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Suposta dupla do PCC é presa acusada de espionar presidente do Paraguai

Da esquerda para direita, Hiago Araujo Souza e Gustavo De Sant"Anna - Divulgação/Polícia Nacional do Paraguai
Da esquerda para direita, Hiago Araujo Souza e Gustavo De Sant'Anna Imagem: Divulgação/Polícia Nacional do Paraguai

Rafael Ribeiro

Colaboração para o UOL, em Campo Grande (MS)

22/08/2019 14h29Atualizada em 22/08/2019 19h45

Dois homens suspeitos de integrarem o alto escalão do PCC (facção criminosa que controla o tráfico de drogas e armas nas fronteiras de Mato Grosso do Sul) foram presos na noite de terça-feira, acusados pela Polícia Nacional do Paraguai de espionarem o presidente do país vizinho, Mario Abdo Benítez, seu esquema de segurança e até as rotas de entrada e saída do Palácio Nacional, na capital Assunção.

A informação completa veio à tona ontem, após a Superintendência da Polícia Federal de Ponta Porã (MS), cidade fronteiriça com o Paraguai, receber um documento do governo vizinho pedindo a extradição da dupla, de 29 e 23 anos.

A reportagem apurou que um deles, Hiago Araujo Souza, tinha recompensa de R$ 1 mil oferecida pela PF. Ele está foragido desde fevereiro, quando foi preso após ser acusado de executar um comerciante em Cordeiro, cidade na região serrana do Rio de Janeiro.

Na ocasião, Souza foi capturado pela PF na região de fronteira de Foz do Iguaçu (PR) e transferido para a carceragem de uma delegacia da Polícia Civil da cidade, onde acabou escapando.

Diz a polícia que Souza foi cooptado pelo PCC para identificar possíveis membros de facções rivais, principalmente o Comando Vermelho, que tem bases no Rio, que queiram fazer negócios de drogas e armas no Paraguai. Segundo a PF, estabelecido em Assunção, ele passou a atuar como uma espécie de "agente de campo" após o massacre que deixou pelo menos dez mortos após confrontos entre a quadrilha fundada em SP e a Clã Rotela, grupo formado após a união dos paraguaios nos presídios.

Desde fevereiro, após a transferência dos principais líderes para penitenciárias federais, o PCC vem buscando aumentar o controle nas instituições penais paraguaias.

Já foi revelado que mais de 15 integrantes da facção foram presos por planos de resgate de lideranças que cumprem pena em penitenciárias do país vizinho.

Planos

Em entrevista coletiva, o ministro do interior paraguaio, Juan Ernesto Villamayor, disse que os brasileiros estavam tirando fotos. Mas investigações da Polícia Nacional local mostram que o trabalho já durava mais de uma semana. A suspeita é que planejavam um atentado ao chefe de estado vizinho.

A prisão foi feita por agentes da Divisão de Investigações Criminais da Policia Nacional no momento em que ambos tiravam fotos da segurança pessoal de Benítez, em frente ao palácio.

De acordo com o comissário de polícia, Felix Ferrari, os brasileiros estavam com licença expedida pela Direção de Imigração Paraguaia com validade de 90 dias, mas a suspeita é que o documento é falso.

A dupla está à disposição dos investigadores da Direção de Imigrações, e devem ser entregues hoje às autoridades brasileiras após serem expulsos do Paraguai.

Crise da segurança

Segundo o site paraguaio ABC Color, 90% dos presos nas penitenciárias do Paraguai são de alguma facção criminosa, sendo que só do PCC teria um total de 400 presos brasileiros, que devem ser expulsos do Paraguai.

Surgido após a execução de Jorge Rafaat em junho de 2016, o Clã Rotela é a maior facção criminosa em atividade no Paraguai, formado basicamente por nativos que querem reestabelecer o controle do tráfico de drogas.

Atualmente atua principalmente na venda de entorpecentes em bairros pobres das grandes cidades vizinhas, mas vem aumentando o poder de penetração nas penitenciárias.

A polícia local descobriu recentemente planos de ataques nas cidades de fronteira com Brasil e Bolívia, atualmente dominadas pelo PCC, com o objetivo de criar rotas de comércio de maconha e cocaína com grupos rivais ao da quadrilha paulista.