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Caso Marielle: ante pressão, Witzel fala em dar "resposta parcial" ao crime

A vereadora Marielle Franco (PSOL) - Márcia Foletto/Agência O Globo
A vereadora Marielle Franco (PSOL) Imagem: Márcia Foletto/Agência O Globo

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

14/01/2019 15h44Atualizada em 12/03/2019 15h19

O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), afirmou nesta segunda-feira (14) que as investigações da Polícia Civil e do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) sobre a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista dela, Anderson Gomes, caminham em paralelo e em ritmos diferentes. De acordo com ele, existe a possibilidade de que seja apresentado um "resultado parcial dos trabalhos", sem que a investigação esteja finalizada. O crime completa hoje dez meses sem ser elucidado e sob forte pressão por respostas.

"Existe uma linha de investigação do MP e outra da polícia. As duas podem estar irmanadas. Mas eu já disse ao delegado [Giniton Lages, titular da Delegacia de Homicídios da Capital] que, se fosse o caso, a polícia adianta o que está sendo investigado para uma eventual prisão e o MP faz o dele em paralelo. A sociedade espera resposta, ainda que parcial, ainda que não seja completa", afirmou.

Questionado quanto à fragilidade de eventuais respostas tidas com base em investigações parciais, Witzel descartou a possibilidade de que elas levem a prisões de inocentes. "Se a prova está formada, você decreta a prisão com materialidade dos fatos e indícios de autoria. Se há elementos, vamos levar ao juiz para ele apreciar", disse Witzel, relembrando sua experiência como juiz federal.

As declarações foram dadas por Witzel após a solenidade que reconduziu José Eduardo Gussem ao cargo de procurador-geral de Justiça do estado do Rio de Janeiro, nesta segunda. Gussem, que ocupava o cargo desde 2017, permanecerá no cargo até 2021.

A Anistia Internacional reivindicou, em comunicado divulgado nesta segunda, que as autoridades do Rio venham a público se comprometer com a solução correta do crime. "O ano de 2018 terminou sem que o estado do Rio de Janeiro, sob intervenção federal na área de segurança pública, tenha conseguido solucionar o caso. A nova gestão do governo do estado tem o dever de assumir esta responsabilidade e não deixar o caso sem solução. O novo governador e o novo chefe de polícia deveriam vir a público se comprometer com a investigação correta do assassinato de Marielle Franco desde o início de sua gestão", disse Jurema Werneck, diretora executiva da Anistia Internacional.

"A demora na solução do assassinato de Marielle Franco tem enormes impactos negativos, pois gera uma espiral de medo e silêncio entre ativistas, defensores de direitos humanos, jovens, mulheres negras, comunidade LGBT e todas as pessoas e grupos que, de alguma forma, ela representava. Mas, além disso, há uma enorme preocupação com o fato de que algumas das altas autoridades do estado do Rio de Janeiro estiveram envolvidas em um episódio de violência contra a memória e a imagem de Marielle", disse Werneck.

Durante a campanha eleitoral, uma placa em homenagem a Marielle que havia sido colocada em frente à Câmara Municipal, na Cinelândia, centro do Rio, foi retirada pelos então candidatos a deputado estadual, Rodrigo Amorim (PSL), e a deputado federal, Daniel Silveira (PSL). A placa foi quebrada e usada durante ato público de campanha com o então candidato ao Executivo fluminense Wilson Witzel. Ele pediu desculpas à família de Marielle e disse que nunca compactou com atos de intolerância.

Procurador-geral não vê conflito em duas investigações

Gussem disse não ver conflito no fato de haver duas investigações distintas sobre o caso Marielle. "MP faz um levantamento de todos os inquéritos que já existem e faz um cruzamento com organizações criminosas. A Polícia Civil se debruça sobre o episódio específico da morte", explicou.

Pouco antes, ao discursar no evento, Gussem cumprimentou a deputada estadual Martha Rocha (PDT) que sofreu um ataque a tiros neste domingo (13), na zona norte do Rio. De acordo com a deputada, ao menos três ameaças de morte recebidas por ela em novembro foram repassadas à cúpula do Gabinete de Intervenção Federal, que comandou a segurança pública do Rio até dezembro. 

"Crimes como esse são crimes contra a vida. Estendo aqui a minha solidariedade à deputada Martha Rocha, que não teve o mesmo destino da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, mortos por uma ação do crime organizado", afirmou o procurador-geral de Justiça.