Sistema Cantareira atinge nível menor do que em 2013; Sabesp nega crise
O Sistema Cantareira atingiu 44% de armazenamento nesta sexta-feira (29). Este nível é menor do que em 2013, pré-crise hídrica, quando operava com 65%. A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) garante que situação está sob controle, mas especialistas ouvidos pelo UOL apontam complicações para o futuro e não descartam uma nova crise.
A companhia informa que desde 2014 – ano em que se iniciou uma grave crise hídrica no estado de São Paulo – já investiu R$ 7 bilhões, distribuídos entre quase 1.000 obras de melhoria do abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo, que inclui o Sistema Cantareira.
De acordo com Marco Antonio Barros, superintendente de produção de água da Sabesp, são duas as principais obras: a interligação Jaguari-Atibainha e o novo Sistema São Lourenço. A primeira conecta duas regiões em pontos diferentes do estado e, caso preciso, pode enviar até 162 bilhões de litros de água por ano no sentido do Cantareira. Já o segundo abastece a Grande São Paulo com oferta de água tratada em até 6,4 mil litros por segundo e cobre cerca de 10% do consumo.
Na prática, segundo Barros, as interligações entre reservas ajudam a desafogar o Cantareira porque a água vem de mais lugares. O bairro da Mooca, na zona leste da capital paulista, por exemplo, é abastecido por quatro sistemas diferentes. Para o superintendente a capacidade de flexibilidade do sistema é um dos três pontos principais do por que a situação atual não é preocupante como no período pré-crise. Os outros dois são recuperação de água perdida e economia da população.
A Sabesp afirma que também tem investido na área de perda durante a distribuição. "Atualmente, conseguimos recuperar cerca de 6.000 litros por segundo da água que antes era perdida", afirma Barros.
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De acordo com Pedro Côrtes, geólogo e professor da Universidade de São Paulo (USP), as melhorias "são um alento, mas, na prática, apenas correspondem ao crescimento da população e, sozinhas, não evitam a crise". Para o geólogo, é possível que, se as chuvas continuarem escassas, tenhamos uma situação crítica até o final do ano ou começo do ano que vem", afirma diz.
Para Samuel Barrêto, gerente nacional de água da ONG internacional The Nature Conservancy, apesar de o abastecimento ter melhorado, "com mais segurança, com a transferência [de água entre reservas] e com os dois novos sistemas", o risco de uma nova crise hídrica existe e ainda há muito a avançar, apesar das obras da Sabesp. "A gente fica no limiar entre a oferta e a demanda", afirma.
O problema, segundo Barrêto, está na lógica empregada pela companhia, visto que "trazer novos sistemas e transferir mais água tem seu limite". "Se o nível continuar [a cair], podemos atingir uma situação crítica", adverte.
Como sugestão de atitudes a serem tomadas, o especialista argumenta que a companhia deveria investir mais na despoluição de represas, em reformas para evitar vazamentos das redes de distribuição e cuidar melhor dos mananciais por uma questão de economia. "Nova York não tratou os seus mananciais porque é chique, mas porque é seis vezes mais barato do que tratar a água depois", explica.
Apesar das ressalvas dos especialistas e de haver um alerta, o superintendente da Sabesp afirma que "estamos muito longe de uma crise hídrica", já que o nível dos reservatórios vai de 0% a 100% e quase metade ainda está disponível. "[O nível de armazenamento] está baixo, mas o reservatório foi construído para operar desta forma, considerando alternância períodos", explica.
De acordo com Barros, a empresa busca sempre incentivar o consumo moderado, apesar de ter abrandado as regras usadas em época de crise. "Hoje há a diminuição da pressão só no período da madrugada como parte do programa de redução de perdas", afirma Barros.
Os três concordam, no entanto, que parte da solução passa pelo consumo racional de água. "As pessoas e os prédios devem cada vez usar água de reúso. Em casa, pode-se usar a água de lavar roupa para fins menos nobres, como lavar o chão, por exemplo", sugere Barrêto.
Influência do clima e do tempo
Segundo o geólogo Pedro Côrtes, o sistema é especialmente afetado por dois motivos: é o principal abastecedor da Grande São Paulo – o que se traduz em um consumo maior do que os outros – e a sua localização geográfica. “É preciso evitar desperdício a qualquer custo. Nosso sistema é dependente do clima e não dá para negociar com a chuva; precisamos pensar nisso no dia a dia", explica.
As previsões climáticas na região não são muito animadoras. De acordo com o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec/Inpe), a situação de seca deverá se manter no próximo trimestre – de julho a setembro – na região Sudeste, com possibilidades de chuvas esporádicas, o que seria uma “anomalia positiva”.
Segundo o superintendente da Sabesp, é normal que haja uma queda no nível no período de estiagem. "Desde a primavera do ano passado estamos tendo chuvas irregulares, com meses muito abaixo da média histórica", argumenta. Em abril, por exemplo, o Cantareira recebeu um nível de chuva de 22,4 milímetros, quando a média para o mês é de 86,6 milímetros, segundo medições da companhia.
"Três meses ruins não são eternos", afirma o executivo. "Uma situação climática crítica não necessariamente se transforma em crise de abastecimento, as condições hoje são totalmente diferentes.", completa
Barros explica que, diferentemente de 2014, a Sabesp está preparada para este tipo de crise e, por isso, não seria nem comparável a situação atual do Sistema com a época pré-crise. "Em 2013 estávamos preparados para uma condição, [a crise] aconteceu. Agora, estamos preparados para uma condição crítica como aquela", afirma.
Para o superintendente, os hábitos dos consumidores em período de crise foram incorporados ao dia a dia, com uma diminuição de 20% na conta média do cliente em comparação com 2014, o que resultou em uma economia de 10 mil litros de água por segundo, segundo a empresa, uma economia de 10 mil litros de água por segundo. "Antes da crise, o consumo era de 33 mil litros por segundo, hoje são 23 mil litros por segundo. As pessoas estão usando de acordo com as suas necessidades, mas [de forma] racional", afirma.
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