérito do caso Amarildo é inversamente proporcional ao destaque diminuto que as conclusões policiais receberam nos meios de comunicação: parece que se trata apenas de mais uma peça produzida pela Polícia Civil do Rio de Janeiro"

Inquérito

Para a Polícia Civil, Amarildo foi torturado e morto depois de ter sido levado por policiais para a sede da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) na comunidade, um dia depois de a PM realizar a operação Paz Armada, que investiga o tráfico de drogas na Rocinha.

De acordo com o delegado, que coordena a investigação, as pessoas que se disseram vítimas de tortura de policiais da UPP da Rocinha foram ouvidas de março a julho deste ano para revelar detalhes do esquema do tráfico de drogas no local.

Todas as 22 testemunhas que narraram mecanismos de tortura apontam homens comandados pelo major Edson Santos (ex-comandante da UPP afastado no mês passado após ser denunciado pelo caso Amarildo) como agressores. Pela linha de investigação da polícia, Amarildo seria a 23ª vítima do grupo - e a única que foi morta.

Asfixia com saco plástico, choque elétrico com corpo molhado, introdução de objetos nas partes íntimas e até ingestão de cera líquida eram alguns dos "castigos" aplicados aos moradores da Rocinha, dentro e fora das dependências da UPP -- alguns depoimentos falam em sessões de tortura em becos da comunidade, incluindo o beco do Cotó, onde, segundo a polícia, Amarildo foi sequestrado.

À época do desaparecimento do pedreiro, o ex-comandante da unidade sustentou que Amarildo foi ouvido e liberado, mas nunca apareceram provas que mostrassem o pedreiro saindo da UPP, pois as câmeras de vigilância que poderiam registrar a saída dele não estavam funcionando.

Veja a lista dos 25 PMs da UPP da Rocinha denunciados pelo MP-RJ:

Major Edson Raimundo dos Santos – Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha / Fraude processual (2x)

Tenente Luiz Felipe de Medeiros – Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha / Fraude processual (2x)

Soldado Marlon Campos Reis – Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha / Fraude processual

Soldado Douglas Roberto Vital Machado, vulgo “Cara de macaco” – Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha / Fraude processual

Sargento Jairo da Conceição Ribas – Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha

Soldado Anderson Cesar Soares Maia – Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha

Soldado Fábio Brasil da Rocha da Graça – Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha

Soldado Jorge Luiz Gonçalves Coelho – Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha

Soldado Victor Vinicius Pereira da Silva – Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha

Soldado Wellington Tavares da Silva – Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha

Sargento Reinaldo Gonçalves dos Santos – Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha

Sargento Lourival Moreira da Silva – Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha

Soldado Wagner Soares do Nascimento – Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha

Soldado Rachel de Souza Peixoto – Tortura / Ocultação de cadáver

Soldado Thaís Rodrigues Gusmão – Tortura / Ocultação de cadáver

Soldado Felipe Maia Queiroz Moura – Tortura / Ocultação de cadáver

Soldado Dejan Marcos de Andrade Ricardo – Tortura / Ocultação de cadáver

Sargento Rodrigo Molina Pereira – Tortura (por omissão)

Soldado Bruno dos Santos Rosa – Tortura (por omissão)

Soldado João Magno de Souza – Tortura (por omissão)

Soldado Jonatan de Oliveira Moreira – Tortura (por omissão)

Soldado Márcio Fernandes De Lemos Ribeiro – Tortura (por omissão)

Soldado Rafael Bayma Mandarino – Tortura (por omissão)

Soldado Sidney Fernando de Oliveira Macário – Tortura (por omissão)

Soldado Vanessa Coimbra Cavalcanti – Tortura (por omissão)