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Repórter que sofreu abuso no Metrô é contra criação de vagão para mulheres

29.mai.2015 - Homem ejaculou na calça da jornalista Carolina Apple dentro de um vagão do Metrô de São Paulo - Reprodução/Twitter/ArquivoPessoal
29.mai.2015 - Homem ejaculou na calça da jornalista Carolina Apple dentro de um vagão do Metrô de São Paulo Imagem: Reprodução/Twitter/ArquivoPessoal

Diana Carvalho

do BOL, em São Paulo

29/05/2015 19h46

A repórter Caroline Apple, 30, que foi vítima de abuso sexual no Metrô de São Paulo na última quarta-feira (26), é contra a criação de um vagão exclusivo para as mulheres, possibilidade que costuma ser levantada quando casos de violência contra a mulher ocorrem no transporte público.

Em 2014, um projeto de lei criando o chamado "vagão rosa" chegou a ser aprovado pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, mas foi vetado pelo governador Geraldo Alckmin. No Rio de Janeiro, a medida foi adotada em 2006.

"Segregar as mulheres ainda mais não é o caminho para resolver o problema do assédio dentro do transporte público. O uso do vagão rosa não é obrigatório, então, a partir do momento que você usa outro vagão e acontece uma situação de abuso, é capaz de, mais uma vez, culparem a vítima. Do tipo: ‘Quem mandou não estar no vagão destinado a você?’", disse Caroline em entrevista ao BOL.

Para a jornalista, o vagão rosa esmorece a luta por condições melhores no transporte público. "Usar um vagão exclusivo é deixar de lutar por uma melhora efetiva. A gente tem que encarar a realidade, que não é fácil, e não viver uma falsa sensação de segurança". 

No caso de Caroline, ela só percebeu que havia sido vítima de um abuso quando saiu do vagão e notou que sua calça jeans estava molhada - o abusador havia ejaculado em sua roupa. Questionada se sentiu vergonha ou se hesitou em pedir ajuda, a repórter foi enfática: "Eu não tive vergonha e não tenho vergonha de nada". 

"A culpa não foi minha. Quem tem que ter vergonha é o funcionário do Metrô que errou na abordagem e o abusador", declarou.

Na ocasião, Caroline ficou surpresa com a resposta do servidor do Metrô de São Paulo, que disse que não poderia fazer mais nada e que ela deveria ter gritado na hora do ato. Para a jornalista, a culpa, neste caso, não é só do Metrô ou do servidor que não prestou a ajuda necessária.

"Existe o responsável direto, que é o abusador, e o corresponsável que, neste caso, é o Metrô de São Paulo. Mas também existe outro fator, que é a nossa sociedade: machista e segregadora. Uma sociedade opressora que vê a vítima como culpada", afirmou.

Após a repercussão do caso - a própria jornalista escreveu um relato publicado no portal R7 sobre o abuso que sofreu -, Caroline conta que recebeu mensagens de solidariedade e de indignação por parte de amigos e de pessoas que não a conhecem. "Fico muito feliz quando esse apoio vem de homens porque você sabe que é uma coisa que eles nunca vão passar, então existe uma empatia", declarou.

No Facebook, um "Protesto em Defesa das Mulheres que são abusadas diariamente no Metrô de São Paulo" foi marcado para próxima terça-feira (2), às 17h30, na Estação Sé. 

Caroline Apple procurou uma delegacia para fazer um boletim de ocorrência e agora espera que o Metrô de São Paulo identifique o sujeito. "Se encontrarem, com as características que eu dei, vou lá fazer o reconhecimento".

Em nota, o Metrô de São Paulo declarou que repudia o abuso sexual e lamentou a conduta do funcionário que não prestou a ajuda necessária para a jornalista. Além disso, o órgão esclarece que a colaboração dos usuários é fundamental para que todos os passageiros tenham seus direitos respeitados.