Topo

Contra transferências, detentos entram em confronto em presídio do RN

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Nísia Floresta (RN)

19/01/2017 11h43Atualizada em 19/01/2017 18h29

A situação voltou a ficar tensa na Penitenciária de Alcaçuz, em Nísia Floresta (25 km de Natal) no final da manhã desta quinta-feira (19). Um novo confronto entre detentos de facções rivais foi iniciado por volta das 10h (11h no horário de Brasília). Segundo os presos, há mortos no local. Desde o massacre de 26 pessoas no sábado (14), os detentos estão soltos e nos telhados da unidade.

A batalha campal foi iniciada quando presos ligados ao Sindicato do Crime do RN tentaram invadir o pavilhão 5, onde estariam os detentos ligados ao PCC (Primeiro Comando da Capital), que acabaram saindo do pavilhão para o pátio, dando início ao enfrentamento, com pedras e paus jogados.

Os membros do PCC montaram barricada com chapas e pedaços de madeira, já os presos do Sindicato ocupam o telhado de um dos pavilhões. Apenas um espaço de 50 metros separa os dois grupos. Houve muita correria durante cerca de uma hora. Não havia policiais dentro do presídio durante o confronto.

Policiais atiram das guaritas para tentar conter a invasão ao pavilhão 5 e evitar o confronto. Já os presos arremessaram objetos contra eles, na tentativa de revidar os tiros. Foram disparados tiros e bombas dentro da unidade de forma constante. 

Presos de facções rivais entram em confronto dentro de Alcaçuz - Beto Macário/UOL - Beto Macário/UOL
Presos de facções rivais entram em confronto dentro de Alcaçuz
Imagem: Beto Macário/UOL

Não há informações oficiais sobre feridos, mas ao menos três presos foram vistos pedindo ajuda na portaria da unidade, segundo apurou a reportagem do UOL. Desesperados, os familiares de presos estavam do lado de fora da penitenciária acompanhando o confronto. Eles dizem que há feridos e pode haver mortos. Por volta das 11h45, pelo menos duas ambulâncias chegaram à penitenciária.

Segundo informou um agente penitenciário, informações vindas dos próprios detentos apontam para três mortes.

Por volta das 16h20, presos atearam fogo no pavilhão 3 de Alcaçuz, que era dominado pelo Sindicato do Crime. Uma grande nuvem de fumaça preta tomou conta da penitenciária.

O diretor do presídio, Ivo Freire, informou que presos jogaram pedras nele, mas foi atingido de raspão. "Fiz um curativo e estou bem", disse.

Ele contou que estão esperando ordens superiores para entrar no presídio. O diretor não falou sobre mortos e feridos. "A gente ainda não sabe, estamos trabalhando manter a integridade deles [presos]", informou.

Contra as transferências

Um dos presos, que afirma ser membro do Sindicato do Crime, conversou com o UOL por telefone e afirmou que eles não aceitam a transferência de presos ligados à facção. "Não aceitamos isso de maneira nenhuma. Vai ter confronto. Vamos resolver do nosso jeito porque o Estado está agindo em acordo com o PCC", disse, sem se identificar.

Ontem, 220 presos foram retirados da Penitenciária Estadual de Alcaçuz e levados para a Penitenciária Estadual de Parnamirim, também na região metropolitana da capital potiguar.

Os internos transferidos ocupavam os pavilhões 1 e 2 e eram ligados principalmente à facção Sindicato do Crime. Em contrapartida, 230 presos de outros presídios deveriam ser levados para Alcaçuz.

De acordo com o secretário de Segurança Pública do Estado, Caio Bezerra, esses detentos não pertencem a nenhum grupo criminoso.
Presos ligados aos Sindicato do Crime que permaneceram em Alcaçuz temem, no entanto, que os novos presos entrem para o PCC e que eles, agora como minoria, sejam assassinados.

Juíza proíbe transferência

Nesta quinta-feira (19), a juíza da Vara de Execuções Penais do Rio Grande do Norte, Nivalda Torquato, proibiu o Estado de prosseguir com a transferência de presos para dentro de Alcaçuz.

"Neste momento de desconfiança entre os presos, não há possibilidade de saber quem são os presos do Sindicato do Crime. Só os do PCC estão se declarando como integrantes desta facção", disse.

"A Penitenciária Estadual de Alcaçuz, em meio a uma rebelião, com presos armados, jamais poderia receber presos. Qualquer decisão em contrário não seria razoável", acrescentou.