Vale: 279 dos 427 funcionários próximos à barragem foram encontrados
Em entrevista coletiva concedida na noite desta sexta (25), o presidente da mineradora Vale, responsável pela barragem que se rompeu em Brumadinho (MG), a 60 km de Belo Horizonte, afirmou que cerca de 427 funcionários estavam trabalhando próximo ao local no momento do rompimento da estrutura. Desses, cerca de 279 foram localizados, segundo a empresa.
A informação coincide com os cálculos do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, que atualizou para 150 o número de desaparecidos.
Fabio Schvartsman comparou o desastre de hoje com o de três anos atrás: também em Minas, uma barreira operada pela Vale em parceria com uma mineradora australiana desabou e causou um dos maiores desastres ambientais da história do Brasil:
A tragédia humana será muito maior do que a de Mariana. Estamos falando de uma quantidade grande de vítimas, mas possivelmente o dano ambiental será menor
Vale e bombeiros divergem quanto à extensão dos danos causados: a empresa diz que uma barragem, a de número 1, se rompeu, e uma outra pode ter transbordado ao receber o excesso de material da primeira. As autoridades falam em três barragens rompidas.
"Não sabemos quantos foram soterrados, por que está tudo debaixo de terra", afirmou Fabio Schvartsman. A Vale tem cerca de 80 mil funcionários em mais de 30 países.
"Importante dizer que essa é uma barragem que estava inativa, há mais de três anos ela não opera e não recebia rejeitos de mineração", disse o presidente Schvartsman.
Segundo o executivo, a empresa ainda não sabe o que levou ao rompimento da barragem, que tinha capacidade de cerca de 12,7 milhões de metros cúbicos - um quarto do que tinha a barragem de Mariana, também em Minas, que estourou em 2015. A estrutura era operada pela Vale em parceria com a mineradora australiana BHP.
Segundo Schvartsman, a estrutura eclodida nesta sexta-feira estava dentro das normas e amparada por "auditorias externas, feitas com empresas internacionais". A lama que despencou da barragem no começo da tarde soterrou o centro administrativo da Vale e o restaurante onde funcionários almoçavam.
Schvartsman também foi questionado sobre a revelação da Folha de S. Paulo de que a barragem de Feijão faz parte de um complexo que foi ampliado no final de 2018. "Não sei te responder, mas deve ter sido para ampliar outra barragem", afirmou
Assistência às vítimas
A Defesa Civil de Minas Gerais e o Corpo de Bombeiros enviaram equipes ao local. O presidente Jair Bolsonaro (PSL) anunciou que visitará a região no sábado e criou um gabinete de crise.
A primeira-dama, Michelle, o acompanhará no sobrevoo sobre Brumadinho, do qual participarão também o governador de Minas, Romeu Zema (Novo), e do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva. Ainda não está definido se Bolsonaro descerá ao solo na região atingida.
Lamento o ocorrido em Brumadinho-MG. Determinei o deslocamento dos Ministros do Desenvolvimento Regional e Minas e Energia, bem como nosso Secretario Nacional de Defesa Civil para a Região.
? Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) January 25, 2019
A operação conjunta ainda não identificou mortos. No início da tarde da sexta-feira, quatro pessoas resgatadas haviam sido levadas a um hospital estadual em Belo Horizonte. O estado delas é considerado estável.
O Ministério da Defesa disponibilizou três helicópteros de médio porte, equipados e com integrantes das Forças Armadas, para atuar em operações de transporte, busca e resgate de eventuais vítimas na região atingida.
O rompimento aconteceu na região do córrego do Feijão, que deságua no rio Paraopeba. A Prefeitura de Brumadinho emitiu um comunicado nas redes sociais pedindo que a população mantenha distância do leito do Paraopeba. Equipes do hospital municipal João Fernandes do Carmo estão de prontidão, mas não haviam recebido vítimas até o último contato com a reportagem do UOL.
A Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais) informa que o abastecimento de água da região metropolitana de Belo Horizonte não será prejudicado com o rompimento das barragens.
"Água está ficando marrom"
O radialista Vanderlei Rodrigues, da Rádio Regional FM de Brumadinho, relatou que os rejeitos já começaram a chegar ao centro da cidade, pelo leito do rio Paraopebas, que corta o município.
"A água já está ficando marrom, começou a chegar aqui", disse em conversa ao telefone com o UOL por volta das 14h40. "Como nos últimos dias choveu muito pouco, e o leito do rio é largo aqui na cidade, estamos com a esperança que ele seja o suficiente para vazar a lama que vem lá de cima sem transbordar."
Rodrigues disse que aparentemente a área mais atingida pelo rompimento foi a da própria Vale, próxima à barragem. De acordo com o radialista, abaixo da barragem principal havia algumas propriedades rurais, como sítios e fazendas, e alguns restaurantes e pousadas. Ele contou que parte do centro da cidade foi esvaziada e "está deserta".
Segundo o governo federal, a ANA (Agência Nacional de Águas) estima que a onda de rejeitos poderá ser amortecida na Barragem da Usina Hidrelétrica do Retiro Baixo, a 220 km do local do rompimento inicial.
Três anos e meio após Mariana
O caso de Brumadinho acontece três anos e dois meses após o rompimento de uma barragem da Samarco em um distrito de Mariana, também em Minas Gerais. A Vale é uma das controladoras da Samarco. Dezenove pessoas morreram na ocasião e milhares perderam as casas em função do vazamento de 40 bilhões de litros de lama.
Segundo o site da mineradora Vale, a barragem principal que rompeu nesta sexta-feira tinha capacidade de 12,7 milhões de metros cúbicos. Para efeito de comparação, a barragem da Samarco, operada pela Vale com a australiana BHP, tinha 50 milhões de metros cúbicos de rejeitos.
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