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RJ: operação na Maré apreende 23 fuzis e prende número 2 do tráfico

Operação na Maré apreende 23 fuzis e prende número 2 do tráfico - Divulgação
Operação na Maré apreende 23 fuzis e prende número 2 do tráfico Imagem: Divulgação

Igor Mello

Do UOL, no Rio

18/07/2019 16h08

Uma operação conjunta das polícias Civil e Militar no conjunto de favelas da Maré, na zona norte do Rio, terminou hoje com a maior apreensão de armas e drogas no estado desde a ocupação dos complexos do Alemão e da Penha, em 2010. Segundo balanço divulgado pela PM, foram apreendidas 28 armas, sendo 23 delas fuzis, e aproximadamente 8,5 toneladas de drogas.

De acordo com o balanço, também foram encontradas em poder do tráfico 75 granadas, três metralhadoras, um revólver e uma pistola, além de grande quantidade de munições. Boa parte das armas e drogas foi encontrada em três contêineres armazenados em um depósito na comunidade da Nova Holanda, nas imediações da avenida Brasil.

Cinco pessoas foram presas e um homem foi morto. Segundo a Polícia Civil, ele trocou tiros com policiais da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) logo no início da ação, pela manhã. Não há registros de feridos até o momento.

Durante a operação, também foi preso Adriano Cruz de Oliveira, o Adriano Gordinho, apontado como o segundo homem na hierarquia do tráfico de drogas do Parque União.

A ação é fruto de uma investigação iniciada em janeiro pela Desarme (Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos), com o objetivo de mapear o tráfico de armas no estado. De acordo com o delegado Marcus Amin, titular da especializada, a proximidade com a Baía de Guanabara indica que essas armas chegaram à comunidade por via marítima.

Além da especializada, participaram da ação desta quinta-feira homens da DRFC (Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas) e da Core, além da Polícia Militar.

"Nessas comunidades às margens da Baía de Guanabara, há uma disputa territorial que não se explica pela venda de drogas em si, mas por ser um entreposto", avaliou Marcus Amim, delegado titular da Desarme e responsável pela investigação.

A Polícia Civil não divulgou uma estimativa de quanto valem as armas apreendidas. Segundo Amim, um fuzil calibre 762, como algumas das armas encontradas nesta quinta-feira (18), custa entre R$ 35 mil e R$ 50 mil no mercado ilegal, enquanto metralhadoras calibres 30 e 50 custam ainda mais caro.

Para ele, a investigação, que deve resultar em novas operações, mostra que os verdadeiros beneficiados pelo tráfico de armas e drogas se comportam como empresários. "Quem realmente lucra com o narcotráfico não mora em barraco dentro de favela", resumiu.

Witzel ironiza críticas à política de segurança

Antes da chegada do governador Wilson Witzel (PSC) à entrevista onde as amas foram apresentadas, as polícias montaram um cenário inusitado. As dezenas de armas foram apoiadas na bancada em que ficariam as autoridades, e um policial militar com um cão farejador foi convidado a entrar. Antes de falar com os jornalistas, Witzel passou em revista às armas, trocando impressões com seus auxiliares.

Com Witzel chegaram os secretários de Polícia Civil, Marcus Vinicius Braga, e de Polícia Militar, coronel Rogério Figueiredo, além de delegados e oficiais da PM. Quando todos se sentaram, as armas despencaram no chão, dando um susto nos presentes. Policiais foram instados a arrumar o cenário às pressas. O governador ainda solicitou que os oficiais da PM que assistiam na plateia ficassem de pé, atrás dele e de seus secretários.

O governador destacou o trabalho integrado das duas polícias e elogiou a diretriz --dada por ele próprio-- de priorização das investigações de lavagem de dinheiro por parte das delegacias especializadas do estado. Seguindo no tom das declarações dadas por ele desde a campanha, Witzel ironizou os críticos de sua política de segurança.

"Essas armas que estão aqui não são armas utilizadas por pessoas que moram na comunidade e são trabalhadoras. Não são armas usadas por pretos, pobres e favelados. São armas usadas por terroristas, que usam a comunidade como escudo", afirmou.

O governador voltou a defender o abate de criminosos --posição criticada por especialistas e sustentada por ele desde que foi eleito, em outubro de 2018.

"O recado está dado: não enfrente a polícia. Se enfrentar só há dois caminhos: ser preso ou ser morto", pregou.

Armas eram usadas em guerras e roubos de carga

De acordo com o delegado Marcus Amim, responsável pela investigação que embasou a ação conjunta, as armas foram encontradas em dois endereços diferentes. A maior parte delas foi encontrada pelo Batalhão de Ações com Cães em um porto seco (espécie de terminal logístico comum em zonas portuárias) na Nova Holanda.

Com o auxílio de cães farejadores, os policiais fizeram buscas no local, que armazenava aproximadamente 500 contêineres. Em três deles estavam as armas e drogas utilizadas pelo Comando Vermelho --maior facção de traficantes do Rio, que controla a Nova Holanda e o Parque União.

As armas eram uma "caixinha", uma espécie de reserva bélica mobilizada pelos chefes da facção para guerras com quadrilhas rivais. Elas pertenciam ao traficante Miro, um dos chefes do Comando Vermelho na Maré, que tem comandado invasões a comunidades na Baixada Fluminense.

"Ele mantinha uma disputa intensa de território em São João de Meriti, então a gente acha que vai haver uma queda nos índices de homicídios naquela região", explicou.

Oito armas foram encontradas em um paiol do tráfico no Parque União. Elas eram mantidas em uma casa abandonada dentro de um fundo falso e eram utilizadas pelo criminoso conhecido como Mario Bigode para realizar roubos de carga na região.

O entorno do Parque União é considerado estratégico por ficar às margens das principais vias expressas da cidade --a comunidade é vizinha da avenida Brasil e também fica perto das linhas Amarela e Vermelha.

Histórico

Em março, a Polícia Civil encontrou na casa de um amigo de Ronnie Lessa, denunciado como autor das mortes de Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, 117 peças de fuzis --um recorde na história do estado.

A lista das grandes apreensões de fuzis no Rio também inclui a captura de 60 fuzis de guerra no terminal de cargas do aeroporto do Galeão, na zona norte do Rio, há dois anos.