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Haddad e Alckmin não recebem MPL; após protesto, spray de pimenta no metrô

Flávio Costa

Do UOL, em São Paulo

28/01/2016 20h48Atualizada em 29/01/2016 13h33

O sétimo ato contra o aumento das tarifas de transporte coletivo em São Paulo terminou sem o encontro com o prefeito Fernando Haddad (PT) e o governador Geraldo Alckmin (PSDB). Eles não atenderam ao pedido do Movimento Passe Livre (MPL) para uma reunião aberta com militantes em frente ao prédio da Prefeitura, no centro paulistano, nesta quinta (28).

O protesto ocorreu sem incidentes. No entanto, após a dispersão, houve confusão na estação de metrô Anhangabaú, que estava fechada pelo menos desde 20h30 (horário de Brasília). Em ao menos quatro ocasiões manifestantes tentaram forçar a entrada, entrando em confronto com seguranças. A PM só interveio no primeiro conflito, usando gás de pimenta.

De acordo com o tenente-coronel da PM Márcio Streifinger, responsável pelo policiamento do protesto, a corporação não tem relação com a decisão do Metrô de fechar a estação. Streifinger disse que só ordenou a ação no primeiro momento para dispersar o confronto e depois afastou seus homens para que houvesse negociação entre o Metrô e o MPL.

Segundo o Metrô, o acesso à estação pela rua Formosa foi fechado temporariamente devido ao "princípio de tumulto" e seria reaberto assim que "os ânimos se acalmassem". No entanto, a reportagem do UOL verificou que a entrada já estava fechada antes de a confusão acontecer. A entrada de passageiros só foi liberada em definitivo por volta das 23h.

"Várias pessoas dentro da estação foram agredidas. A gente não está quebrando nada, só queremos a liberação das catracas", disse Andreza Delgado, do MPL. 

 

Ao menos três pessoas foram detidas por seguranças do Metrô e retidas em uma sala dentro da estação após tentarem forçar a entrada. Pelo Twitter, a Polícia Militar informou ter detido um manifestante que teria cometido atos de vandalismo no protesto do MPL realizado no dia 8. Ele foi levado para o 3º DP (Campos Elíseos).

Menos gente

O movimento propôs que o encontro com Haddad e Alckmin ocorresse ao fim do protesto realizado nesta quinta, que partiu do largo do Paissandú, também no centro. No discurso feito coletivamente por militantes logo antes da saída da passeata, Haddad e Alckmin foram chamados de "defensores da catraca". 

Sem a presença dos governantes, os representantes do MPL abriram o microfone para os demais presentes. Entre integrantes de diversos movimentos sociais, discursou o ex-secretário de Transportes Lúcio Gregori, ocupante do cargo na gestão da prefeita Luiza Erundina (1989-1992) e conhecido por propor a adoção da tarifa zero em São Paulo. 

28.jan.2016 - Manifestantes queimam uma catraca feita de papelão em frente à Prefeitura de São Paulo, no centro da capital paulista, durante sétimo ato contra o aumento da tarifa do transporte público em São Paulo - Flávio Costa/UOL - Flávio Costa/UOL
Manifestantes queimam catracas de papelão em frente à Prefeitura de São Paulo
Imagem: Flávio Costa/UOL

Policiais militares ouvidos pelo UOL na manifestação desta quinta identificaram uma diminuição dos números de participantes. 

Segundo Letícia Cardoso, porta-voz do MPL, apesar da aparente diminuição do comparecimento de manifestantes desde terça (26), o movimento avalia as passeatas "positivamente".

O grupo encerrou o protesto com militantes incendiando duas catracas de papelão colocadas em frente à Prefeitura. Integrantes do MPL convocaram nova manifestação para o 25 de fevereiro. "Até lá, feche uma rua, pule uma catraca", defenderam representantes da organização em discurso ao fim do ato. 

Em 20 dias, sete manifestações

A atual jornada de protestos promovida pelo MPL teve início no dia 8 de janeiro, um antes da entrada em vigor do aumento no valor das passagens de ônibus, metrô e trem em São Paulo. O bilhete unitário passou de R$ 3,50 para 3,80, um aumento percentual de 8,57%. Segundo o IBGE, a inflação de 2015 pelo IPCA foi de 10,67%.

No protesto do primeiro dia, houve confronto entre black blocs e policiais militares. O segundo, no dia 12, foi marcado por cenas de intensa repressão policial, com bombas sendo lançadas a cada sete segundos para dispersar manifestantes.

No dia 14, com dois atos -- um rumo ao Butantã, na zona oeste, e outro para o Centro -- houve um tumulto na dispersão da passeata da avenida Paulista, quando oito pessoas foram presas sob acusação de vandalismo na estação do metrô Consolação. Um grupo de jovens denunciou ter sido agredido e perseguido por PMs após o protesto do Butantã.

O MPL também organizou dois protestos no dia 19, um rumo ao Palácio dos Bandeirantes e outro que seguiu para a Prefeitura. Neste último, quase uma hora após a dispersão, a Polícia Militar deteve três pessoas por atear fogo em sacos de lixo na região da Praça da República. A PM disparou ao menos uma bomba de gás lacrimôgenio para dispersar manifestantes.

No dia 21, a PM disparou bombas e balas de borracha depois que manifestantes tentaram furar o bloqueio policial feito na praça da República. Segundo o Gapp (Grupo de Apoio ao Protesto Popular (Gapp), formado por socorristas voluntários, ao menos 16 pessoas foram atendidas com lesões provocadas por de bala de borracha, spray de pimenta ou estilhaços de bombas.

Na terça (26), o protesto terminou sem incidentes, apesar de mais um impasse entre governo e militantes sobre o caminho a ser seguido pelos manifestantes. Os atritos entre o MPL e a Secretaria de Segurança Pública (SSP) em torno da definição dos caminhos dos protestos foram uma constante este ano.