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Com medo de saques, moradores de Natal 'invadem' casas para retirar objetos

Aliny Gama

Do UOL, em Maceió

17/06/2014 14h56

Moradores do bairro de Mãe Luiza, na zona leste de Natal, estão driblando a segurança policial e da guarda municipal para retirar móveis, eletrodomésticos e outros objetos de dentro das casas interditadas. O medo deles é voltar para casa e não encontrar nada devido a saques.

A dona de casa Aila Maria da Silva, 40, e o marido, Manoel da Silva, 40, voltaram à residência do casal, numa travessa na rua Guanabara, para pegar eletrodomésticos, roupas e documentos. “Mesmo sem a polícia deixar, a gente conseguiu subir e retiramos algumas coisas de valor, que couberam na mala do carro. Quem nos garante que a casa está protegida?”, contou Aila, que está na casa da sogra, em Parnamirim. Ela disse que outros vizinhos também retiraram móveis e eletrodomésticos dos imóveis.

Pelo menos quatro pessoas foram detidas ao serem flagradas saqueando imóveis no Mãe Luiza na segunda-feira (16). Eles pegaram fios elétricos e eletrodomésticos e não foram identificados, por não portarem documentos.

Cratera

As chuvas torrenciais ocorridas no fim de semana fizeram parte do morro ceder e uma cratera destruiu parte da avenida Governador Silvio Pedroza, interditada desde a segunda-feira (16). Moradores da avenida Guanabara afirmam que o buraco engoliu três carros e uma moto.

Dois prédios de luxo, os edifícios Aldebaran e Infinity, estão fechados por ficarem muito perto da cratera. A Defesa Civil avalia nesta terça-feira as estruturas dos prédios para decidir se libera ou não o acesso dos moradores aos edifícios. 
 
Há pelo menos 40 casas com risco de desabamento. Elas vão ser avaliadas por geólogos da prefeitura se serão demolidas ou recuperadas. Segundo a prefeitura, o acesso aos imóveis interditados não é permitido.
 
De acordo com a Defesa Civil Municipal, no bairro Mãe Luiza 20 imóveis foram totalmente destruídos e cem famílias ficaram desabrigadas. Porém a Prefeitura de Natal contabilizou mais 30 famílias residentes nas áreas de Lagoa do Preá, Novo Horizonte, Comunidade do Jacó e São Conrado que também estão fora de casa.

A casa da comerciante Ana Maria Alves Lobato, 44, foi o primeiro imóvel a ceder quando a lama do morro desceu com a força das chuvas. Ela conta que perdeu a casa e a única fonte de renda da família: um mercadinho localizado ao lado da residência dela, na avenida Guanabara.

A casa de Ana Maria havia sido construída em 2012 e tinha até piscina. “Construímos nosso patrimônio com muito sacrifício e, de repente, num instante, perdemos tudo. Nem a roupa podemos levar, pois, na hora que em saímos de casa, as paredes começaram a desabar”, contou.

Ana Maria disse que ainda está atordoada, pois não tem como voltar a trabalhar para recuperar o prejuízo. “Meu marido ficou desempregado e me ajudava no mercadinho. Não sabemos nem por onde começar, na quinta-feira tínhamos comprado mercadoria e o estoque estava cheio.”

Segundo a prefeitura de Natal, o deslizamento do morro desceu 70 mil toneladas de areia, o equivalente a 5 mil caminhões caçambas cheios.

Parte da terra retirada do local está sendo usada para fazer barricadas em frente a outros prédios e evitar que a água da chuva, prevista para ocorrer nesta madrugada de quarta-feira (18), escoa e atinja as construções.

A Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social está cadastrando as famílias desabrigadas no bairro Mãe Luiza e em outros pontos da cidade, com o objetivo de identificar famílias em situação de vulnerabilidade social. A secretária Ilzamar Pereira informou que os donativos vão ser distribuídos nesta quarta-feira, mas não soube precisar a quantidade de donativos que a prefeitura recebeu.

A Prefeitura de Natal informou que vai pagar o aluguel de casas para os desabrigados. O prefeito Carlos Eduardo disse que “todas as medidas estão sendo adotadas para minimizar os transtornos dos moradores desabrigados e no menor prazo possível recuperar a área degradada”.