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Rio: greve de ônibus tem baixa adesão; empresas falam em 90% nas ruas

Carolina Mazzi, Gustavo Maia e Maria Luísa Melo

Do UOL, no Rio

28/05/2014 08h00Atualizada em 28/05/2014 11h57

A paralisação de 24 horas de motoristas e cobradores de ônibus do Rio de Janeiro teve baixa adesão nesta quinta-feira (28). Segundo estimativa do secretário municipal de Transportes, Alexandre Sansão, cerca de 80% dos ônibus circulam pela capital fluminense. Já o Rio Ônibus, sindicato das empresas, estima que 90% da frota está circulando sem problemas.

“O plano [de contingência da prefeitura] vai ficar em prática ao longo de todo o dia. Mas a cidade está muito próxima da normalidade”, afirmou o secretário em entrevista á rádio “CBN” no início da manhã. “Não houve o impacto de paralisação que a gente imaginava ou que estava sendo anunciado. Mais de 80% da frota estão circulando. O BRT [Bus Rapid Transit Transoeste] também está circulando, embora no início da manhã, na Cesário de Mello [uma das principais avenidas da zona oeste], tenhamos tido alguma dificuldade”, disse em outra entrevista, dessa vez à Rádio Nacional.

A paralisação inicialmente anunciada para acontecer também em Niterói e na Baixada Fluminense não ocorreu. A Transônibus, concessionária que representa 36 empresas de ônibus de seis municípios da Baixada Fluminense, informou que as negociações com os rodoviários continuam abertas e seguem o trâmite normal visando ao dissídio coletivo.

Em São Cristóvão, na zona norte, quem saía da estação de trem e de metrô  enfrentava espera de cerca de meia hora, por volta das 7h, para conseguir pegar os ônibus, o que é considerado pelos passageiros como normal para o horário.

Na Central do Brasil, no centro da cidade, a espera demorava, em média, 15 minutos por volta das 7h30. O fluxo no metrô também era “normal”, segundo uma funcionária que preferiu não se identificar. Apesar disso, algumas linhas, como as que ligam o centro à zona oeste da cidade, não estavam circulando.

Em Campo Grande, na zona oeste, apesar da maior movimentação de ônibus se comparado às outras duas paralisações, o tempo de espera para as linhas que levam até o centro da cidade chega a uma hora e meia, três vezes mais do que o normal. Com medo de represálias, motoristas, cobradores e fiscais trabalham sem uniforme. A linha 398 foi uma das mais prejudicadas. Já os ônibus do BRT Transoeste funcionam normalmente na Rodoviária de Campo Grande. Costumeiro ponto de aglomeração na zona oeste, a favela Rio das Pedras tinha, às 7h30, movimento reduzido.

Um dos serviços mais afetados é o Metrô na Superfície, serviço de ônibus que liga as estações de Botafogo e General Osório (Ipanema), à Gávea, na zona sul. De acordo com a concessionária, os motoristas não retiraram os veículos da garagem. A queixa principal dos passageiros é a de que eles têm de pagar duas passagens --a do bilhete do metrô e a do ônibus convencional.

O próprio líder do movimento grevista, que acontece à revelia do sindicato da categoria, afirmou que a adesão dessa vez foi pequena. Essa é a terceira vez que os motoristas paralisam o serviço na cidade em um mês, e a decisão foi tomada na noite de terça (27), em uma assembleia com 150 pessoas.

“Tem muita gente sem dinheiro, o patrão pressiona e o pessoal tira o ônibus da garagem, não tem jeito”, disse Hélio Teodoro. Ele afirmou ainda que pretende mudar a estratégia, mas descartou a liberação das catracas: “O movimento é muito fraco para isso.”

O motorista Agnaldo Santos, que trabalha na linha 460, concorda. Ele é a favor da greve e gostaria de reivindicar melhores salários, mas afirma não poder deixar o trabalho por motivos financeiros. “Tenho parentes que precisam de mim, doentes. Mas acho um absurdo um aumento de 10% apenas. Se eu pudesse, com certeza teria parado também”, afirmou.

Os rodoviários decidiram parar pela terceira vez em menos de um mês após audiência no TRT (Tribunal Regional do Trabalho), na qual não entraram em acordo com as empresas de ônibus. Eles reivindicam aumento salarial de 40% (e não os 10% acordados entre o sindicato da categoria e as empresas de ônibus), o fim da dupla função e reajuste no valor da cesta básica –de R$ 150 para R$ 400.

O vice-presidente do Sintraturb Rio (Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus do Rio), Sebastião José,  afirmou que a paralisação já foi considerada ilegal pela Justiça, por isso aconselha aos profissionais a não participarem do movimento, já que as empresas acenam com a possibilidade de demissão por justa causa.

“Dizer que se os garis conseguiram 37%, os rodoviários também teriam esse direito é no mínimo insano. Claro que o sindicato lutou e vai continuar lutando para um reajuste maior no próximo dissídio; mas no momento isso foi o melhor que conseguimos, já que foi o maior aumento da categoria em todo o país” explicou o vice-presidente.

Nas últimas paralisações de rodoviários no Rio, além de transtornos para os passageiros, que ficaram sem ter como se deslocar principalmente da zona oeste para o centro da cidade, e centenas de ônibus foram depredados. Desta vez, não houve registro de depredações ou conflitos com os grevistas.

Salvador

No terceiro dia de greve dos rodoviários, as ruas de Salvador amanheceram vazias. Com exceção dos micro-ônibus e vans que realizam o transporte alternativo, não foram vistos os coletivos trafegando pelos bairros.

Cinco ônibus saíram em comboio da garagem da empresa São Cristóvão sob escolta de viaturas da Polícia Militar. Eles circulam pelo bairros de Cajazeiras e Castelo Branco, sentido BR-324. Quatro ônibus da empresa Rio Vermelho também circulam na região da orla, de acordo com a Transalvador (Superintendência de Trânsito e Transporte). Na Ribeira, apenas um veículo saiu escoltado da garagem, por volta de 9h. (Com Agência Brasil e Estadão Conteúdo)