Mulher é presa acusada de simular doença nos olhos para receber doações
Uma mulher foi presa em São Gotardo (MG), acusada pela Justiça de fingir uma infecção nos olhos e simular feridas com maquiagem para comover as pessoas e assim receber doações para um suposto tratamento oftalmológico.
Além da prisão, na sexta-feira (28), foram realizadas buscas e apreensões na casa de Kamilla Resende Nunes, 30. O Fórum de São Gotardo informou nesta segunda-feira (31) que ela ainda não tinha constituído advogado.
O promotor de Justiça de São Gonçalo, Sérgio Alvarez Contagem, disse que as apurações do caso foram conduzidas pelo próprio MP (Ministério Público) de Minas Gerais, mas o caso corre atualmente sob sigilo.
Em seu depoimento à polícia, Nunes disse que sofre de hipertensão arterial maligna. Ela afirmou que a doença é rara e acomete órgãos como o coração, rins, tireoide e olhos.
A mulher alegou ainda ter deslocamento de retina e hipertensão intraocular, devido a uma infecção contraída em uma cirurgia na cabeça.
Ainda de acordo com a polícia, Nunes mostrou cicatrizes e marcas do lado direito do rosto e também um tipo de secreção que sairia de seus olhos. Ela foi examinada por um médico no Hospital da Santa Casa de São Gotardo, passou por um eletrocardiograma e teve os olhos limpos.
O exame constatou que ela possui hipertensão. Com relação à infecção nos olhos, o médico disse à PM que ela teria de ir a um especialista para confirmar a infecção.
Oftalmologista
O oftalmologista Jader Martins Mariano Silva, 49, com 17 anos de profissão, foi incumbido pelo MP de avaliar a situação.
“Foi na segunda-feira (24) da semana passada. O promotor marcou, mas ela (Nunes) não compareceu”, afirmou o oftalmologista.
“A hipertensão arterial crônica maligna, que é de difícil controle, pode atingir a retina, causando retinopatia hipertensiva. Entretanto, essa doença não é visível a olho nu. A retinopatia hipertensiva só é detectada com um exame de fundo de olho, com equipamento”, disse Mariano Silva.
Para o médico, que esteve anteriormente com Nunes na promotoria, a doença alegada pela mulher não é verdadeira.
“Poderia ser parecido com uma celulite orbitária, mas não tão exagerado. E se ela tivesse uma doença dessas (celulite orbitária), ela estaria internada num hospital, sendo tratada com antibióticos. Aquilo (a doença) é uma farsa mesmo”.
Maquiagem
Uma moradora de São Gotardo, município mineiro de cerca de 40 mil habitantes, disse que corre pela cidade uma história de que Nunes teria engordado a conta bancária em até R$ 50 mil com a suposta fraude. Ela pediu para não ter o nome revelado.
“Tem gente que fala que ela (Nunes) arrecadou mais de R$ 50 mil. Participei da mobilização, mas eu mesma não cheguei a dar dinheiro nenhum”, disse a funcionária pública municipal.
As autoridades investigam se o material pode ter sido usado no suposto golpe.
Outro morador local, que também pediu anonimato, disse que a campanha realizada pela suspeita movimentou São Gotardo.
“Ela mobilizou todo mundo nas redes sociais. A mídia fez campanhas para arrecadar doações, que foram feitas em dinheiro, mas muita gente também enviou alimentos”, afirmou ele.
“Doação não é crime”
Nunes confirmou que estava arrecadando dinheiro para uma cirurgia nos olhos. Ela ainda declarou aos policiais que “doação não é crime” e que “nunca recebeu ajuda de nenhum órgão público”. Ela explicou que faz rifas e campanhas em redes sociais para pagar uma cirurgia de R$ 7 mil, que precisaria fazer com urgência nos olhos.
Enfermeiras que atenderam a mulher anteriormente disseram à polícia que ela sempre impediu que limpassem seus olhos, dizendo que já tinha tido quatro paradas cardíacas. Porém, nos exames cardiovasculares não havia sinais de infartos.
Durante seu depoimento à polícia, na sexta-feira (28), logo após a prisão, Nunes começou a passar mal e foi amparada. Ela disse que tem convulsões diariamente.
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