RJ: casal acusa motorista de Uber de racismo; empresa bloqueia colaborador
Um casal carioca de negros denunciou à polícia no último dia 17 um motorista do aplicativo Uber por racismo. Os produtores de conteúdo digital ainda gravaram um vídeo e publicaram na internet para relatar o caso. A empresa bloqueou o motorista, cuja identidade não foi divulgada, e disse que vai colaborar com as investigações (leia mais abaixo).
De acordo com a denúncia, João Batista, 28, e Matheus Barcelos, 25, estavam em uma corrida no dia 15 havia cerca de cinco minutos quando o motorista, chamado por eles de Jurandir, parou o veículo em frente a uma viatura da Polícia Militar e alertou que havia dois "suspeitos" no carro.
João explica que os dois saíram de um evento de música na região portuária do Rio e estavam somente com uma pochete, que continha documentos, cartões, escova de dentes e celular. O destino da viagem era São Gonçalo, região metropolitana do Rio, onde moram familiares de Matheus. De acordo com o João, alguns motoristas já tinham cancelado a viagem ao perguntar o destino.
"Quando ele aceitou e chegou, a gente sentiu que era simpático: deu boa noite, perguntou para onde iríamos e a viagem seguiu. Pouco depois, ele parou na primeira viatura que viu, se jogou do carro e falou que tinha dois suspeitos dentro. A gente ficou sem entender, porque não tinha feito nada, só dado boa noite", relata João.
Após a indicação de suspeita do motorista, João diz que, junto com Matheus, viveu momentos de pânico. Sob a mira de um fuzil, os dois foram revistados pelos policiais militares e sentiram medo de morrer:
"Foi Deus quem protegeu a gente. Tivemos que sair do carro de mãos para cima, com todo o cuidado do mundo, porque naquele momento não sabíamos o que poderia nos condenar, qualquer movimento brusco poderia ser um problema".
Quando os policiais perceberam que o casal só portava itens pessoais e, portanto, não representava ameaça, João e Matheus decidiram gravar a placa e o rosto do motorista, com objetivo de denunciá-lo na internet. Naquele momento, de acordo com eles, o que ouviram foi deboche do condutor. "Ele repetia 'estão nervosos por quê? Quem não deve não teme'. A gente ficou apavorado, com vontade de chorar, um desespero", relembra João.
Juntos desde 2016, João e Matheus são produtores de conteúdo digital e têm uma empresa de marketing. Também por isso, a primeira coisa que pensaram em fazer foi publicar o vídeo nas redes sociais.
"No calor da emoção, a gente só pensa em fazer o que está ao nosso alcance, e pensamos na internet", explica João. No vídeo, é possível ouvir o motorista dizendo "eu tive medo, me perdoa".
Uber diz que motorista foi bloqueado; casal pretende processar
Com o conteúdo viral, a Uber entrou em contato com o casal cerca de 12 horas depois da publicação. Para João, a demora também foi um problema.
Em nota, a empresa afirmou que entrou em contato quando soube da denúncia, "para prestar o apoio necessário". A plataforma informou que o motorista foi bloqueado e que está à disposição das autoridades policiais para ajudar nas investigações. "A Uber entende que o preconceito, infelizmente, permeia a nossa sociedade e que cabe a todos combatê-lo", também diz o texto.
Apesar disso, João e Matheus estão decididos a processar não só o motorista como também o aplicativo: "A Uber que é responsável. Eles deveriam ter um certo tipo de triagem e preparo para capacitar os funcionários deles", avalia João.
Mas para ele, o que aconteceu no último dia 15 foi racismo e não há dúvidas. "Eu tenho certeza que não seria a mesma coisa se fossem pessoas brancas. Muitos na internet estão falando que qualquer um pode ser suspeito hoje em dia, mas discordo. Não é a nossa primeira experiência com racismo e, infelizmente, temo em dizer que não foi a última".
E finaliza: "Não queremos exposição, nem ganhar dinheiro com processo, só queremos mesmo nossos direitos".
O UOL entrou em contato com o motorista. Um familiar atendeu e disse que ele não está em condições de se manifestar, mas que dará à polícia sua versão sobre os fatos. O parente pediu que ele e o motorista não sejam identificados.
Investigações
O caso foi registrado na Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância) do Rio de Janeiro. O titular da especializada, Gilberto Stivanello, disse ao UOL que casos como o denunciado pelo casal não chegam em grande volume na unidade, são mais escassos, mas destacou que casos de intolerância religiosa dentro de aplicativos de transporte acontecem com frequência.
"Tem acontecido com usuários quando estão com vestimenta de candomblé, com recusas e ofensas por parte dos motoristas. Nós temos indiciado os responsáveis."
Segundo Stivanello, os próximos passos do inquérito aberto após denúncia de João e Matheus incluem ouvir o motorista, os policiais que foram abordados por ele e o próprio casal. O delegado também reforçou que aplicativos de transporte têm sido ágeis ao ajudar na investigação.
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