Temporal no Rio faz moradores se arriscarem em trilha precária no Vidigal

Dezenas de moradores se arriscaram atravessando uma trilha precária na encosta de uma pedra para entrar e sair da favela do Vidigal, na zona sul do Rio. A comunidade ficou praticamente isolada por dois desmoronamentos de terra na avenida Niemeyer, via que funciona como a principal via de acesso à região, na chuva que atingiu o Rio de Janeiro na noite desta quarta-feira (6).

Duas pessoas morreram na região do Vidigal em virtude do temporal. Na cidade, foram ainda mais três mortos: duas em Barra de Guaratiba e uma na Rocinha.

A trilha no Vidigal começa pouco antes do ponto onde um desabamento de terra e uma grande árvore atingiram um ônibus, resultando na morte de uma pessoa na avenida.

O maior movimento na trilha logo após o temporal e durante a madrugada foi de moradores que chegavam do trabalho e tentavam voltar para casa na comunidade. As vias de acesso oficiais da comunidade foram fechadas pela Defesa Civil devido aos desmoronamentos.

O caminho improvisado desce uma encosta de pedra em direção à praia. A reportagem percorreu parte do trajeto. Alguns trechos do caminho têm menos de 30 centímetros de largura. Escadas de madeira foram colocadas de forma improvisada para descer os pontos mais íngremes.

"Não tem outro jeito, a gente tem que ir pra casa de algum jeito", disse uma moradora que não se identificou.

Na praia, funcionários do hotel Sheraton abriram as dependências do complexo para que os moradores pudessem atravessar a maior parte da praia sem serem atingidos pelas ondas. Eles sinalizavam o caminho com lanternas, pois toda a região ficou sem luz.

O pátio externo do hotel estava coberto de lama. Espreguiçadeiras e cadeiras estavam espalhadas desordenadamente por toda a área e era possível ver ratos transitando junto com as pessoas.

Ao sair do hotel, os moradores tinham que caminhar sobre pedras até atingir uma escadaria para subir novamente em direção ao morro do Vidigal - desbordando assim a área do desmoronamento.

Rota de fuga

Dezenas de motoristas e passageiros de ônibus e vans ficaram presos na Avenida Niemeyer entre os dois desmoronamentos.

Ao ver os moradores surgindo da trilha próximo ao Sheraton, muitos abandonaram os veículos para se aventurar na trilha. Duas das pessoas nessa situação eram o professor Adilson Severo Souza, 37, e a gestante Fernanda dos Santos, 30. Eles foram encontrados pela reportagem se abrigando da chuva em uma van de passageiros que não foi atingida, mas ficou isolada pelos deslizamentos. Souza contou que o grupo ficou entre 21h30 de quarta e 3h de quinta nesta situação até decidirem se aventurar na trilha para deixar o local.

Não houve registro de feridos na trilha. O movimento se intensificou após o amanhecer especialmente devido a moradores que tentavam sair do Vidigal para chegar no trabalho.

Já os hóspedes do hotel Sheraton - que teve um de seus halls invadido pela enxurrada - foram orientados a não sair dos seus quartos, mesmo sem luz. Segundo funcionários, nenhum hóspede se feriu.

O saguão do hotel foi usado, porém, para abrigar vítimas que saíram de dois ônibus atingidos por árvores e pelo deslizamento. Eles receberam toalhas e bebidas dos funcionários. Entre eles estaria o motorista de um dos ônibus atendidos.

Até às 8h nem bombeiros nem a Defesa Civil haviam organizado ou interditado a trilha e o movimento de pessoas continuava.