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Força Nacional de Segurança chega a SC para conter onda de violência

Renan Antunes de Oliveira

Do UOL, em Florianópolis

03/10/2014 21h38Atualizada em 04/10/2014 04h54

Um avião com soldados da Força Nacional chegou a Florianópolis e pousou na Base Aérea, no Sul da Ilha, por volta da 1h30 deste sábado (4), fim de semana eleitoral.

A Força Nacional foi convocada nesta sexta-feira (3) para ocupar vários presídios de Santa Catarina e conter a onda de violência comandada por presos da facção criminosa PGC (Primeiro Grupo Catarinense). A missão e o destino específicos do efetivo que chegou em Florianópolis ainda não são conhecidos.

A facção realizou 64 ataques a ônibus e policiais em 26 cidades durante sete dias. Três pessoas já morreram no Estado. 25 ônibus foram incendiados.

A decisão de chamar a Forna Nacional foi negociada entre o governador em exercício, desembargador Nelson Martins, e o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, e anunciada no início da noite desta sexta-feira (3) no Centro Administrativo do Estado.

A terceira onda de violência, iniciada em 26 de setembro, aparentava estar sob controle das forças de segurança do Estado. Enquanto isto, superadas pela tática de guerrilhas dos bandidos, as autoridades estaduais negociavam com o ministério uma solução para a crise.
 
No meio da tarde, enquanto o governador Martins dava entrevista recomendando que "a população não sucumba ao terror" imposto pelo PGC, os bandidos incendiaram mais dois ônibus, um em Joinville e outro em Florianópolis.

O ministro Cardoso desembarcou no Estado pouco antes do anoitecer e dirigiu-se ao palácio do governo - prédio também atacado a tiros pelo PGC, às 2h15 da madrugada da quinta (2).

Após relutância, Estado reconheceu papel do PGC nos ataques

Depois de relutar durante alguns dias, a Secretaria de Segurança reconheceu o PGC como responsável pelos crimes, idênticos aos de 2012 e 2013.

O governador Nelson Martins disse que "a motivação dos criminosos existe porque eles sofreram estrangulamento econômico pela repressão policial".

Os detalhes operacionais do enfrentamento ao crime nas ruas não foram revelados. Mas, a julgar pela maneira como ocorreu a intervenção federal em fevereiro de 2013, durante a segunda onda, as cadeias de Florianópolis, Blumenau, Itapema, Criciúma e Joinville serão ocupadas e as lideranças do PGC transferidas para fora do Estado - nove delas já foram identificadas pela secretaria de Justiça.

Na ocasião da segunda onda, iniciada em 30 de janeiro de 2013, o governo do Estado adotou a mesma retórica do "tudo sob controle" até que a FNS desembarcou em Santa Catarina.

Então, o governador Raimundo Colombo (PSD) admitiu que "mentia por uma razão de estratégia", para manter a segurança das operações.

Criminosos comandam ataques de dentro da prisão

Violência já supera níveis dos ataques de 2012

Dados da PM indicaram o aumento da violência acima dos níveis dos ataques de 2012 apenas nos dois últimos dias (15 ataques na quinta e mais 15 nesta sexta), precipitando a decisão de chamar a FSN.  

Nos ataques da noite os principais alvos foram casas de policiais e postos, com tiros ou bombas incendiárias. Não houve feridos. Ônibus foram atacados em Joaçaba e Chapecó.

Em Palhoça, na Grande Floripa, a casa vazia de um PM em serviço durante a noite foi alvejada com seis tiros. Em Biguaçu, atacantes jogaram uma molotov na casa dos pais de um soldado, possivelmente por engano.

Em Joinville (190 km de Floripa), uma delegacia foi alvejada.

Tubarão e Araranguá, no sul do Estado, entraram para a lista de cidades atingidas nesta noite. Na segunda, uma creche foi atacada com uma bomba incendiária, mas o artefato falhou. A capital Florianópolis, com 14 incidentes, foi a mais visada pelos criminosos.

Floripa, Chapeco, Criciúma, Blumenau e Joinville estão com transporte coletivo tumultuado e funcionando com escolta policial.

Com a proximidade das eleições no domingo, o governo federal já tinha sinalizado a intervenção, deslocando um destacamento de agentes da Policia Rodoviária Federal  (PRF) do Rio Grande do Sul, para auxiliar no combate aa criminalidade. Ele atua desde quarta realizando bloqueios nas principais rodovias do Estado.

As policiais Civil e Militar convocaram todos os seus agentes em férias ou licença para trabalhar no próximo fim de semana.

Estado já viveu duas ondas de violência nos últimos dois anos

O PGC orquestrou as duas ondas incendiárias notáveis vividas pelo Estado em novembro de 2012 (58 ataques, 27 ônibus incendiados em 16 cidades) e janeiro/fevereiro de 2013 (111 ataques em 36 cidades, com 45 ônibus queimados).

A motivação daqueles ataques foi obter regalias para as lideranças nas cadeias. Elas ordenaram as ações, conduzidas por seus comparsas nas ruas.

A violência acabou depois que a Força Nacional de Segurança ocupou os presídios, isolou os líderes e transferiu 40 deles para cadeias fora de SC. Cerca de 120 pessoas foram presas e acusadas pelos crimes.

Em maio, 83 pessoas foram condenadas pelos ataques a penas que, somadas, chegam a mil anos.

Na terceira onda, dois suspeitos foram mortos em confronto com a PM e um agente prisional foi assassinado, em Criciúma, crime que ainda está sendo investigado.