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"Será que vai ter Natal?", questiona carioca que perdeu tudo nas chuvas

Antecipada, chuva de verão vem mais intensa e deixa ruas do bairro Acari, na zona norte do Rio de Janeiro, que nunca inundaram, pela primeira vez submersas   - Arquivo Pessoal
Antecipada, chuva de verão vem mais intensa e deixa ruas do bairro Acari, na zona norte do Rio de Janeiro, que nunca inundaram, pela primeira vez submersas Imagem: Arquivo Pessoal

Do UOL, em São Paulo

11/12/2013 17h58

Os moradores de Acari, bairro da zona norte do Rio de Janeiro, que perderam tudo com a chuva que atingiu a região nesta quarta-feira (11), disseram também ter perdido as comemorações de final de ano. "Será que vai ter Natal? O Natal da gente acabou", disse a promotora de vendas, Márcia da Silva Pereira, 48. "Não há clima para festas", acrescentou a produtora cultural Tatiana Sousa, 28.

As duas tiveram as casas inundadas com a cheia do rio Acari. Márcia acordou às 6h com a água invadindo o seu apartamento, que fica no primeiro andar de um prédio de cinco pisos. A primeira reação foi tentar salvar o que podia --documentos, roupas e televisão-- e se refugiar com o filho na casa dos vizinhos que moram nos andares acima do seu.

"A água chegou a atingir 1,5 metro e pela segunda vez no ano perdi tudo, todos os móveis, a geladeira, o fogão, a máquina de lavar", afirmou ela, que disse ter vivido situação similar em janeiro desse ano. Na semana passada, uma chuva um pouco mais branda também provocou inundação em sua casa, mas, segundo a promotora de vendas, "não deu para perder nada". 

Tatiana, que mora no bairro há 26 anos, diz que ocorrências como essa são recorrentes. "Toda vez que chove muito forte, a água deixa rastros de destruição no bairro. Mas, dessa vez, a chuva veio mais cedo e muito mais potente. A gente nunca viu nada igual", relatou ela, que diz ter perdido praticamente todos os móveis que ficavam na parte térrea de seu sobrado. "Perdi pouca coisa perto de alguns vizinhos que moram em casa térrea."

"As enchentes na região são crônicas e antigas, mas, pela primeira vez em 20 anos, a água atingiu a minha casa, que está localizada em uma rua mais alta", contou Hildo Paulino Nascimento Siqueira, que mora no bairro há 50 anos. Com a enchente, que chegou a atingir 80 cm de altura, o comerciante de 52 anos perdeu camas, armários e colchões. "Perdi tudo o que tinha na parte de baixo. E eu, minha mulher e meu neto nos refugiamos no andar de cima."

A previsão de novas pancadas de chuva na região faz com que esses três cariocas da zona norte tenham medo de voltar às suas casas.  Segundo Siqueira, todas as pessoas vão dormir apreensivas, "torcendo para que não chova forte".

"Não tenho para onde ir, mas a minha vontade era não mais precisar voltar a morar aqui", disse Márcia. Já Tatiana, que agradeceu a "sorte" de não estar em sua casa com filho de seis meses no momento da inundação, afirmou que vai passar a noite na casa da irmã e que pretende deixar o mais rápido possível o bairro.

Caminho que também será seguido por Siqueira. "A minha mudança já estava arquitetada por causa da violência, mas agora, com mais esse agravante, ela só será acelerada. O mais sensato é sair daqui, mas nem todos têm essa opção."

Tanto Márcia quanto Siqueira acreditam que o problema maior do bairro é o descaso das autoridades. Ao ser questionada sobre o auxílio da Defesa Civil, a promotora de vendas respondeu: "Defesa Civil? É ruim, hein! Não apareceu ninguém para prestar socorro. Se não fossem os vizinhos, teria morrido afogada." 

"O problema já existe há anos, mas as autoridades não fazem nada para resolvê-lo. Ninguém nem apareceu na área para dar cara a tapa. A prefeitura e o governo conhecem essa nossa infeliz realidades. Mas o governador deve estar em Angra do Reis passeando, para que se preocupar com os pobres?", desabafa Siqueira.