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Advogado continua na defesa de jovens no Rio e pedirá habeas corpus

O advogado Jonas Tadeu Nunes defende os manifestantes envolvidos na morte do cinegrafista Santiago Andrade em protesto - Tânia Rego/Agência Brasil
O advogado Jonas Tadeu Nunes defende os manifestantes envolvidos na morte do cinegrafista Santiago Andrade em protesto Imagem: Tânia Rego/Agência Brasil

Do Estadão Conteúdo, no Rio

13/02/2014 20h21

Depois de dizer que abandonaria a defesa do dois manifestantes investigados pela morte do cinegrafista Santiago Andrade, se constatasse que havia conflito nos depoimentos dos jovens, o advogado Jonas Tadeu Nunes anunciou na noite desta quinta-feira (13) que continua no caso e que vai esperar o inquérito chegar ao Ministério Público para tomar novas providências. Nunes defende também o tatuador Fábio Raposo. "A princípio não há colisão (nas versões de Caio e Raposo)", disse.

O advogado sustenta a tese de que Caio e Raposo agiram juntos e, portanto, devem responder juntos ao processo, com a mesma defesa. Caio, porém, acusou Raposo de ter acendido o rojão que atingiu o cinegrafista. Na manhã desta quinta-feira, Nunes disse ter sido surpreendido pelo depoimento de Caio à polícia, na noite de quarta-feira (12), e deverá pedir à Justiça habeas corpus do cliente, por ter falado à polícia sem a presença do advogado.

"No momento que nascer um conflito entre um e outro, em que um disse 'não fui eu, foi ele', atrapalha a defesa. Se eles permanecerem juntos, nós temos elementos de desclassificar o que a autoridade policial quer colocar como homicídio qualificado", disse Nunes pela manhã. Depois, afirmou não ver conflito no depoimento de Caio.

Nunes voltou a acusar partidos políticos e outras organizações de aliciarem jovens e pagar para que causem quebra-quebra em protestos. "Caio vive em extrema pobreza. Começou a participar das manifestações por ideologia, de forma pacífica, sem quebra-quebra. Quando soube que poderia participar mediante remuneração, aí ele se deixou levar por isso" disse o advogado. "Quando foi preso, ele disse `e agora, doutor, quem vai cuidar da minha mãe? Não vou ter como dar a cesta básica da minha mãe'. É que eu ganho dinheiro da manifestação, recebo R$ 150'. Eu respondi que o pai dele continuaria a ajudar", contou defensor de Caio e Raposo.

Segundo o advogado, Caio contou que "chegava em determinado local onde ia ter início a manifestação e já tinha uma kombi parada que ia entregando máscaras e tal e, algumas vezes, quando (os manifestantes) não tinham dinheiro, propiciava o dinheiro para o transporte". "O manifestantes só ganhava se houvesse quebra-quebra", afirmou.

"Caio é um menino calmo, quando está nas manifestações se transforma, parece que recebe uma entidade, fica completamente diferente", defendeu. O advogado disse ter tido contato com Caio antes de o rapaz embarcar para o Ceará, no dia 10 de fevereiro, e que ele tinha prometido se entregar à polícia, no restaurante Amarelinho da Glória (zona sul), no dia 11. Na data marcada, porém, apareceu apenas o pai de Caio, dizendo que o filho estava assustado e tinha saído da cidade. Nunes disse que começou, então, com a ajuda da namorada de Caio, a tentar convencer o rapaz a interromper a viagem ao Ceará e a saltar do ônibus em Feira de Santana (BA).

O delegado responsável pelas investigações, Maurício Luciano, da 17ª DP (São Cristóvão), afirmou que um colega de trabalho de Caio disse ter recebido uma ligação dele no dia 6 de fevereiro, após a manifestação. "Ele falou que o Caio ligou pra ele por volta das 19h, ofegante, dizendo que matou uma pessoa", contou o delegado.

A testemunha, que depôs oficialmente hoje, teve sua identidade preservada. Segundo o delegado, esse é um dos indícios mais evidentes da culpabilidade dos suspeitos. "A importância desta relato é evidente, não tem o que discutir", disse o delegado, ressaltando ainda que a questão sobre quem acendeu o rojão não é relevante para a investigação, já que os dois respondem pelos mesmos crimes: homicídio qualificado pelo uso de artefato explosivo e explosão.

"Pena"

Pouco depois de chegar ao velório do marido, a assistente social e diretora de creche Arlita Andrade disse ter pena dos dois suspeitos de envolvimento no caso. "Todas as crianças que passaram por mim [na creche] não foram violentas. Tenho muita penas desses dois rapazes", declarou, antes de ser interrompida pelo abraço de um amigo.

A mulher de Santiago fez um apelo aos repórteres que cobrem o velório, muitos deles colegas e amigos do cinegrafista: "Queria pedir a todo mundo: por favor, sejam mais amigos, sejam mais tranquilos, tenham amor um pelo outro".

Arlita também falou sobre como lidava com o trabalho do marido. "Eu falava: 'poxa, amor, faz alguma coisa mais leve'. Aí ele falava: 'eu gosto de tiro, porrada e bomba'. O sonho dele era ser repórter cinematográfico."

Santiago "era um cara bem alegre, que brincava com todo mundo" e que não gostava de cobrir manifestações, segundo Edeilton Macedo, cinegrafista da Band há 13 anos. "Ele era muito precavido, cuidadoso, mas tinha até medo de cobrir protestos. E olhe que ele também cobria conflito em morros", disse Macedo.

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