Vítima diz reconhecer suspeito que afirma inocência, mas 'voz é diferente'
O consultor Clayton Medeiros, 34, que teve o celular roubado por dois homens em julho em São Paulo, não recuperou o aparelho, mas diz estar satisfeito de ter tirado das ruas "dois ladrões" e reafirma ter feito o reconhecimento fotográfico e pessoal: "Não colocaria um inocente na cadeia", disse.
Luiz Antonio Gomes da Silva, 20, foi detido por policiais militares duas horas após o crime. Lucas Vital e Silva, preso na frente de casa, cinco dias depois. "Te falo com toda certeza que eram eles. Se eu tivesse um resquício de dúvida, eu falaria: não tenho certeza", afirmou Medeiros à reportagem.
Medeiros viu as imagens publicadas pelo UOL que mostram Silva no bairro do Jabaquara conversando (com textos, fotos e áudios) com a namorada no mesmo horário do roubo, ocorrido a pelo menos 2,5 quilômetros de distância. Pelas imagens e pelas conversas, é improvável que ele tenha estado no local do crime.
Ao se atentar às imagens, a vítima disse ter encontrado uma "coisa estranha".
"A voz dele não se parece com a do criminoso. O que parece: Parece que colocaram a foto dele num celular qualquer, pegaram a conversa de um cara qualquer, mostraram para você e disseram que era ele", afirmou.
Na casa da família de Vital e Silva, a reportagem viu o celular fisicamente. Havia áudios enviados pela mesma voz em outras conversas, além de notificações recebidas no Facebook pessoal do jovem.
"No reconhecimento, pedi para ele colocar o boné. Sem o boné, eu já tinha reconhecido. Com boné, eu falei: é ele. Eu estou me sentindo injustiçado, inclusive, como se eu fosse o criminoso, não ele. Eu olhei de frente. Tenho 101% de certeza que foi que ele", disse Medeiros.
O celular nunca foi periciado. A família de Vital e Silva informou que o aparelho está à disposição para ser averiguado a qualquer momento. Procurados, MP (Ministério Público) informou que "a manifestação será dada nos autos nas hipóteses legais" e a SSP (Secretaria da Segurança Pública) não se manifestou até esta publicação.
Família é ameaçada por PMs
A consultora Elaine Cristina Lídia Vital, 43, mãe de Lucas Vital e Silva, disse que a família foi ameaçada no fim da manhã de hoje por dois policiais militares. A Corregedoria apura a denúncia e enviou policiais à casa da família para colher depoimentos.
A ameaça ocorreu um dia depois de o UOL publicar que Silva está preso desde 31 de julho. As polícias militar e civil, MP (Ministério Público) e TJ (Tribunal de Justiça) ignoraram as mensagens trocadas e vídeos de câmeras de segurança da região do assalto, que indicam que ele não estava no local do crime.
"A represália está cada vez pior. Neste exato momento [11h28], a viatura M-03003 parou na porta de casa. Gritando com a minha mãe e meus sobrinhos. Pelo amor de Deus", escreveu a mãe em mensagem enviada à reportagem. A viatura é do 3º BPM (Batalhão da Polícia Militar). Trata-se de uma companhia de Força Tática localizada no bairro Vila Guarani, zona sul da capital paulista.
Em áudio, a mãe acrescentou: "Gritando enlouquecido o policial Osvaldo. Eram dois da Força Tática. Tiraram meu sobrinho de dentro do bar [que fica na garagem da casa]. A minha família começou a gritar com eles". E complementou: "[Os policiais] pediram para o Jefferson [vizinho que foi abordado junto com Lucas] ir buscar o RG. De repente, os dois PMs entraram no carro e foram embora. Nem pegaram a numeração. Entraram [na casa], gritaram horrores com a minha mãe."
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