Solo atingido por lama em Mariana está morto para agricultura, diz Embrapa
Estudo realizado pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) mostra que o solo das áreas atingidas pela lama vazada da barragem de Fundão, no dia 5 do mês passado, em Mariana (MG), não oferece condições para a atividade agropecuária, comprometendo a fertilidade de vários locais. A lama cobriu 1.430 hectares em regiões das cidades de Mariana, Barra Longa e Rio Doce.
O trabalho foi encomendado pelo governo de Minas Gerais. No entanto, conforme a administração estadual, a pesquisa apontou que amostras colhidas do solo não continham presença de metais pesados em níveis tóxicos.
“Os prejuízos ficaram mais concentrados na calha do rio Doce e na vegetação ciliar”, informa uma nota da Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais), vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e participante do trabalho, que começou no dia 18 de novembro e coletou amostras de dez pontos diferentes.
“Surgiu uma nova camada na parte superior do solo que é praticamente inerte’, afirmou o presidente da Emater-MG, Amarildo Kalil, por meio da assessoria do órgão. As análises foram feitas nos laboratórios da Embrapa, no Rio de Janeiro.
“Apesar de não ser tóxico, o material que está se sedimentando não apresenta condições para a germinação de sementes, nem para o desenvolvimento radiculares das plantas”, afirmou Kalil.
Ele ainda apontou a dificuldade de infiltração da água nesse solo afetado pela lama e o baixo nível de matéria orgânica necessário para a vida microbiana do solo.
O estudo revela também a redução dos níveis de potássio, magnésio e cálcio, necessários para o desenvolvimento de atividades agrícolas. O pH, que mede a acidez do solo, também foi alterado.
“A tendência é que o solo fique bastante compactado por causa dos altos teores de silte e areia fina, com baixa presença de argila”, conforme o boletim.
Grau de compactação
Uma segunda etapa do trabalho está sendo desenvolvida para avaliar no que essa lama que cobriu as áreas irá se transformar e qual será o grau de compactação do material.
“Devemos concluir esse trabalho no início de fevereiro do próximo ano”, afirmou José Carlos Polidoro, da Embrapa.
“Infelizmente, o resultado dos estudos confirmou o estrago para a atividade agropecuária na região. Nosso desafio agora, envolvendo todas as esferas do setor público, é reduzir os problemas dos produtores e buscar alternativas econômicas para eles”, disse Polidoro.
Uma das propostas, segundo o presidente da Emater, seria o reflorestamento intenso, com diversas espécies nativas, na área atingida pela lama de rejeito de minério de ferro.
Conforme o dirigente, a ação consistiria na abertura de covas maiores onde seriam acondicionados todos os nutrientes e matéria orgânica para viabilizar o desenvolvimento das plantas. “É um trabalho que só apresentará resultados daqui a alguns anos”, frisou Kalil.
Uma ação imediata que precisa ser feita é a contenção de erosões, que ainda podem levar sedimentos das áreas afetadas pela lama para os cursos d’água, informou a Embrapa.
De acordo com a assessoria da Emater-MG, os produtores das regiões afetadas praticavam uma agricultura familiar, com criação de gado leiteiro, e hortas e pomares domésticos, além de criação de pequenos animais, como galinhas e suínos. O subdistrito de Bento Rodrigues, o mais afetado pela lama, era conhecido pelo cultivo de pimenta biquinho.
Um questionário será aplicado às famílias atingidas para quantificar as perdas sofridas pelos agricultores e o número de pessoas prejudicadas. Essa pesquisa deverá ficar pronta no início de janeiro do ano que vem.
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