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Sem atingir meta, SP estende cronograma para implantar 400 km de ciclovias

Obras no viaduto Antártica, na zona oeste, uma das regiões que deve ganhar novas ciclovias em São Paulo em breve - 19.dez.2015 - Marcelo D. Sants/Estadão Conteúdo
Obras no viaduto Antártica, na zona oeste, uma das regiões que deve ganhar novas ciclovias em São Paulo em breve Imagem: 19.dez.2015 - Marcelo D. Sants/Estadão Conteúdo

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

04/01/2016 06h00

A Prefeitura de São Paulo estendeu para o fim de 2016 o cronograma para implantação de ciclovias na cidade. Até então, a previsão era que a cidade tivesse 400 quilômetros novos de vias exclusivas para ciclistas até dezembro de 2015.

Segundo a prefeitura, a "alteração se deu por uma série de fatores que afetaram as ações na área, a exemplo de questionamentos do Ministério Público e do Tribunal de Contas do Município". "A prefeitura trabalha para cumprir a meta estabelecida no Programa de Metas, válido até o fim desta gestão [em 2016]", disse a administração municipal por meio de nota.

Em junho de 2014, o secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, anunciou o programa “SP 400km”, que previa a implantação de 400 quilômetros novos de ciclovias na capital paulista até o fim de 2016. Porém o cronograma do projeto (disponível no site da prefeitura) previa que a execução das vias exclusivas terminaria em dezembro de 2015.

A proposta era que, em 19 meses, a cidade ganhasse 400 quilômetros de ciclovias, que seriam agregados aos 64,7 quilômetros feitos por gestões anteriores.

De acordo com o cronograma, a cidade iria atingir a meta prevista aos poucos. Entre julho e setembro de 2014, seriam implantados 40 quilômetros de ciclovias por mês. Outros 60 quilômetros seriam criados em outubro e novembro (metade em cada mês). De dezembro de 2014 até abril de 2015, seriam 20 quilômetros por mês. A partir de maio, a cidade ganharia 15 quilômetros de ciclovias em cada mês até dezembro de 2015, totalizando os 400 quilômetros desejados, a um custo inicial estimado em R$ 80 milhões (R$ 200 mil por quilômetro).

Segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), até 31 de dezembro de 2015, a cidade possuía 277 quilômetros de vias exclusivas para ciclistas feitos desde o lançamento do "SP 400km". Se o cronograma tivesse sido seguido, essa quilometragem teria sido alcançada em abril do ano passado.

Em nota, a CET, sem citar prazos para inauguração, diz que "estão em construção outras ciclovias, como as das avenidas Pacaembu e Antártica (ambas na zona oeste)". Já a prefeitura informa que são previstos mais 136,3 quilômetros de ciclovias, "com projetos que atenderão bairros como Parelheiros e Capela do Socorro (zona sul), Vila Maria, Vila Guilherme e Cachoeirinha (zona norte), São Miguel e Aricanduva (zona leste)". Ou seja, a meta agora é chegar a 413,3 quilômetros novos até o final de 2016. 

Atraso antigo

Em março de 2015, o UOL já havia relatado o atraso para que o plano fosse cumprido. Na ocasião, o diretor de planejamento da CET, Tadeu Leite Duarte, culpou “as intempéries do final de 2014” pela demora e prometeu mudar o cronograma para que a meta fosse atingida. “Em vez de 15 quilômetros por mês, vamos trabalhar com uma média de implantação de 20 quilômetros. Já temos um projeto, é só ajustar”, disse Duarte na ocasião.

A própria prefeitura, em março passado, disse ao UOL que os quilômetros que faltavam para que o “SP 400km” fosse cumprido “estavam planejados para implantação nos próximos nove meses e meio, objetivo consoante com o ritmo já demonstrando” e informou que o cronograma vinha “sendo atualizado continuamente pela equipe técnica da CET".

Hoje, somando a quilometragem de todas as ciclovias --incluindo as feitas em gestões anteriores à administração de Fernando Haddad (PT)--, São Paulo tem 341,7 quilômetros de vias exclusivas para ciclistas.

O cenário adverso da economia faz com que o prefeito não consiga atingir algumas metas que sua gestão traçou, como entregar 150 quilômetros de corredores de ônibus, além da criação dos 400 quilômetros de ciclovias, por exemplo.

Com a arrecadação da cidade abaixo do previsto para o Orçamento de 2015, Haddad chegou a ordenar, em dezembro passado, o corte de ao menos 20% das despesas da capital paulista.

Segurança

Para o pesquisador de mobilidade urbana e professor do Mackenzie Luiz Vicente de Mello Filho, o mais importante, no que tange às ciclovias, seria “pensar em qualidade e não em quantidade”. 

“Elas realmente estão interligando vias que já eram utilizadas pelos ciclistas, mas precisa ver a qualidade. Qualidade está ligada à segurança, que, penso, acabou não sendo o ponto principal, como no caso do Minhocão”, disse o acadêmico referindo-se ao idoso que morreu atropelado por um ciclista no canteiro central da via da avenida General Olímpio da Silveira, embaixo do elevado Costa e Silva, o Minhocão, em agosto passado. 

Além da segurança, o professor diz acreditar que outro fator é fundamental para uma melhor integração da comunidade com as ciclovias: debater o local em que ela será implantada. "Toda vez que se faz uma ciclovia, você tem que falar com os moradores, comerciantes, e ver quais são as opiniões, recomendações de quem vive no local. Isso acontece em Nova York. Assim, quando a ciclovia chega, a comunidade já está integrada a ela e abraça-a", diz Mello.

“É importante sempre envolver a comunidade. Isso evita conflitos”, comenta o especialista, relembrando as reclamações sobre a ciclovia instalada na porta de colégios e universidade em uma rua da zona sul de São Paulo