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Lula encerra ato de trabalhadores com críticas a reformas de Temer

15.mar.2017 - metalúrgico aposentado, Nelson Gonçalves, 68, trouxe uma faixa com uma mensagem contra a reforma da Previdência. "Eu só escrevi sobre os trabalhadores e aposentados. Não cabe nela todo mundo que vai ser prejudicado como os professores, estudantes." - Daniela Garcia/UOL - Daniela Garcia/UOL
O metalúrgico aposentado, Nelson Gonçalves, leva faixa com mensagem contra a reforma
Imagem: Daniela Garcia/UOL

Daniela Garcia e Maria Júlia Marques

Do UOL, em São Paulo

15/03/2017 19h41Atualizada em 15/03/2017 22h32

Um dia após prestar o primeiro depoimento como réu da Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou o palanque de uma manifestação organizada por centrais sindicais nesta quarta-feira (15) para criticar o governo Temer e "dar a largada"  para uma eventual candidatura à Presidência da República.

Em seu discurso diante de milhares de manifestantes contra a reforma da Previdência, na avenida Paulista, Lula afirmou que quer “o direito de voltar a ser respeitado com dignidade” e que “o povo só vai parar [de protestar] quando eleger um governo democrático de direito”. Manifestantes na primeira fila em frente ao carro de som responderam: "É você".

Em ato contra a reforma da Previdência, Lula discursa para multidão na Avenida Paulista - Paulo Pinto/Agência PT/Reprodução - Paulo Pinto/Agência PT/Reprodução
Lula discursa para multidão na av. Paulista
Imagem: Paulo Pinto/Agência PT/Reprodução

O ex-presidente também afirmou que está cada vez mais claro que um golpe foi dado, não só contra a ex-presidente Dilma Rousseff, mas contra as conquistas sociais do povo, tentando “enfiar goela abaixo do povo brasileiro uma reforma que vai impedir a aposentadoria de milhões”.

Para finalizar seu discurso, Lula criticou o presidente Michel Temer: “O Temer deveria ser presidente de uma empresa, para vender o que ele produzisse e não vender os bens do povo brasileiro. Esse país era respeitado no exterior e hoje temos um presidente que não tem coragem de ir nem na Bolívia.”

 
Em discurso a uma plateia de empresários e servidores, o peemedebista ignorou as manifestações pelo país e disse que a administração federal está apontando um caminho para "salvar a Previdência Social do colapso". "A sociedade brasileira, pouco a pouco, vai entendendo que é preciso dar apoio a este caminho para colocar o país nos trilhos", disse.
 
Lula discursou por volta das 19h30 desta quarta-feira para manifestantes que foram às ruas na capital paulista contra as reformas da Previdência e trabalhista. Movimentos sociais, centrais sindicais e trabalhadores se reuniram na avenida Paulista, em São Paulo, como parte do Dia Nacional de Paralisações e Greves, que atingiu 19 Estados do país.
 
Líder em todos os cenários de primeiro turno para 2018 em pesquisa Datafolha realizada em dezembro do ano passado, o ex-presidente é réu em cinco ações na Justiça, sendo três no âmbito da Operação Lava Jato.  A taxa de rejeição de Lula (PT), conforme o Datafolha, é de 44%. A rejeição de Temer (PMDB) para um cenário de primeiro turno nas eleições de 2018 cresceu 16 pontos percentuais desde julho de 2016 e empatou tecnicamente com a do petista.
 
Segundo a estimativa da organização feita às 18h30, 80 mil pessoas participam do ato na avenida Paulista. De acordo com o jornal Folha de São Paulo, dois manifestantes foram detidos pela Polícia Militar durante a dispersão da manifestação.

A avenida Paulista foi bloqueada nos dois sentidos por volta das 16h20, de acordo com a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). O protesto acabou por volta das 20h, e a via foi completamente liberada para tráfego às 21h30. De acordo com a Polícia Militar, não houve o registro de ocorrências.

Manifestantes explicam protesto

A professora da rede estadual Rosa Maria Moura, 54,foi uma das manifestantes presentes na Paulista. Ela se disse preocupada com mudanças na aposentadoria. "Eu deveria aposentar daqui a dois anos. E agora está tudo indefinido", afirma.

15.mar.2017 - Eleonora Menicucci, ex-ministra do governo Dilma, participa de manifestação na avenida Paulista nesta quarta-feira. Ela afirma que as mulheres estão sendo "penalizadas" na reforma da Previdência. "Esse é um governo de brancos e ricos, que não ouvem as mulheres. Para o Temer, as mulheres têm que ficar em casa"  - Daniela Garcia/UOL - Daniela Garcia/UOL
Eleonora Menicucci, ex-ministra do governo Dilma, participa de manifestação
Imagem: Daniela Garcia/UOL

Outra manifestante, Maria d'Ajuda, 48, pediu a saída de Michel Temer da Presidência. Cozinheira, ela está desempregada há um ano. "Eu quase passo fome com meu filho de 7 anos. Esse homem quer acabar com os pobres."

Eleonora Menicucci, ex-ministra do governo Dilma, também participou do ato. Ela afirmou que as mulheres estão sendo "penalizadas" na reforma da Previdência. "Esse é um governo de brancos e ricos, que não ouvem as mulheres. Para o Temer, as mulheres têm que ficar em casa." A petista diz que a proposta de reforma não leva em conta a dupla jornada enfrentada pelas mulheres. "É um absurdo que as mulheres passem a se aposentar com 65. Nós ainda estamos na situação de cuidadoras da sociedade."

Já o metalúrgico aposentado, Nelson Gonçalves, 68, trouxe uma faixa com uma mensagem contra a reforma da Previdência. "Eu só escrevi sobre os trabalhadores e aposentados. Não cabe nela todo mundo que vai ser prejudicado como os professores, estudantes", afirmou.

Professores estaduais anunciam greve

Os professores da rede estadual de São Paulo afirmaram que entrarão em greve entre os dias 28 e 30 de março. O anúncio foi feito durante a manifestação na praça da República contra as reformas da Previdência e trabalhista. No dia 31 de março, a categoria promete se reunir em uma assembleia para determinar se a paralisação será mantida ou não. De acordo com a Apeoesp, sindicato dos professores, a principal reivindicação é o reajuste salarial.

"Não aceitaremos a reforma da Previdência e a reforma do Ensino Médio imposta pelo governo golpista, nem o desmonte feito pelo governo Alckmin na educação de São Paulo", disse Maria Izabel Noronha, presidente da Apeoesp.

Segundo o sindicato, mais de 70% dos professores estaduais aderiram à paralisação nacional desta quarta. Já a Secretaria da Educação afirma que apenas 3% da rede na capital foi afetada com a greve e que as aulas serão respostas.

Reforma da Previdência é alvo de protestos pelo país

O Dia Nacional de Paralisações e Greves contra as reformas da Previdência e Trabalhista propostas pelo governo do presidente Michel Temer, registrou atos em ao menos 19 Estados e no Distrito Federal nesta quarta. No Rio, a manifestação terminou em confronto entre a guarda municipal e black blocs. Em Brasília, manifestantes estenderam uma faixa contra a reforma da Previdência no prédio do Ministério da Fazenda. Veja como foram as manifestações em outras regiões do país.

Um dos pontos mais polêmicos da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287 é a idade mínima de 65 anos para homens e mulheres se aposentarem. Entenda em que pé está a reforma da Previdência.

Em discurso nesta quarta, Temer defendeu a reforma da Previdência proposta por seu governo. "Nós apresentamos, convenhamos, um caminho para salvar a Previdência do colapso, para salvar os benefícios dos aposentados de hoje e dos jovens que se aposentarão amanhã. Isso, meus amigos, parece ser coisa 'será que é para tirar direitos de pessoas?'. Em primeiro lugar, não vai tirar direito de ninguém. Quem tem direito já adquirido, ainda que esteja no trabalho não vai perder nada do que tem", disse.

*Com informações da Agência Estado