Sem polícia há 7 dias, capixabas tentam retomar rotina
No sétimo sem policiamento, os capixabas tentam voltar à vida normal aos poucos.
Nesta sexta-feira (10), uma longa fila foi vista em uma casa lotérica da capital, Vitória. “Os bancos param, mas as contas não”, diz o segurança Rômulo Ferreira, 57. “É uma faca de dois gumes. Para protestar eles têm que parar, eles recebem muito mal, correm risco de vida todos os dias”.
Bancos, escolas e serviços públicos não estão funcionando.
Quem não suporta mais a sensação de insegurança no Espírito Santo é a visagista Juliana Galdino Pinto, 56, que também foi até uma lotérica pagar suas contas. Ela deseja que o governo negocie com os familiares dos policiais. “Negocia, gente. Negocia. Essa posição é ridícula. Tira de algum lugar. 43% não vão pagar, mas eles não recebem reajuste há anos. É justo que [eles] peçam isso”.
Segundo o Sindipol (Sindicato dos Policiais Civis), o número total de mortes é de 121, desde o começo da crise. O governo não divulgou nenhum balanço de ocorrências e também não desmente o levantamento do Sindipol.
Desde sábado (4), familiares de policiais militares impedem que eles saiam dos quartéis para trabalhar. A categoria pede reajuste salarial de 43% e a anistia dos PMs para voltar ao trabalho --há punição para os profissionais que participem de mobilizações e greves. Uma reunião entre o governo do Espírito Santo e famílias dos policiais terminou sem sucesso no início da madrugada desta sexta. O governo diz que não têm verba para conceder o aumento pretendido. E, na manhã desta sexta, o governo anunciou corte de salário e punição a pelo menos 703 policiais.
Sem ônibus, sem trabalho
Como no restante da semana, a população está sem transporte público. O Sindirodoviários-ES (Sindicato dos Rodoviários do Espírito Santo) decidiu, após o assassinato de um de seus membros na quinta-feira (9), que os ônibus não voltarão a circular na Grande Vitória enquanto o policiamento não for restabelecido.
A falta de ônibus tem afetado o funcionamento do comércio. O microempresário Carlos Elisei, 60, possui um restaurante com 20 funcionários em Vitória --que está fechado há uma semana. Ele estima um prejuízo de até R$ 17 mil. “Não tem como levá-los [funcionários ao restaurante], como garantir a segurança”. O MPT-ES (Ministério Público do Trabalho do Espírito Santo) já recomendou aos empresários capixabas que liberem seus funcionários do trabalho caso não possam garantir transporte seguro e resguardar a vida deles.
Para Elisei, a situação que ele e os habitantes capixabas enfrentam pode se espalhar pelo país. “Vitória é a ponta do iceberg. O país todo está com problemas. Há Estados piores, mas se pegar aqui espalha para o resto”.
Nesta sexta-feira, familiares de PMs do Rio de Janeiro fizeram protestos semelhantes e impediram a saída de patrulhas de alguns batalhões.
Entenda a crise no ES
No sábado (4), parentes de policiais militares do Espírito Santo montaram acampamento em frente a batalhões da corporação em todo o Estado. Desde segunda-feira (6), o movimento é considerado ilegal pela Justiça do Espírito Santo porque ele caracteriza uma tentativa de greve, o que é proibido pela Constituição. As associações que representam os policiais deverão pagar multa de R$ 100 mil por dia pelo descumprimento da lei.
A ACS-ES (Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Espírito Santo) afirma não ter relação com o movimento. Segundo a associação, os policiais capixabas estão há sete anos sem aumento real, e há três anos não se repõe no salário a perda pela inflação.
A SESP (Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social) contesta as informações passadas pela associação. Segundo a pasta, o governo do Espírito Santo concedeu um reajuste de 38,85% nos últimos 7 anos a todos os militares e a folha de pagamento da corporação teve um acréscimo de 46% nos últimos 5 anos.
A falta de policiamento nas ruas aumentou a criminalidade no Estado. Segundo o Sindipol-ES (Sindicato dos Policiais Civis do Espírito Santo), desde sábado, foram registradas ao menos 121 mortes violentas. Até o início da crise de segurança, a média de homicídios em território capixaba era de cerca de três por dia.
*Colaborou Nathan Lopes, do UOL, em São Paulo
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