Viúva de músico fuzilado diz que quis reanimá-lo e que carro ia a 20 km/h
Em seu depoimento ao MPM (Ministério Público Militar) do Rio de Janeiro, na sexta-feira (12), a viúva do músico Evaldo Santos Rosa, Luciana dos Santos Nogueira, disse que pediu para tentar reanimar o marido, cujo carro foi atingido por 82 tiros de fuzil durante ação do Exército em Guadalupe.
Ambos estavam no veículo atingido por 82 tiros de fuzil, a caminho de um chá de bebê. No carro também estava o filho de Evaldo e Luciana, de 7 anos, que não se feriu.
Ainda no depoimento, segundo o advogado, Luciana disse que o carro trafegava perto de 20 km/h quando foi alvejado, em razão de um quebra-molas localizado perto do blindado de onde partiram os disparos. O local fica nas proximidades da Vila Militar em Guadalupe.
Técnica em enfermagem, Luciana afirma ter pedido aos bombeiros que a deixassem fazer massagem cardíaca em Evaldo. A essa altura, ele já havia sido retirado do carro e colocado no chão. É o que conta o advogado da família, João Tancredo, que acompanhou o depoimento.
"Os bombeiros diziam que não iria adiantar, porque ele já estava morto. Não fazia sentido", conta. "Era uma tentativa desesperada dela, que ainda tinha alguma esperança", afirma o advogado.
O depoimento de Luciana foi realizado na Procuradoria da Justiça Militar e durou cerca de duas horas. "Ela está muito mexida com tudo, está indignada, à base de remédios", diz o advogado.
Além de Luciana, outras duas pessoas prestaram depoimento: o sogro de Evaldo, Sérgio Gonçalves de Araújo, também baleado na ação, e Michele da Silva Leite Neves, amiga da família. Eles foram ouvidos na terça-feira.
As testemunhas também falaram sobre a tentativa de ajuda do catador de recicláveis Luciano Macedo, que se aproximou do carro em meio aos tiros. Também atingido, ele ficou 11 dias internado e morreu na madrugada de ontem horas depois de ser submetido a uma cirurgia.
Tancredo diz que o Exército queria colher o depoimento dos três em uma unidade militar, e que houve recusa por parte da defesa. "A promotora [do MPM] me ligou e pedimos para que eles fossem ouvidos em um lugar mais confortável, menos agressivo. Um quartel não é um lugar adequado", disse.
O advogado disse não poder dar mais detalhes sobre os depoimentos, porque a investigação corre sob sigilo. Nove de dez militares que foram presos em flagrante pelas mortes seguem detidos.
Segundo o MPM, os membros designados para acompanhar as investigações já receberam o laudo da perícia necropapiloscópica (exame que identifica o cadáver) e o laudo de exame de neocropsia (que identifica a causa da morte) emitidos pela Delegacia de Homicídios da Polícia Civil. São aguardadas a perícia do local, a perícia das armas dos militares e a perícia do carro, além de outras diligências, para dar sequência às investigações.
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