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Irmão de Bruno inclui Comando Vermelho em morte de Eliza e diz haver "pacto de silêncio"

Rodrigo Fernandes, irmão do ex-goleiro Bruno, está preso no Piauí - Reprodução
Rodrigo Fernandes, irmão do ex-goleiro Bruno, está preso no Piauí Imagem: Reprodução

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

05/07/2016 12h27

O irmão do ex-goleiro Bruno, Rodrigo Fernandes, afirmou em entrevista à TV Meio Norte, do Piauí, que existe um “pacto entre várias pessoas” para não dar detalhes sobre o desaparecimento de Eliza Samudio, ex-amante do jogador. Mas na fala afirmou que a facção criminosa Comando Vermelho, do Rio, está envolvida no crime.

“Não pode mais se negar. Está até nos autos, com as pessoas envolvidas. Está classificado pela própria delegacia de Jacarepaguá”, disse, citando que, por medo de ser morto quando voltar à rua, não iria dar mais detalhes sobre o assunto.

Rodrigo disse ainda que o grupo PCM (Primeiro Comando do Maranhão) também estaria envolvido no crime. Segundo a investigação, o irmão de Bruno seria integrante desse grupo. “Sobre isso não posso falar”, afirmou.

O PCM é um dos grupos que tomam conta dos presídios do Estado e foi responsável, com a facção "Bonde dos 40", pelas 60 mortes no Complexo Prisional de Pedrinhas, no Maranhão, em 2013. 

O irmão de Bruno deu a entender que sabe o local onde estão os restos mortais da ex-amante, mas disse que não iria contar. “Esse assunto interessa à Justiça. Eu não vou pegar as cartas da manga da camisa e jogar na mesa. É o seguinte: a Justiça trabalha com informações…”

À Polícia Civil do Piauí, Rodrigo teria contado onde estariam os restos mortais de Eliza, mas o delegado não deu mais informações

Rodrigo disse que o silêncio é por medo de pessoas envolvidas no crime e citou a existência de um pacto "com Bruno e outras pessoas" para não revelar como tudo aconteceu. “É o seguinte: Existem dois grupos fortes [envolvidos no crime], PCM e CV. Amanhã eu tô na rua, quem vai me dar proteção? O Estado do Piauí? Se hoje abrir a boca tudo a respeito desse fato, amanhã… estou começando a falar a parte em que estou citado”, explicou.

Hoje, segundo ele, existem dois mandados de prisão que o mantêm detido no Centro de Detenção Provisória de Altos, no interior do Piauí. Rodrigo é suspeito de estupros e foi preso em setembro de 2015. 

Por que resolveu falar agora?

O irmão do ex-goleiro contou por que foi chamado a depor, "há duas semanas", no processo em que se investiga o desparecimento da modelo. “Encontraram três fotografias minhas na investigação, uma no sítio [de Bruno], no dia da festa em que Eliza estava, com vários jogadores do Flamengo, em Belo Horizonte. Acharam outra no dia em que foram buscar ela em São Paulo. A outra foi em um carro desse Estado [do Piauí], uma Hilux, e outra com placa no maranhão, no último dia em que ela saiu no sítio do goleiro Bruno”, diz.

O sítio fica localizado em Esmeraldas, na região metropolitana de Belo Horizonte. Na festa citada, Bruno e Eliza teriam tido relações sexuais. O local teria se transformado no cativeiro de Eliza após o seu sequestro.

Perguntado, Rodrigo não negou nem confirmou que as fotos são autênticas: “Tem que comprovar se ela [a foto] é realmente minha. Isso cabe ao investigador, dizer se é montagem ou não”.

Ele disse que "já deu outras entrevistas" e que esta nova conversa se dava também por livre e espontânea vontade.

Tentativa de aborto frustrada

Segundo o relato de Rodrigo, o envolvimento dele seria em uma tentativa de aborto, em junho de 2009. "Foram pegar a Eliza, que estava na casa da Milena, uma amiga dela. Quando ela saiu, de longe reconheceu o carro do Bruno. Ao entrar no carro, ela olhou para o banco de trás, viu uma pessoa deitada e perguntou para o Bruno: 'Quem é essa pessoa?'. E o Bruno disse: 'É o meu irmão'. Ele citou meu nome”, disse, na entrevista.

Rodrigo deu então detalhes do que teria ocorrido no dia em que tentaram forçar Eliza a abortar. “Levaram ela para o apartamento do Bruno, deram um medicamento forte para ela e tentaram botar ela para abortar a criança. Mas ela tomou a opção de abortar na sexta-feira. Ela pediu para ligar para o Marcelo, para ele comunicar ao Bruno que ela tinha topado fazer o aborto. Depois de tomar o remédio ela caiu no sono. Quando acordou, pegaram ela, colocaram de novo no carro com placa do Piauí, levaram até ao Rio, próximo a um ponto de táxi, e mandaram ela voltar para casa da Milena. Aí ela chegou e contou tudo para a Milena, e foram para delegacia e ela registrou o fato na polícia", disse, confirmando que “naquela época estava no Rio”.

A “traição” de Eliza ao não abortar teria sido o estopim da fúria de Bruno contra a ex-amante.

Questionado se o irmão teria lhe dado a "missão" de sumir com Eliza Samudio, ele se negou a responder. “O Bruno tomou uma atitude precipitada, que até um menor que ele envolveu foi o primeiro a abrir a boca”, disse. "Foi ele quem me botou nessa história ao citar meu nome."

"Farsa"

O delegado aposentado da Polícia Civil Edson Moreira, que chefiou em 2010 as investigações sobre o sumiço de Eliza, disse não acreditar na versão apresentada pelo irmão do goleiro Bruno Fernandes sobre o paradeiro do corpo de Eliza Samudio.

Moreira, atualmente deputado federal pelo PR, foi quem comandou as investigações sobre o sumiço da ex-amante do goleiro em Minas Gerais. O parlamentar afirmou que a participação de Rodrigo Fernandes no caso nunca foi registrada nem citada no inquérito policial sobre o caso.

“Ele não estava [em Minas] na época do crime, não sabe como o crime foi feito. O nome dele nunca apareceu no inquérito porque ele não participou. O nome dele só apareceu porque ele é irmão do Bruno e, na época, surgiram as notícias sobre seu envolvimento em casos de estupro”, afirmou.

Conforme as investigações, Eliza teria sido morta, em 2010, na casa do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola. O imóvel fica em Vespasiano, cidade da região metropolitana de Belo Horizonte.

Conforme Moreira, apenas duas pessoas poderiam saber o paradeiro do corpo de Eliza. Ele citou Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, condenado a 22 anos de prisão, em 2013, por ter sido considerado o executor de Eliza. O deputado se referiu também ao policial civil aposentado José Lauriano de Assis Filho, o Zezé, que foi denunciado por envolvimento no caso, em 2015, pelo MPE (Ministério Público de Minas Gerais). 

“Além desses dois, nem Bruno, nem Macarrão [citando Luiz Henrique Ferreira Romão [ outro condenado no processo] sabem onde está o corpo dela. Muito menos o irmão do Bruno’, declarou.

(Colaborou Rayder Bragon, em Belo Horizonte)