"Era o coração da paróquia": fiéis se despedem de padre assassinado no DF
O corpo do padre Kazimerz Wojn, de 71 anos, assassinado no último sábado, foi velado e enterrado hoje no cemitério da Asa Sul, centro de Brasília. Segundo fiéis, o religioso gostava de botar a mão na massa. Foi ele que construiu a Paróquia Nossa Senhora da Saúde, onde foi estrangulado. Em sua última missa, pregou sobre a bondade e denunciou sobre a violência na capital.
Casemiro, como era conhecido na comunidade, nasceu na Polônia e se mudou para o Brasil em 1980. Estava no sacerdócio há 46 anos. Ivanildes Gonzaga, frequentadora da igreja, disse que o padre estava sempre disposto a melhorar a paróquia e que tinha medo da violência.
"Apesar da idade ele era forte, carregava cimento, materiais de construção. Foi o Casemiro que colocou essa igreja de pé. A ficha ainda não caiu, ainda acho que vou entrar na igreja e encontrá-lo rezando. Ele era o coração da paróquia", disse a aposentada.
Além de celebrar missas diariamente na paróquia, Casemiro também conduzia orações para pacientes, familiares e servidores, todas as quartas-feiras à tarde, na Capela Nossa Senhora de Fátima, no térreo do Hospital Regional da Asa Norte (Hran).
Segundo a Secretaria de Saúde, antes e depois da celebração eucarística, ele visitava doentes em diversos setores do hospital, principalmente na Unidade de Terapia Intensiva. O religioso prestava assistência espiritual aos pacientes e, sempre que solicitavam o sacramento da Unção dos Enfermos, independentemente da hora, ele se deslocava da Paróquia até o hospital.
Casemiro era apaixonado por fotos, segundo os frequentadores da paróquia. Ele sempre era visto com uma câmera fotográfica no pescoço e gostava de registrar casamentos e celebrações da igreja. "A ficha de todos nós ainda não caiu. Vai ser difícil vir à igreja e não ver o padre. Não da pra acreditar que um homem de tão boa índole se foi dessa forma brutal. Ele não deveria ter passado por isso", lamentou Juliana Lopes.
Patrícia foi na última celebração do padre. Ela contou que ele estava preocupado com a violência, já que abordou o assunto durante à missa. Segundo ela, Casemiro havia comprado câmeras de segurança, mas não teve tempo de instala-las na paróquia.
"Ele estava pressentindo algo. Tinha medo da violência, porque a igreja já era alvo de bandidos há algum tempo. Infelizmente foi mais uma tragédia anunciada. Judiaram muito dele", disse a fiel Patricia Machado da silva
Homenagens
Durante toda a manhã de hoje a paróquia celebrou missas em homenagem ao padre. O governador do Distrito Federal Ibaneis Rocha esteve presente. Ele decretou luto oficial de três dias pela morte violenta do religioso.
"Este é um momento de pesar para toda a família brasiliense, especialmente os paroquianos da Paróquia de Nossa Senhora da Saúde. O assassinato do padre Casemiro, um homem de paz, amado e admirado por todos, não só choca como nos leva a refletir sobre a sensação de insegurança que recai sobre todos nós. Expõe uma dura realidade que precisamos enfrentar com determinação. Por mais preparada e equipada que esteja a polícia, por mais rigorosas que sejam as leis, a criminalidade violenta expõe sua face onde e quando menos esperamos", disse.
Segundo o governador, a violência deixou de ser um problema localizado e que o combate à criminalidade deve ser encarado como prioridade. "A sociedade precisa de paz. Não iremos tolerar que o cidadão ou cidadã se torne refém de criminosos dentro de sua própria casa. Que Deus receba a sua alma, conforte os seus familiares e paroquianos e nos ilumine nesse esforço de garantir a tranquilidade da população", concluiu.
Crime
A Polícia Civil acredita que quatro homens fizeram uma emboscada e atacaram Kazimerz Wojn. Ele foi encontrado com um arame farpado enrolado no pescoço, além de estar com os pés e mãos amarrados.
O caso é investigado pela 2ª Delegacia de Polícia, na Asa Norte. Segundo o delegado Laercio Rossetto, o crime aconteceu entre 18h40 e 21h40, depois que o padre celebrou a missa. Eles já estavam esperando Casemiro e o renderam próximo à obra de reforma da casa paroquial. Vários objetos da igreja foram roubados. O caseiro José Gonzaga da Costa, de 39 anos, também foi imobilizado no local e conseguiu pedir socorro. Ele sofreu machucados nos braços e nas mãos e foi levado para o Hospital Regional da Asa Norte.
"Eles arrombaram mais de um cofre, deixaram alguns objetos pra trás. Conseguimos imagens de câmeras de segurança e a perícia já foi feita. O que dá pra se afirmar é que houve um latrocínio", explicou o delegado.
Não é novidade que a Paróquia Nossa Senhora da Saúde é alvo de bandidos. Na Pascoa deste ano, o sacrário da igreja, avaliado em R$ 20 mil, foi furtado e depois encontrado sendo negociado em um ferro-velho em Samambaia. Em fevereiro, todas as caixas de som tinham sido levadas e o prejuízo foi estimado em R$ 10 mil.
"Cansamos de denunciar pra polícia os inúmeros furtos, arrombamentos. O padre foi uma vítima da violência do DF que não tem fim. Agora, ele morreu de uma forma brutal, por bandidos que não tem medo de nada", disse Laercio Lima, frequentador da paróquia.
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