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Quem era Capoeira, o guardador de carros que viralizou ao ajudar idosa

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

24/06/2020 14h15

No ano passado, a família de Varlei Rocha Alves, 51, o Capoeira, começou a sonhar com uma vida melhor, após o guardador de carros arrecadar R$ 170 mil em uma vaquinha virtual. O dinheiro foi usado para a compra de duas casas no bairro da Pavuna, na zona norte do Rio: Uma para Capoeira e o filho Darlei, e outra para a irmã Claudilene Rocha Santos.

As doações arrecadadas por Valei foram organizadas pelo site Razões para Acreditar, após o flanelinha viralizar na web em um vídeo onde aparecia ajudando uma idosa a atravessar uma rua alagada em Copacabana. Ontem, o site informou a morte de Capoeira. O guardador de carros sofreu uma parada cardiorrespiratória no dia 7 de maio.

"Ele vivia comigo em um barraco de madeira antes da vaquinha. Passava dias lá por Copacabana. Dormia na rua, dormia no carro, mas quando chegava aqui, chegava cheio de coisa. Guardava roupas de doação para as crianças, conseguia alguns brinquedos também e trazia comida que um mercado descartava, comida fora da validade. Negociava lá com os seguranças, pois eles não podiam doar aquela comida que achavam que estava estragada. Era comida ruim para os ricos, mas para nós, pobres, estava boa e ele chegava com tudo isso. Ficavam com dó dele e deixavam ele pegar", contou Claudilene em entrevista ao UOL na manhã de hoje.

O relacionamento entre os irmãos sempre foi forte. Claudilene cuida de Darlei desde que o filho de Capoeira era bebê. A mãe do garoto morreu após ser atropelada quando o menino tinha 5 meses. Hoje, ele está com 11 anos.

E Claudilene lamenta que, apesar de realizar o sonho de oferecer uma casa própria à família, Capoeira não tenha investido mais em si mesmo. "Ele cuidou mais da gente do que dele".

Segundo ela, Varlei era analfabeto e dependente químico. A irmã lamentou que o flanelinha não tenha usado os recursos doados para estudar ou se tratar.

"Sem dúvida a casa foi uma grande ajuda, mudou nossa situação, mas ele não ajudou ele próprio. Meu irmão teve de tudo para mudar de vida e não conseguiu, infelizmente. Quem é viciado não entende que precisa de ajuda, acha que larga [as drogas] quando quiser".

Morte súbita

No dia 7 de maio, Capoeira foi levado para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Costa Barros, na zona norte, após passar mal. Segundo Secretaria Municipal de Saúde, o guardador de carros chegou a receber manobras para ressuscitação, mas não resistiu.

Capoeira guardador de carros - Taís Vilela/UOL - Taís Vilela/UOL
Varlei Rocha Alves, o Capoeira, deixa um filho de 11 anos
Imagem: Taís Vilela/UOL

A boa ação

O caso ocorreu em abril do ano passado, em Copacabana, na zona sul do Rio, em um dia de temporal. Nas imagens que circularam pela internet, Capoeira aparece improvisando uma ponte com caixotes e ajudando uma idosa cruzar a rua alagada.

Após a boa ação repercutir na internet, o site Razões para Acreditar organizou uma vaquinha virtual para recompensar Capoeira. A meta era arrecadar R$ 40 mil para ajudar o guardador de carros a comprar uma casa. No entanto, a iniciativa arrecadou R$ 170 mil.

Claudilene acredita que todo o dinheiro arrecadado com as doações foi gasto. A compra das duas casas somou R$ 80 mil. Hoje, ela, Darlei e os cinco filhos vivem com ajuda emergencial de R$ 600 do governo.

"Esse dinheiro da vaquinha era dele. Nunca quis ficar me metendo muito nisso. Só aconselhava ele, mas ele não me ouvia. Queria que tivesse aproveitado essa segunda chance que a vida estava lhe dando. Varlei era analfabeto, podia ter estudado, mas achou que estava velho para começar, poderia ter se tratado e também não fez", lamentou a irmã.